Encontro dos projetos de Educação Ambiental celebra o potencial de renovação de comunidades pesqueiras do RJ

O investimento na autonomia das comunidades pesqueiras está transformando a pesca artesanal do Rio de Janeiro. Em sua 5ª edição, o Encontro do Projeto Educação Ambiental, realizado em Búzios, Rio de Janeiro, compartilhou conquistas e aprendizados de 20 entidades que desenvolvem projetos de Educação Ambiental no litoral do Rio de Janeiro. 

Apoiados pelo Termo de Ajustamento de Conduta TAC FRADE, de responsabilidade da empresa PRIO, gerido pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO), associações e cooperativas se dividiram em duas turmas durante a semana de 30 de junho a 04 de julho trazendo reflexões sobre os caminhos para renovação das comunidades pesqueiras. 

O primeiro grupo, com 12 iniciativas apoiadas pela Chamada de Cadeia Produtiva, começou a semana em clima de celebração. Durante a programação, que incluiu palestras, debates, apresentações de resultado e dinâmicas de criação, as instituições comemoraram a entrega dos resultados propostos no planejamento de um ano atrás. 

Com destaque para o fortalecimento da autonomia na gestão dos recursos, associações como os Trabalhadores Associados do Mar de Boa Viagem, em Niterói, mostram protagonismo em negociações importantes.  

José Carlos Max Sobral, presidente da entidade, comemorou o avanço nas relações com atravessadores em sua comunidade, que conseguiu valorizar seu pescado em 500%, saindo do valor de R$ 2,00 kg para R$ 12,00 kg. “Hoje o atravessador tem que negociar com a gente”, celebra. 

Outro destaque comum, é o avanço na autoestima e na valorização do saber tradicional, resultando em iniciativas de ecoturismo. A Cooperativa de Mulheres Pescadoras, Aquicultoras e Artesãs da Prainha (MUPAAP), em Arraial do Cabo, está se estruturando para promover o Turismo de Base Comunitária por meio de gastronomia, atividades culturais e contação de histórias.  

No próximo mês, elas receberão 45 turistas uruguaios que participarão da experiência de jantar no restaurante e ver a região a partir do conhecimento daqueles que compartilham sua ancestralidade com o território. “Em cada prato que a gente apresenta contamos história da comunidade local, da cultura dos batuques”, conta Cleusa dos Remédios, fundadora da cooperativa e líder comunitária. 

Na quarta-feira, fechando a participação do primeiro grupo, a entrega de uma carta ao IBAMA ilustrou a percepção do grupo frente a autonomia adquirida durante a gestão dos projetos apoiados. O documento solicita uma abertura de diálogo para alinhamento quanto as formas de apoio à comunidade pesqueira nos processos de licenciamento de atividades que se relacionam com a pesca artesanal.  

“Minha expectativa é que a gente consiga ter linhas de financiamento, não só vindo do termo de ajuste de conduta, mas que ele seja previsto, principalmente pelas exploradoras de petróleo, e esse recurso seja destinado para pesca no estado do Rio de Janeiro.” – Robson Possidonio da Associação dos Barqueiros e Pescadores Tradicionais de Trindade (ABAT).  

Emerson Nepomuceno, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), recebeu o documento e assumiu o compromisso de fazer a ponte entre as coordenações internas do órgão para construir juntos caminhos e possibilidades de diálogo. Assim, a ação confirma o sucesso de ações que promovem sustentabilidade, renda e aprendizagem para comunidades pesqueiras.   

Tecnologia em serviço da sustentabilidade  

A partir do dia 2, o segundo grupo, com oito iniciativas apoiadas pela Chamada de Tecnologias Ambientais, chegou ao seminário demonstrando que além de fortalecer laços e criar redes colaborativas, é tempo de promover alternativas sustentáveis para o desenvolvimento econômico. 

Dentre as inovações, soluções de geração de energia envolvendo placas solares chegam para oferecer autonomia, economia e até rentabilidade para comunidades pesqueiras. Ao todo seis projetos investiram em energia solar. Gerido pela Associação dos Verdadeiros Pescadores e Turismo de Barcos de Bocas Abertas de Arraial do Cabo, o SustentaMar é um desses exemplos (leia reportagem completa aqui).

Já no projeto Pescando o Sol, idealizado pela Colônia de Pescadores Z-1, em São Francisco de Itabapoana (RJ), a expectativa é instalar painéis de energia solar em 166 embarcações. A ideia ganhou força após a comunidade presenciar acidentes envolvendo embarcações que ficaram sem energia em alto mar e sumiram ou foram atingidas por navios, pela falta de iluminação constante. Agora, os pescadores terão mais segurança para sair pescar nos 62km de praia da região que engloba as praias de, Barra do Itabapoana, Guaxindiba e Gargaú.

Já o projeto Energia Caiçara levará luz para quase 500 pessoas que vivem na Península da Juatinga, em Paraty, onde cerca de 60 pessoas vive hoje sem nenhum tipo de instalação elétrica. A falta de luz agrava a situação de insegurança alimentar desses moradores que não conseguem conservar o pescado nem para venda, nem para consumo próprio.  

Além disso, biodigestores, reservatórios de água e iniciativas de reaproveitamento do descarte da pesca indicam caminhos para reduzir impactos ambientais e fortalecer a sustentabilidade local. 

O encontro reforça o papel transformador dos projetos de educação ambiental, que estão construindo um futuro mais sustentável, autônomo e protagonizado pelas próprias comunidades. A força da gestão coletiva, aliada ao conhecimento tradicional e às inovações socioambientais, mostra que a pesca artesanal pode ser além de uma atividade econômica, uma fonte de orgulho, identidade e esperança para as novas gerações. 

Imagem: Lourenço Queiroz Capriglione