SUBPROJETO:
ecorais

SUBPROJETO SAÚDE E CONSERVAÇÃO DOS HABITATS CORALÍNEOS DA ARMAÇÃO DOS BÚZIOS

O Subprojeto Saúde e Conservação dos Habitats Coralíneos da Armação dos Búzios, também chamado de Ecorais, foi executado pelo Instituto Brasileiro de Biodiversidade (BrBio) entre 2016 e 2019 e teve como objetivo geral avaliar e monitorar a saúde dos ambientes coralíneos, promover a sensibilização da sociedade e subsidiar informações relevantes para a gestão ambiental da Armação dos Búzios, a fim de garantir o uso sustentável desses ecossistemas marinhos.

Por que fazer?

O município de Armação dos Búzios, situado no norte do estado do Rio de Janeiro, abriga ecossistemas diferenciados, com praias de grande beleza natural, que atraem turistas durante o ano inteiro. Essa área integra um dos 12 centros de diversidade vegetal do Brasil oficialmente reconhecidos por organizações internacionais voltadas para a conservação ambiental, justamente por abrigar uma alta diversidade e vários níveis de endemismo. Considerado um dos destinos mais procurados do Brasil, a Armação dos Búzios recebe aproximadamente 8% dos turistas internacionais que, por ano, visitam o país.

Em 2000, mediante solicitação feita pela Prefeitura de Armação dos Búzios devido à preocupação dos pescadores com os danos causados pela pressão humana nos ambientes coralíneos, foi criado o Ecorais no Laboratório de Ecologia Marinha Bêntica da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), para avaliar a saúde dos corais como indicador da degradação ambiental da Armação dos Búzios. O que gerou diversas informações sobre a comunidade bentônica marinha e as pressões ambientais na região, com destaque para os corais. Também interagiu com os atores locais (comerciantes, governo, moradores e turistas), disseminando conhecimento, engajando e sensibilizando-os sobre a importância de preservação e conservação do ambiente marinho.

A partir do levantamento da biodiversidade marinha realizado em 2000, foi elaborado um mapa detalhado da fauna e flora marinha de 11 costões rochosos de Armação dos Búzios. O papel da Armação dos Búzios como uma região importante para o crescimento de corais foi, novamente, evidenciado, em função do registro da alta densidade, porcentagem de cobertura e tamanho das colônias de corais da região.

As pesquisas sobre a saúde do ambiente nessa região revelaram que metade dos locais estudados apresentava uma situação crítica para os corais, com alta porcentagem de mortalidade parcial das espécies estudadas e que um terço dos costões rochosos estudados possuíam alto grau de estresse ambiental. A percepção de moradores e turistas revelou que eles possuem pouco conhecimento sobre os corais e, além disso, praticam a comercialização e coleta indiscriminada destes organismos.

Os sistemas marinhos costeiros estão entre os ecossistemas mais importantes do mundo em termos ecológicos e socioeconômicos. Estima-se que habitats marinhos proporcionam mais de US$ 49,7 trilhões em bens (por exemplo, alimentos e matéria prima) e serviços (regulação do clima e ciclagem de nutrientes) por ano. Entretanto, existe um forte consenso científico de que os bens e serviços provenientes dos ecossistemas marinhos costeiros encontram-se ameaçados por atividades humanas.

Habitats dominados por corais contribuem para o aumento da produtividade dos ecossistemas marinhos costeiros, desempenhando funções únicas de produção de matéria orgânica e reciclagem de nutrientes, que beneficiam não apenas a fauna local, mas também espécies vágeis5 que os utilizam para se reproduzirou se alimentar. Portanto, esses ambientes são de extrema importância econômica, pois constituem uma enorme fonte de recursos através da pesca de subsistência e comercial. Da mesma forma, ambientes coralíneos são potenciais fontes de compostos medicinais e industriais e oferecem também oportunidades recreativas e educacionais, estimulando, assim, o turismo. Estes ambientes constituem, portanto, fonte de renda para populações que vivem nas áreas costeiras e que dependem diretamente de sua existência.

Estima-se que estes ambientes abriguem cerca de 9% de todo o recurso pesqueiro dos oceanos e que um quarto das espécies de peixes marinhos é encontrado em ambientes recifais. Com isso, a conservação desses sistemas é fundamental para a manutenção da pesca, por constituírem uma importante peça na conexão dos ecossistemas marinhos.

Apesar de sua importância, habitats coralíneos são susceptíveis a uma ampla lista de pressões locais como a sobrepesca e a pesca predatória. A remoção, pela pesca, de grupos de grandes peixes herbívoros, tanto em cadeias tróficas8 tropicais quanto subtropicais, resulta em um decréscimo na taxa de herbivoria9 e, deste modo, aumenta a proliferação de macroalgas que cobrem e sufocam os corais.

Assim, para direcionar adequadamente as ações de manejo e a conservação marinha no país, é fundamental aumentar o conhecimento sobre a distribuição dos organismos e comunidades marinhas para um melhor entendimento dos padrões e processos naturais, decorrentes das atividades humanas. Isto é particularmente importante, uma vez que a maior parte da população brasileira vive em uma estreita faixa adjacente à costa, sendo os habitats costeiros os primeiros a sofrer diretamente com o impacto do crescimento da população.

Ao implementar novas investigações em relação aos corais da Armação dos Búzios, este Subprojeto permitiu uma comparação do estado atual com o estado da comunidade há 16 anos atrás, gerando dados importantes para a avaliação dos impactos antrópicos, com consequências diretas no gerenciamento ambiental da região.

Como foi realizado?

As atividades realizadas no Subprojeto estavam relacionadas aos objetivos específicos da pesquisa e focaram, principalmente, em análises e levantamentos da capacidade de regeneração de corais pétreos, o levantamento da atual saúde dos corais e seu monitoramento ao longo do tempo. Para isso, foi realizada a coleta de fragmentos de corais (saudáveis e não saudáveis) e a realização de análises moleculares e a caracterização ambiental de praias e seu efeito sobre a saúde dos corais, avaliando temperatura da água, luminosidade e taxa de sedimentação.

O levantamento das principais pressões antrópicas foi realizado no período de alta temporada, em 11 locais de estudo, através da quantificação de diversos fatores relacionados a atividades humanas em oito praias localizadas na porção NE da Armação dos Búzios12 (Tartaruga, Canto, Armação, Ossos Esquerdo, Ossos Direito, Azeda/Azedinha, João Fernandes e João Fernandinho).

Para tanto, foram quantificados por hora em toda a extensão da praia: o número de embarcações fundeadas, o número de embarcações móveis, o número de pessoas na areia e no mar e o número de mergulhadores em apneia, fazendo mergulho autônomo ou caça submarina. Além disso, a quantidade de lixo na areia foi levantada no início e no final do dia. Também foram quantificados o número de quiosques na praia, a existência de “línguas negras”, de banheiros e saídas de água residual.

A pesquisa também realizou a caracterização das comunidades bentônicas dos habitats coralíneos através da porcentagem de cobertura de espécies dominantes através de mergulho autônomo em 11 locais ao longo das praias da Tartaruga, Canto, Ossos, Azeda, Azedinha, João Fernandes e João Fernandinho, e da Ilha do Caboclo. Da mesma forma, foi realizado o levantamento de peixes recifais, através de censo visual subaquático, em 11 pontos distribuídos ao longo das mesmas praias.

O Subprojeto contou com diversas ações de divulgação dos resultados da pesquisa junto à sociedade, por meio da elaboração de material informativo/educativo, cursos de capacitação de professores, palestras e produção de vídeo.

Principais resultados:

Foram muitos os resultados do Subprojeto. Ao promover a conservação dos habitats coralíneos, tão essenciais para as comunidades da Armação dos Búzios, o Subprojeto teve uma grande relevância socioeconômica, servindo como modelo para estudos em outras comunidades coralíneas subtropicais no Brasil e no mundo. Abaixo destacam-se os principais resultados:

· Realização do mapeamento da distribuição dos corais, densidade e seu estado atual de conservação.

· Estabelecimento da linha de base da saúde dos habitats coralíneos da Armação dos Búzios com base nos dados existentes para 2000 e 2001.

· Foi constatado que, apesar do alto dinamismo e diversidade das comunidades de corais encontradas, estas se mostraram sensíveis à sazonalidade dos fatores ambientais, aos impactos locais e ao aumento da temperatura da água, levando a distúrbios na estrutura dessas comunidades.

· Estabelecimento da dinâmica temporal do branqueamento dos corais.

· Criação de banco de dados sobre a estrutura populacional e mortalidade dos corais de 2000 e 2016.

· Registro de 75 espécies de peixes em profundidades variando de 1 a 11 metros. As espécies mais abundantes em todo o estudo foram o sabonete verde (Halichoeres poeyi), donzelinha (Stegastes fuscus), sargentinho (Abudefduf saxatilis), cirurgião (Acanthurus chirurgus), barbeiro (Acanthurus bahianus) e as cocorocas (Haemulon aurolineatum, formadoras de cardume

· Constatação de baixa abundância e a ausência dos predadores de topo da cadeia alimentar marinha, como Serranídeos (garoupas) e Carangídeos (xaréu).

· Identificação de espécies de badejo (Mycteroperca bonaci), peixe-papagaio-cinzento (Sparisoma axillare), peixe-papagaio-sinaleiro (Sparisoma frondosum), raia-viola (Zapteryx brevirostris) e a garoupa-verdadeira (Epinephelus marginatus), as quais, junto com o cavalo-marinho-do-focinho-longo (Hippocampus reidi), são consideradas ameaçadas de extinção, na categoria vulnerável pela Portaria nº 445/2014 da Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção – Peixes e Invertebrados Aquáticos, do Ministério do Meio Ambiente.

· O Índice de Pressão Ambiental (IPA) foi calculado para cada ponto de estudo, em cada ano. A comparação do Índice de Pressão Ambiental (IPA) entre locais revelou importantes diferenças espaciais no nível de pressão ambiental na Armação dos Búzios. Observou-se que o local com menor IPA (0,02) foi Tartaruga lado direito e o maior IPA (0,49) foi Ossos lado esquerdo. Tartaruga centro chamou a atenção como o local que mais piorou seu IPA, seguido por João Fernandes. A maioria dos locais estudados apresentou IPA classificado como baixo (IPA = 0- 0,25). O desenvolvimento urbano foi a pressão mais importante para os locais que exibiram IPAs mais elevados como Ossos lado esquerdo, Ilha do Caboclo e João Fernandes. Na Tartaruga lado direito, as atividades recreativas (49 %) e o lançamento de esgoto (34 %) foram as pressões que mais influenciaram no valor do IPA.

· O Índice de Diversidade dos corais estudados foi bem variável nos locais pesquisados, variando entre 3,41 na Azedinha a 12,87 na Ilha do Caboclo, um valor quatro vezes mais alto. Os valores de Singularidade exibiram diferenciação espacial, variando de 0,14 em Ossos lado direito, Azedinha e João Fernandes a 0,29 no Canto e na Ilha do Caboclo. O Índice de Substituição de Espécies foi próximo de 0,5 em todos os locais estudados, o que significa que a mudança na composição de espécies bentônicas de 2000 para 2016 foi próxima a 50%.

· A integração entre os Indicadores Ecológicos (IE) e o Índice de Pressão Ambiental (IPA) revelou que não há nenhum local em boa condição de saúde ambiental. Na maioria dos locais, observou-se uma redução da singularidade e aumento da diversidade de um período a outro. Isto sugere que os locais estão tornando-se mais homogêneos em termos de composição de espécies. Apesar de alguma variabilidade entre locais, o Índice de Pressão Ambiental atual apresentou um padrão similar ao passado. Dez dos onze locais estudados encontram-se com condição de saúde ambiental regular e um deles (João Fernandes) está com condição ruim, e, por isso, requer manejo.

· Durante o Encontro de Pesquisa do Projeto Ecorais, realizado em 15 de março de 2019, no AquaRio, foram apresentados e discutidos os resultados das pesquisas conduzidas e suas futuras publicações científicas. Além disso, foram apresentados os materiais didáticos e de divulgação produzidos ao longo da pesquisa.

· Realização do Seminário Dialoga Búzios com 63 participantes de diferentes esferas da sociedade, para discutir a conservação marinha local e contribuir com subsídios para políticas públicas.

· Realização de exposições, stands e palestras, ocasiões que deram oportunidade para que mais de 73 mil pessoas fossem informadas direta ou indiretamente sobre a importância da conservação dos ambientes coralíneos de Búzios e sobre o Ecorais.

· Estimado um alcance de 875 mil pessoas pelas publicações sobre o Ecorais e suas ações, por meio de 87 inserções na mídia impressa e online, TV e rádio.

· Realização do 1º Seminário do Projeto Ecorais: Subsídios para a Conservação Marinha da Armação dos Búzios, quando foram apresentados e divulgados os resultados para diferentes atores e tomadores de decisão da região, promovendo o diálogo e contribuindo com subsídios às políticas públicas. Na ocasião, ocorreu o lançamento do filme Projeto Ecorais17 e do Guia para um Turismo Sustentável, materiais que informam e ajudam a promover a sensibilização da sociedade em prol da conservação marinha.

· Publicação do livro “Diálogos e Recomendações do Seminário Ecorais Dialoga Búzios – Subsídios para a Conservação Marinha 2018”.

· Realização de visitas técnicas à Armação dos Búzios, com foco no planejamento, promoção e engajamento dos parceiros locais nas atividades do Ecorais.

· Edição do livreto “Projeto Ecorais – Biodiversidade e Educação Ambiental Marinha e Costeira de Armação dos Búzios”, contendo informações sobre o que é biodiversidade marinha e costeira, quais são os seus serviços ecossistêmicos e as ameaças a que está sujeita, os ambientes coralíneos, sua importância ecológica e socioeconômica para a região, a importância da educação ambiental e exemplos de práticas pedagógicas visando a sensibilização de estudantes.

· Envolvimento das Secretarias de Educação, Ciência e Tecnologia, Turismo, Cultura e Patrimônio Histórico e Meio Ambiente e Pesca, com a divulgação dos resultados do Ecorais, no período de 2016 a 2019. Houve a distribuição de exemplares do “Guia de espécies dos Ambientes Coralíneos da Armação dos Búzios”, do “Guia para um Turismo Sustentável” e do livreto “Projeto Ecorais – Biodiversidade e Educação Ambiental Marinha e Costeira de Armação dos Búzios” para serem distribuídos a todas as escolas municipais e biblioteca da região, com o objetivo de servirem como recursos didáticos para os educadores.

· Realização de quatro edições de campanhas educativas voltadas para estudantes, professores, moradores e turistas de Búzios, as quais alcançaram 3.804 pessoas.

· Implantação de cursos de qualificação e formação de agentes multiplicadores de informações sobre a conservação marinha, voltados para educadores de diferentes áreas do conhecimento da rede pública municipal de ensino. Os cursos foram desenvolvidos em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, Ciência e Tecnologia da Armação dos Búzios.

· Realização do 1º Encontro de Professores de Ciências do Projeto Ecorais, onde foram apresentados e discutidos de forma prática os sete princípios da Literacia Oceânica18, que são ideias-chave que a sociedade deve conhecer sobre os oceanos. Ao todo, 61 educadores foram qualificados para atuarem como agentes multiplicadores.

· Realização de encontros com Profissionais de Turismo no Mar, para a formação de agentes multiplicadores com o foco na divulgação de práticas mais sustentáveis no turismo marinho. Participaram guias de turismo, barqueiros, agentes de viagem, turismólogos, pousadeiros e funcionários de restaurantes locais, perfazendo um total de 94 profissionais envolvidos.

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