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sistemas lagunares

SUBPROJETO MECANISMOS REGULADORES DA PRODUÇÃO PESQUEIRA NOS SISTEMAS LAGUNARES DO LESTE FLUMINENSE: ESTADO ATUAL E CENÁRIOS FUTUROS

O Subprojeto Mecanismos Reguladores da Produção Pesqueira nos Sistemas Lagunares do Leste Fluminense: Estado Atual e Cenários Futuros, também denominado Sistemas Lagunares da costa Leste Fluminense-RJ, foi executado de janeiro de 2019 a agosto de 2021 pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com apoio da Fundação Educacional Ciência e Desenvolvimento (FECD), com o objetivo de caracterizar a estrutura e o estado trófico das lagoas costeiras do leste fluminense, identificando o papel dos fatores que controlam a produtividade biológica nestes ecossistemas e suas relações com a atividade pesqueira artesanal local e as respectivas comunidades pesqueiras.

Por que fazer?

Historicamente, os sistemas lagunares da costa leste fluminense se formaram como extensões rasas de água, paralelas à costa, separadas do oceano por uma pequena restinga, a partir de processos geomorfológicos, que isolaram antigas baías marinhas, originando lagunas com águas salobras e claras.

Atualmente, são considerados sistemas lagunares sufocados, com uma série de células elípticas com um único canal de comunicação com o mar. Naturalmente, estes sistemas apresentam grande importância, constituindo-se como regiões de interface entre zonas costeiras, águas interiores, águas estuarinas e águas marinhas. As lagunas costeiras contribuem para a manutenção do lençol freático, para estabilidade climática local e regional, além de suportar elevada produtividade, tanto de peixes quanto de crustáceos. Além disso, outros serviços ambientais também podem ser observados nestes sistemas como, controle de inundação, recepção de efluentes domésticos, lazer, beleza cênica e valorização turística da região.

As crescentes exigências humanas sobre a água e seus múltiplos usos e obtenção de fontes de alimentos associadas às preocupações sobre mudanças climáticas e seus efeitos sobre o meio ambiente, têm intensificado as pesquisas em sistemas lagunares costeiros, a fim de determinar os impactos eutróficos2 sobre estes sistemas. Os sistemas lagunares são considerados ambientes de grande importância à manutenção dos processos biológicos costeiros, uma vez que agregam e regulam a biodiversidade e biomassa, servindo também como áreas de alimentação e criação para diversas espécies marinhas, estuarinas e de água doce.

Diversas pesquisas científicas vêm demonstrando que as lagunas costeiras do leste fluminense são importantes depositários da diversidade. Sua importância tem sido percebida devido à diferentes formas de utilização de vários recursos como pescado e sal, serviços como área de lazer e controle de inundações, além da manutenção do lençol freático e estabilidade climática local e regional, dentre outros.

Estas lagunas costeiras também são consideradas ecossistemas aquáticos de elevada produtividade biológica, funcionando como áreas de berçários e habitats de adultos para várias espécies de interesse comercial pesqueiro. Os sistemas lagunares costeiros da costa leste fluminense – Piratininga-Itaipu, Maricá, Saquarema e Araruama -3 orientados no sentido oeste-leste, fornecem diversos serviços ecossistêmicos às populações humanas e, entretanto, estão entre os mais afetados pelas ações antrópicas.

Diversos atributos4 fazem destas lagunas um laboratório natural ideal para a análise comparativa de ecossistemas, facilitando a compreensão dos processos reguladores da produção e produtividade, compondo um conjunto de sistemas relevantes para testar modelos ecossistêmicos como indicadores da produtividade da pesca artesanal local, além de auxiliar no processo de gestão desses sistemas como um todo.

A pesca artesanal vem sendo uma atividade responsável pelo sustento de grande parte da população mundial. No Brasil, a atividade tem recebido, ao longo do tempo, poucos incentivos governamentais, apesar de sua importância na medida em que abastece local e regionalmente os mercados de pescado, constituindo-se em atividade principal para uma expressiva parcela da população litorânea, promotora de elevado nível de emprego com grande potencial para o desenvolvimento social e econômico destas populações.

A costa do estado do Rio de Janeiro é composta de uma grande variedade de ambientes de alta relevância biológica tanto no concernente à diversidade de espécies quanto na produção pesqueira artesanal. É fundamental entender como estão estruturados os sistemas lagunares, física e troficamente, para a compreensão do seu funcionamento como um todo.

A reunião de informações disponíveis sobre os mais variados componentes abióticos (variáveis físico-químicas nutrientes, tipos de sedimentos) e biológicos (plâncton, nécton e bentos) permite a construção de modelos de estado trófico desses sistemas, bem como modelos quantitativos das interações tróficas, levando ao aprofundamento sobre o conhecimento do funcionamento do ecossistema, revelando as fontes e fluxos de energia, que garantam a manutenção e os serviços prestados pelos mesmos (isto é, explotação de recursos pesqueiros; extração de sal, turismo, conectividade com ecossistemas costeiros entre outros).

Inserida neste contexto está a atividade da pesca artesanal, a qual também exerce impactos sobre os ecossistemas e suas populações. Normalmente, estes impactos podem causar diminuição no tamanho e idade média dos indivíduos, além de reduzir os níveis de diversidade e abundância nos sistemas avaliados. Tais mudanças em comunidades multiespecíficas apresentam reflexos diretos na produção pesqueira e nos preços praticados ao longo da cadeia produtiva.

Neste cenário, a biologia pesqueira da atualidade enfrenta o desafio de aliar a investigação sobre os estoques pesqueiros a abordagens ecológicas que analisem as relações da pesca com o seu respectivo ecossistema, gerando conhecimento e auxiliando na busca de soluções e alternativas para a crise mundial pesqueira, em especial da pesca artesanal.

A aplicação de modelos matemáticos capazes de captar as interações naturais e/ou antrópicas de um ecossistema são ferramentas indispensáveis ao desenvolvimento de programas de gerenciamento ambiental, uma vez que ajudam na identificação de fontes poluidoras, na previsão de respostas do sistema a mudanças de média e larga escala, bem como, na avaliação de alternativas de gestão.

Estudos com enfoque ecossistêmico sobre ambientes marinhos são, relativamente, recentes no Brasil e as relações entre os seus componentes biológicos e o estado trófico dos sistemas lagunares fluminenses não foram investigadas em nenhum estudo já realizado.

Os sistemas lagunares da costa leste fluminense constituem um interessante ambiente para desenvolvimento de modelos ecossistêmicos integrados, no sentido da geração de cenários futuros acerca da produtividade, relevância da conectividade com a zona costeira adjacente, bem-estar dos sistemas e manutenção da atividade pesqueira artesanal. Por conseguinte, o monitoramento biológico é essencial para identificar as respostas do ambiente aos impactos causados pela ação humana, além de fornecer diretrizes que possam regulamentar o uso destes recursos naturais, possibilitando o desenvolvimento de alternativas para minimizar a degradação destas lagunas.

Deste modo, o conhecimento dos diversos compartimentos abióticos e bióticos que compõem cada laguna constitui um conjunto de informações do estado de conservação do sistema lagunar, contribuindo para que iniciativas de preservação ambiental possam ser implementadas.

Como foi realizado?

A fim de atender aos objetivos específicos6 do Subprojeto, foi necessário realizar um levantamento de dados sobre a caracterização da atividade pesqueira artesanal, sobre a qualidade ambiental do sistema lagunar e conduzir estudos ecológicos em níveis de comunidades, populacionais e ecossistêmico.

Para tanto, foram entrevistados pescadores de diferentes gerações, realizada coleta de exemplares de peixes para identificação dos estágios de maturação gonadal (sistema reprodutivo), identificados e quantificados ovos e larvas em laboratório, registrados biometricamente os exemplares capturados e levantados os valores de comercialização ao longo da cadeia produtiva da pesca.

A análise microquímica e isotópica de otólitos7 foi realizada, para diferenciar populações das espécies, identificar a idade dos indivíduos, ajudar a entender a história de vida deles, saber como usam as lagunas e de que forma transitam entre os ambientes marinho e estuarino.

Abordagens participativas como o Diagnóstico Rápido Participativo8 (DRP) foram utilizadas para o levantamento de informações que caracterizassem a atividade pesqueira lagunar, ao mesmo tempo em que engajou à participação ativa os próprios sujeitos da ação de pesquisa. Isto é, aqueles direta ou indiretamente vinculados à pesca artesanal local.

A dimensão educativa se fez presente também para facilitar o acesso às informações técnico-científicas, como produção de material didático não-formal e técnico-científico, além de criação de meios de comunicação com utilização de rede social (Facebook, Instagram, Youtube).

Principais resultados:

· Foi realizado o inventário de espécies dos sistemas lagunares, sendo identificadas 86 espécies de peixes, 13 espécies de crustáceos e 4 de moluscos.

· Foram visitados 36 núcleos de pesca ao longo dos sistemas lagunares do leste fluminense.

· Foram realizados 2.268 registros biométricos de pescados, priorizando as espécies alvo do projeto, e incluindo outras espécies cuja ocorrência foi relevante.

· Para cada sistema lagunar, foram elaborados infográficos e mapas geoespaciais10.

· Foram submetidos 10.655 peixes ao processamento biológico em laboratório, com a identificação das relações de peso-comprimento das espécies analisadas.

· Foram identificados 87 grupos taxonômicos nas coletas de plâncton nas lagunas de Piratininga, Itaipu e Saquarema.

· Foram realizadas seis coletas sazonais nos canais de Itaipu e Saquarema para recolhimento de ovos e larvas de peixes e crustáceos. Ao todo, 27 amostras foram triadas

· Levantamento de dados demográficos dos municípios localizados nas bacias de drenagem das lagunas.

· Publicação do livro Pesca e sustentabilidade: passado, presente e futuro

· Edição do material paradidático “Teia lagunar”, num total de 5 conjuntos, para serem utilizados nas ações de instituições de ensino, de educação ambiental e de diagnóstico participativo com diferentes comunidades de pesca artesanal.

· Foram identificados 635 seguidores do Subprojeto nas redes sociais.

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