SUBPROJETO:
coral-sol

SUBPROJETO O CONTROLE DO CORAL-SOL E A CONSERVAÇÃO MARINHA

O Subprojeto O Controle do Coral-Sol e a Conservação Marinha foi realizado nos anos de 2017 a 2019 pelo Instituto Brasileiro de Biodiversidade (BrBio). Também chamado de Coral-Sol, o Subprojeto teve como objetivo principal avaliar a metodologia de manejo utilizada para o controle desta espécie de coral, monitorar e analisar o risco da sua invasão em áreas litorâneas do estado do Rio de Janeiro, além de promover a sensibilização, a educação ambiental e a conservação marinha.

Por que fazer?

O Projeto Coral-Sol, uma iniciativa socioambiental do BrBio, foi criado em 2006 para preservar a biodiversidade marinha brasileira por meio do controle do coral do gênero Tubastraea1 Até o momento, duas espécies de coral-sol foram encontradas no litoral brasileiro, Tubastraea coccinea e Tubastraea tagusensis, as quais são nativas do Oceano Pacífico.

O gênero Tubastraea spp foi registrado pela primeira vez no Brasil na década de 80 em plataformas de petróleo na Bacia de Campos, e hoje encontra-se amplamente distribuído e em expansão na costa brasileira. Atualmente, o coral-sol é encontrado em mais de 20 municípios, ao longo de mais de 3.000 km da costa brasileira, sendo registrado desde Santa Catarina até o Ceará. Este coral vem causando sérios impactos ecológicos, econômicos e sociais, conflitando com um meio ambiente saudável, sendo comprovadamente nocivo às populações e comunidades nativas.

A bioinvasão2 é considerada uma das principais ameaças à diversidade e ao funcionamento dos ecossistemas marinhos. Ao colonizarem novos ambientes, os organismos invasores podem modificar a composição e a estrutura das comunidades marinhas. A dominância de uma ou poucas espécies invasoras coloca em risco a sobrevivência de espécies nativas e afeta diretamente a cadeia produtiva dos ecossistemas marinhos.

Uma das principais implicações socioeconômicas das espécies exóticas invasoras é o impacto negativo na produção de renda de atividades relacionadas ao ambiente marinho, como a pesca e o turismo. Por exemplo, o mexilhão Perna perna, espécie da fauna local, vem sendo substituído pelo coral-sol na Baía de Ilha Grande.

O Projeto Coral-Sol (PCS) vem apoiando pesquisas científicas, alertando a sociedade sobre a temática de espécies invasoras e envolvendo as comunidades locais para o combate do coral-sol, capacitando e auxiliando órgãos ambientais competentes para a necessidade de prevenção e manejo dos corais invasores T. coccinea e T. tagusensis. Por meio do programa de recuperação ambiental, esse Projeto já removeu do ambiente mais do que 230 mil corais-sol (cerca de 8,3 T). O manejo desse coral invasor tem sido feito por coleta manual realizada por mergulhadores capacitados, usando protocolos desenvolvidos pelo PCS. Estudos experimentais, que visam aprimorar técnicas de manejo do coral-sol, mostraram que ele morre após imersão em água doce.

Com apoio de diversos parceiros, o PCS já realizou mais de 160 ações de manejo no litoral brasileiro. Tais ações foram realizadas, principalmente, com a ação dos “catadores de coral-sol” na Baía da Ilha Grande. As ações de manejo, além de reduzirem a pressão de propágulos3 de larvas, diminuem a quantidade de coral-sol, contribuindo desta maneira para o controle dos invasores. Por exemplo, na Estação Ecológica de Tamoios4, na Baía da Ilha Grande, foi detectada uma diminuição do coral-sol, inclusive a erradicação total em uma das ilhas da Unidade de Conservação, após ações de remoção manual desses corais.

Diante desse cenário, a pesquisa realizada nesse Subprojeto deu continuidade às ações já realizadas pelo Projeto Coral-Sol, fornecendo novas informações relevantes para o desenvolvimento de estratégias eficazes de manejo, contribuindo para aprimorar os métodos de manejo e minimizar o risco de invasão em áreas onde não foram detectadas sua presença. Ações de educação ambiental no estado do Rio de Janeiro também foram realizadas, uma vez que a sensibilização e a participação da sociedade no processo de controle do coral-sol são fundamentais.

Como foi realizado?

As atividades desenvolvidas pelo Subprojeto estavam relacionadas aos objetivos específicos da pesquisa.

O Subprojeto avaliou metodologias de manejo em três regiões do estado do Rio de Janeiro, monitorou a distribuição do coral-sol e seus efeitos sobre as comunidades bentônicas, assim como avaliou o risco de invasão em áreas ainda não impactadas pelo coral-sol.

Além disso, promoveu a sensibilização e a participação da sociedade no processo de controle do coral-sol, por meio de palestras e oficinas de capacitação para gestores ambientais, mergulhadores e da exposição itinerante para o público variado.

Principais resultados:

Os principais resultados e produtos gerados foram no sentido de promover a conservação e sustentabilidade da biodiversidade nos ambientes costeiros e marinhos no estado do Rio de Janeiro. A seguir, conheça alguns desses resultados:

· Foi realizado um Encontro Interno na UERJ com a presença dos pesquisadores e educadores do Subprojeto, os quais apresentaram as atividades realizadas e os resultados gerados. Foram discutidas as implicações dos resultados obtidos para o avanço no conhecimento, engajamento da sociedade na temática da invasão de espécies e planejamento de estratégias de manejo do coral-sol.

· Três locais foram definidos para a implantação do experimento, com condições abióticas e bióticas diferentes: Ilha Comprida (Arquipélago das Cagarras, RJ), Ilha de Âncora (Armação dos Búzios) e Enseada do Bananal (Ilha Grande, Angra dos Reis). Foram realizadas campanhas amostrais em cada local.

· Observou-se que as comunidades bentônicas dos três locais estudados são diferentes em termos de composição e abundância relativa dos grupos taxonômicos. Inclusive, em um dos locais (Ilha Comprida, Arquipélago das Cagarras, RJ) só uma espécie de Tubastraea (T. tagusensis) foi registrada.

· Com relação à análise da eficiência do manejo, observou-se que o método de remoção repetida mostrou significativa eficiência na diminuição da população dos invasores para zero em todos os locais estudados. Os demais métodos (remoção de um único indivíduo e remoção da comunidade) foram eficientes para o controle e podem ser utilizados em locais onde a colonização é recente. De forma geral, os resultados mostraram que o método de remoção repetida é recomendável para locais de maior abundância de coral-sol, enquanto o método de remoção única pode ser utilizado para locais de baixa abundância.

· Não houve diferença significativa entre o número de larvas coletadas no plâncton antes e durante o manejo em nenhum dos três locais de estudo. Este resultado aponta que a remoção de colônias de coral-sol não estimula a liberação de larvas.

· A composição da ictiofauna críptica8 variou entre os três locais de estudo, com cada local apresentando uma família dominante. A abundância de peixes crípticos parece não ter uma relação clara com a porcentagem de cobertura de coral-sol, enquanto há uma tendência de maior abundância de peixes pelágicos9 em áreas sem coral-sol ou com baixa porcentagem de cobertura.

· Houve o desenvolvimento de um sistema para armazenamento de informações sobre registros de ocorrência do coral-sol, localização geográfica, profundidade e características das colônias. A Plataforma digital contendo os dados do BNRM Coral-Sol foi desenvolvida e colocada no ar (www.bioinvasaobrasil.org.br).

· Foram definidos os locais para a realização do monitoramento do coral-sol nas regiões do Rio de Janeiro e Niterói, Região dos Lagos (Arraial do Cabo, Cabo Frio e Armação dos Búzios) e Baía da Ilha Grande (Angra dos Reis e Paraty).

· Foram elaborados mapas com a distribuição das espécies de T. coccinea e T. tagusensis e sua abundância relativa (escala DAFOR10). A Baía da Ilha Grande foi a região de maior nível de infestação de coral-sol, com 100 dos 153 pontos infestados e com índice de abundância relativa maior do que nas outras regiões estudadas. No litoral do Rio de Janeiro e Niterói, a presença de coral-sol foi registrada em 3 dos 34 pontos monitorados por DAFOR Raso e em 5 dos 20 pontos mapeados com DAFOR Fundo. A abundância de Tubastraea spp. foi relativamente baixa nos pontos onde foram encontrados na região (pontos classificados como raro ou ocasional). Vale destacar que em todos os casos a presença foi registrada em ilhas. Na Região dos Lagos, 19 dos 45 pontos monitorados por DAFOR Fundo estavam infestados com Tubastraea spp e o único local com dominância de corais-sol foi encontrado em Armação dos Búzios (Ilha de Âncora). Na maioria dos pontos monitorados, os corais T. tagusensis se mostraram mais abundantes que T. coccínea.

· A comunidade bentônica encontrada nas duas regiões estudadas apresentou estrutura e riqueza diferenciadas. As comunidades na Região dos Lagos apresentaram um maior número de espécies (46) do que as da Estação Ecológica de Tamoios (32), na Baía de Ilha Grande. Além disso, as espécies de maior abundância na Região dos Lagos foram em geral as macroalgas, enquanto que o zoantídeo Palythoa caribaeorum exibiu alta abundância na Estação Ecológica de Tamoios. Em contrapartida, a densidade de corais Tubastraea spp. em locais com alta abundância foi pelo menos 10 vezes maior na Baía de Ilha Grande. Este resultado indica que a presença do coral-sol modifica a estrutura da comunidade: nas áreas onde ele está presente há uma alteração de aproximadamente 50 % na composição e abundância de espécies.

· Foi observado que a ocorrência de múltiplos eventos de invasão aumenta a pressão de propágulos e pode levar a um aumento da diversidade genética nas localidades invadidas, aumentando a chance de estabelecimento, sobrevivência e dispersão das espécies invasoras.

· Palestras foram ministradas nas embarcações que levavam mergulhadores durante 7 saídas de operadoras de mergulho nos municípios do Rio de Janeiro, Cabo Frio, Arraial do Cabo e Angra dos Reis. Com o auxílio dos cartazes elaborados pelo Subprojeto, os educadores abordaram os temas: biodiversidade marinha, recifes rochosos, espécies invasoras e ciência cidadã. Foram realizadas cerca de 65 registros de ocorrência de coral-sol foram feitos por mergulhadores.

· Diferentes atividades foram realizadas: Exposição MAR (Armação dos Búzios), uma série de Palestras sobre o Projeto Coral-Sol na Escola Municipal Paulo Freire (Armação dos Búzios), Oficinas para a Formação do Coletivo Jovem Coral-Sol (Armação dos Búzios), Campeonato de Fotografia Subaquática Beleza Fatal em parceria com a Associação Brasileira de Imagens Subaquáticas (ABISUB) (Angra dos Reis), Semanas da Bioinvasão em 2017 e 2018 no AquaRio, em parceria com o Aquário Marinho do Rio de Janeiro, Semana da Bioinvasão na Ilha Grande, com Palestras nas Escolas e Exposição no Centro de Visitantes do Parque Estadual da Ilha Grande (Vila do Abraão, Ilha Grande, Angra dos Reis). Ao todo, estas atividades alcançaram 36.446 pessoas.

· A Oficina de Construção de Estratégias de Manejo de Coral-Sol para Gestores de UCs do Estado do Rio de Janeiro foi realizada no dia 11 de abril, no Auditório da SEAS (Secretaria de Estado de Ambiente e Sustentabilidade). A Oficina contou com 30 participantes, entre gestores de UCs Municipais, Estaduais e Federais e gestores do INEA (incluindo membros da Gerência Estadual de Unidades de Conservação (GEUC), SEAS e IBAMA. A Oficina foi uma importante oportunidade de interação, troca de experiências e informações e de construção de estratégias de manejo desta espécie invasora que vem causando danos à biodiversidade do estado do RJ.

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