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SUBPROJETO ECOSHARK - ECOLOGIA E CONSERVAÇÃO DE TUBARÕES DO RIO DE JANEIRO: COMPOSTOS ORGÂNICOS EMERGENTES E PADRÕES DE MOVIMENTAÇÃO

Sob a responsabilidade da Fundação Educacional Ciência e Desenvolvimento (FECD), o Subprojeto ECOSHARK – Ecologia e Conservação de Tubarões do Rio de Janeiro: compostos orgânicos emergentes e padrões de movimentação está sendo realizado no litoral dos municípios de Mangaratiba, Maricá e Rio de Janeiro, no estado do Rio de Janeiro, desde 2021, com a previsão de dois anos para a sua execução. O Subprojeto envolve a parceria com três instituições de ensino superior nacionais (Institutos de Biofísica e de Biologia da UFRJ e Instituto Oceanográfico da USP), uma ONG (Instituto Boto-Cinza), uma universidade internacional (Universidade do Porto, Portugal), além de colônias e associações de pesca.

O objetivo deste Subprojeto é realizar estudos sobre a ecologia e a conservação dos elasmobrânquios ameaçados ou categorizados como Deficientes de Dados (DD) e a sensibilização de comunidades pesqueiras no estado do Rio de Janeiro. A proposta une técnicas avançadas, tanto analíticas quanto de monitoramento por satélite, realizando o monitoramento da atividade pesqueira, a capacitação e a sensibilização das comunidades pesqueiras para a conservação das espécies de elasmobrânquios que ocorrem na costa do estado do Rio de Janeiro.

Por que fazer?

Na costa do Rio de Janeiro há 107 espécies de elasmobrânquios catalogadas e grande parte destas espécies possui um ciclo de vida longo, maior cuidado com a prole, crescimento lento, baixa fecundidade e maturidade sexual tardia, o que dificulta a reposição populacional em relação aos impactos sofridos pelas espécies, entre eles o impacto da pesca.

Dentre essas espécies de elasmobrânquios, o gênero Sphyrna apresenta seis espécies que podem ser encontradas na costa do Rio de Janeiro, sendo as espécies S. lewini, S. mokarran e S. zygaena as mais abundantes. São considerados generalistas por se alimentarem de outros peixes, crustáceos e moluscos, estando no topo da teia trófica. O tubarão-martelo (Sphyrna lewini) que é considerado criticamente ameaçado pelo ICMBio/MMA, atinge em média 350 cm de comprimento e possui hábitos costeiros, ocorrendo em águas tropicais e temperadas. É comum a presença de indivíduos mais jovens em áreas costeiras, enquanto os adultos migram em direção à região oceânica, onde tornam-se alvo de captura pela frota pesqueira industrial.

O Brasil é um dos países que mais realiza pesca de elasmobrânquios e é o que mais importa carne de tubarão para consumo humano. No estado do Rio de Janeiro, onde a pesca artesanal possui uma grande representatividade para a economia local, há poucas informações sobre a caracterização desta atividade pesqueira, bem como dados de biomassa total capturada.

O uso de espécies sentinelas4, tal como o tubarão martelo, permite realizar pesquisas com teor interdisciplinar, com estudos integrados sobre a ocorrência de contaminantes orgânicos, hidrocarbonetos petrogênicos5, marcação de indivíduos para a compreensão de seus deslocamentos e estudo da dinâmica alimentar. Essas informações são utilizadas para realizar atividades voltadas às comunidades pesqueiras artesanais, cumprindo-se assim o papel social da universidade, que é o de gerar conhecimentos relevantes para a sociedade.

A partir da utilização de dispositivos eletrônicos, que realizam a telemetria, tornou-se possível elucidar os padrões de movimentação de espécies altamente migradoras, como os elasmobrânquios. Além de ser um método pouco invasivo, as marcas eletrônicas têm sido capazes de monitorar remotamente os animais marcados, fornecendo informações inéditas sobre os seus ciclos de vida e movimentos migratórios. São raras as informações a respeito da migração e distribuição dos tubarões martelo e espécies de elasmobrânquios ameaçadas e categorizadas como DD no Oceano Atlântico, em especial no Atlântico Sul e costa do Rio de Janeiro, sendo este um trabalho pioneiro quanto à telemetria desse grupo de animais para a área de estudo.

Considerando-se este contexto, e a crescente pressão pesqueira sobre os elasmobrânquios, é importantíssimo ampliar o conhecimento existente acerca dos aspectos biológicos e populacionais das espécies envolvidas neste estudo, de modo a subsidiar a implementação de medidas de ordenamento que possam assegurar a conservação da espécie no Oceano Atlântico.

Adiciona-se a esse cenário o fato de que, até o presente momento, não foi realizado nenhum estudo sobre a contaminação provocada pela acumulação de filtros solares, fármacos antidepressivos e parafinas cloradas em elasmobrânquios do hemisfério sul, substâncias que vêm sendo altamente consumidas e descartadas pela população, cujas consequências ainda são pouco conhecidas nas cadeias alimentares. Consequentemente, compreender como a dieta dessas espécies contribui com a bioacumulação, e quais presas podem estar promovendo essa contaminação, é um estudo necessário para a conservação dos ecossistemas.

Portanto, diante da sobrepesca e da redução de populações de tubarões é importante a realização de ações de sensibilização e de educação ambiental, que levem a população a repensar sua relação com o meio ambiente. O envolvimento de adolescentes e jovens em ações educativas contribui para a formação de cidadãos com visão crítica e comprometidos com a biodiversidade dos oceanos, compreendendo a importância da saúde dos estoques pesqueiros para manutenção da vida humana na Terra.

O desenvolvimento do Subprojeto envolve alunos de graduação, por meio de bolsas de Iniciação Científicas, pesquisadores, além de profissionais como biólogos marinhos e produtores de audiovisual. Somado a isso, pescadores artesanais e seus familiares participarão das linhas de ações relacionadas à pesca.

Como foi realizado?

Para preencher a lacuna existente sobre a ocorrência de contaminantes orgânicos, hidrocarbonetos petrogênicos, bem como sobre os padrões de movimentação de espécies de tubarões ameaçadas do estado do Rio de Janeiro, as ações realizadas foram planejadas de modo a atender aos objetivos específicos do Subprojeto.

A área de estudo desta proposta inclui cinco regiões de desembarque pesqueiro na costa do município do Rio de Janeiro, são elas: ilha de Marambaia, Recreio dos Bandeirantes, Barra da Tijuca, Barra de Guaratiba e Grumari. Abrange também as ilhas de Maricá, situadas na região de Itaipuaçu, município de Maricá.

A ilha de Marambaia está localizada no município de Mangaratiba, sudeste do estado do Rio de Janeiro. A ilha apresenta uma área territorial de 42 km² e sua vegetação compreende uma das últimas reservas de Mata Atlântica no sudeste do Brasil, extensas áreas de restinga (incluindo praias e dunas) e manguezais, com ecossistemas associados. O Recreio dos Bandeirantes possui uma área territorial de 30.655 km², sendo sua comunidade pesqueira localizada no Posto 12 em frente a ilha do Pontal, no Município do Rio de Janeiro (RJ). A Barra da Tijuca possui 18 km de extensão sendo dividido em área urbanizada (10 km) e área protegida (8 km). A Barra de Guaratiba pertence à área da Reserva Estadual Biológica de Guaratiba, na cidade do Rio de Janeiro. A praia de Grumari possui uma comunidade de pesca tradicional e abrange uma área territorial de 959,88 hectares, onde 90,97% de sua área é de cobertura vegetal, tem uma área litorânea de cerca de 2 km² e está dentro do Parque Nacional Municipal de Grumari. As ilhas de Maricá são formadas por um complexo de cinco ilhas, com uma extensão de aproximadamente 4,5 km.

Estudos sobre a dieta pretendem fornecer informações sobre os hábitos alimentares de cada espécie, tais como os principais itens na dieta, se existem variações na alimentação de acordo com o crescimento e época do ano, e avaliar a estratégia alimentar e largura do nicho, contribuindo com o entendimento dos processos de bioacumulação9 e biomagnificação10 dos diferentes compostos.

A partir dos dados coletados por transmissores eletrônicos (marcas monitoradas via satélite PSAT – Pop-up satellite archival tag), será possível identificar os hábitats preferenciais e o seu uso pelas diferentes espécies, além de desvendar padrões migratórios e de deslocamentos verticais, com base nos quais é possível inferir alguns aspectos biológicos da espécie, tais como possíveis zonas de reprodução e de alimentação.

Neste trabalho, serão utilizadas as amostras coletadas de capturas acidentais em águas costeiras do Rio de Janeiro, em desembarques realizados nas comunidades pesqueiras artesanais, desde 2018 até o presente. Novas amostras, bem como diferentes espécies de elasmobrânquios das águas oceânicas do Rio de Janeiro serão coletadas no decorrer do Subprojeto.

Será realizada a sensibilização de comunidades pesqueiras (ilha da Marambaia; Recreio dos Bandeirantes; Barra da Tijuca; Barra de Guaratiba e Grumari) para a identificação de espécies ameaçadas e o monitoramento da frota pesqueira e da pesca realizada por essas comunidades. Para isso, serão produzidos um documentário e folhetos didáticos.

Principais resultados esperados:

Por meio das pesquisas realizadas no Subprojeto, espera-se fornecer dados inéditos no que diz respeito aos padrões de movimentação e do uso de habitat dos tubarões martelo e espécies de elasmobrânquios ameaçadas e categorizadas como DD para a costa do Rio de Janeiro, bem como dados inéditos sobre a ocorrência de alguns dos compostos orgânicos emergentes sobre estas espécies a nível mundial. Pretende-se também elucidar os seus padrões de migração e sazonalidade, na margem ocidental do Oceano Atlântico Sul, através de marcadores via satélite, avaliando ao mesmo tempo, a influência das variáveis ambientais e climáticas no seu comportamento.

A expectativa é de que as informações geradas possam subsidiar a adoção de medidas de ordenamento e gestão que assegurem a sustentabilidade dos estoques explorados e a necessidade primordial de conservação destas espécies.

Conheça outros resultados esperados com a realização do Subprojeto:

· Estudo inédito acerca de contaminantes que constam em filtros solares e antidepressivos nas espécies de elasmobrânquios estudados, bem como a compreensão da distribuição tecidual desses contaminantes;

· Produção de trabalhos científicos para publicação em revistas científicas, reconhecidas internacionalmente e em congressos da área;

· Estudo inédito acerca da ecologia espacial do tubarão martelo e demais espécies, utilizando marcas eletrônicas11, na costa do sudeste do Brasil;

· Produção de folhetos e banners informativos sobre as espécies ocorrentes de elasmobrânquios no Rio de Janeiro;

· Pescadores capacitados para identificar espécies ameaçadas de elasmobrânquios e provenientes de solturas;

· Produção de minidocumentário de dois minutos, em 10 capítulos, que serão transmitidos via Instagram, direcionados aos pescadores e ao público em geral;

· Reportagens para divulgação do material;

· Estudo acerca da contribuição dos diferentes itens alimentares na bioacumulação de compostos orgânicos nas espécies em estudo.

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