Primeira Área de Proteção Ambiental (APA) para manguezais do Brasil faz 40 anos

No dia Mundial de Proteção aos Manguezais (26 de julho), data criada para aumentar a conscientização sobre os riscos dos manguezais perderem sua capacidade de prover os serviços ambientais que oferecem, a criação da 1ª Área de Proteção Ambiental (APA) do Brasil, em Guapi-Mirim, no RJ, na Baía de Guanabara, é motivo de orgulho. A APA de Guapi-Mirim, abrange os municípios de Magé, Guapimirim, Itaboraí e São Gonçalo, e faz 40 anos em 2024. De lá pra cá muitas conquistas foram realizadas, algumas recentes com a chegada de recursos dos projetos Pesquisa Marinha e Pesqueira e Apoio a UCs, sob gestão do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO) e que fazem parte de uma  medida compensatória estabelecida pelo Termo de Ajustamento de Conduta de responsabilidade da empresa PRIO, conduzido pela Ministério Público Federal – MPF.

Primeira área de conservação de manguezal do país ganha melhorias

Ajudando a proteger 14,3 mil hectares, a APA de Guapi-Mirim vai ganhar um novo espaço, anexo à sede da unidade, para realização de reuniões, oficinas e encontros de educação ambiental. O Espaço Manguezal também servirá como um centro de visitantes e abrigará uma exposição permanente sobre a região. A construção será feita com o objetivo de buscar equilíbrio térmico e iluminação natural que dispense o uso de ar-condicionado no dia a dia. Também terá reaproveitamento de água da chuva e destinação de efluentes para um biodigestor. Essas melhorias acontecem com recursos do Projeto Apoio a Unidades de Conservação, gerenciado pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO).

Biogás no quilombo colabora para conservação de área de manguezal

Dentro dos limites da APA, em Magé, o Quilombo do Feital também foi beneficiado com recursos recebidos do Projeto Pesquisa Marinha e Pesqueira gerido pelo FUNBIO. A partir da iniciativa Guanamangue, desenvolvida pelo Instituto Onda Azul, hoje o quilombo conta com um biodigestor construído pelos próprios moradores do quilombo e de comunidades próximas. A partir dos recursos destinados à iniciativa, foi possível levar ao quilombo o curso prático com a participação de lideranças locais para a instalação do sistema, a produção de videoaulas para que esse conhecimento possa ser multiplicado e a assistência técnica de manutenção. Desde outubro de 2023, quando foi instalado, o sistema trata o esgoto dos sanitários, transformando a matéria orgânica em biogás, que é utilizado em uma cozinha do quilombo, gerando economia para as famílias. O apoio a ações como essas contribui para o equilíbrio entre a comunidade e o ecossistema, essencial para a conservação dos manguezais.

Créditos: Maurício Muniz

Manguezal da Baía de Sepetiba ganha Observatório Socioambiental

Outra importante área de manguezal do estado está na Baía de Sepetiba que, com aproximadamente 305 quilômetros quadrados, abrange três municípios litorâneos: Rio de Janeiro, Itaguaí e Mangaratiba. Com uma rede de proteção ativa, envolvendo comunidades de pescadores, pesquisadores, universidades e escolas na área, surgiu a ideia da construção coletiva do Observatório da Baía de Sepetiba. Com recursos do Projeto Pesquisa Marinha e Pesqueira  foi possível dar início ao mapeamento da Baía de Sepetiba para apresentação cartográfica dos problemas, das soluções e de outros pontos que contribuam para a gestão costeira e a proteção dos manguezais.

A coordenadora do observatório, Catia Antonia da Silva, geógrafa e professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), conta que a comunidade pesqueira tinha uma demanda de um espaço destinado ao envio de denúncias sobre infrações presenciadas na região, como pesca ilegal ou derramamento de óleo. A partir dos recursos recebidos do Projeto Pesquisa Marinha e Pesqueira, foi criado um aplicativo para envio dessas denúncias. “Agora, quando o pescador vê uma ocorrência ele pode reportar diretamente pelo aplicativo, que possibilita notificar o local correto, com coordenada geográfica, e enviar imagens. Assim as denúncias, que são anônimas, podem ser armazenadas e ter o encaminhamento necessário para cada caso”, destaca Catia.

Em uso desde 2022, o aplicativo foi elaborado de forma colaborativa com base em oficinas e conversas com 13 lideranças parceiras e é gerenciado pelo grupo de pesquisa. O uso é gratuito, basta baixar e se cadastrar. Hoje, está em processo de manutenção para atualizações e melhorias e a nova versão deverá ser lançada em agosto.

Articulando o conhecimento científico e o etnoconhecimento dos povos tradicionais pesqueiros da região foi realizado também um acervo socioambiental, que em breve será lançado em livro, com informações sobre o local a partir de pesquisas minuciosas realizadas por mais de 35 pesquisadores de Geografia, Biologia e Química das Universidades Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Federal Fluminense (UFF), entre outras.

Quando gerenciados de forma sustentável, os manguezais têm um papel importante no armazenamento de água para alimentar os lençóis freáticos, no equilíbrio térmico e na qualidade do ar, disponibilização de nutrientes, como áreas de berçário de espécies marinhas e terrestres e também na retenção de sedimentos. Dados da Unesco mostram que um hectare de bosque de mangues é capaz de armazenar 3.754 toneladas de carbono, o equivalente ao emitido por 2.650 carros em um ano.

Os manguezais funcionam como uma transição do meio marinho para o terrestre, tendo um papel social e ecológico essencial para o meio ambiente. São extremamente ricos em biodiversidade, abrigando espécies dos ecossistemas com os quais fazem fronteira, além dos animais e plantas comuns entre todos os mangues como uma variedade grande de moluscos e crustáceos que tem uma imensa importância comercial.

Apesar de sua importância, os manguezais no Brasil são vulneráveis a uma série de ameaças provenientes da ação humana. Além de sua importância ambiental e cultural, eles são fonte de renda de muitas famílias na zona costeira brasileira. A conservação e a restauração dos manguezais são vitais para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas. Esses ecossistemas não só protegem a biodiversidade e sustentam a pesca local, mas também são fundamentais para a resiliência das áreas costeiras frente ao aumento do nível do mar. O que poucas pessoas sabem é que os manguezais são ecossistemas costeiros essenciais que desempenham um papel crucial na proteção contra os danos físicos associados ao aumento do nível do mar, um problema que se torna cada vez mais real no Brasil e no mundo.

Projetos