Unidos pelo mar

Feira de Projetos do Mar. Edição Rio de Janeiro

Veio gente das universidades, dos laboratórios, das cozinhas, dos artesanatos e, obviamente, veio gente do mar. Durante suas três edições, o Festival da Pesca – Feira de Projetos do Mar agitou as cidades do Rio de Janeiro, Armação de Búzios e Paraty. E marcou milhares de pessoas que passaram por ali. “Foi muito feliz a escolha do nome do evento, porque realmente ele conseguiu integrar todo mundo” resumiu André Dahmer, da Associação dos Maricultores da Baía da Ilha Grande (AMBIG). 

Em formato de feira e com dezenas de quiosques reunindo ciência, cultura, educação ambiental e gastronomia, o festival inédito nasceu para celebrar e fortalecer as iniciativas apoiadas ao longo dos últimos 10 anos pelo TAC Frade. Ao ocupar espaços públicos e simbólicos de cada cidade – como a Quinta da Boa Vista, no Rio, a Praça Santos Dumont,  em Búzios, e a Praça da Matriz, em Paraty – o evento jogou um holofote sobre os sabores e saberes tradicionais que vêm das comunidades pesqueiras. 

“Esse é o melhor tipo de feira que já aconteceu por aqui, pois você consegue mostrar a cultura caiçara”, elogiou Marcelo Fernandes, que é biólogo, morador de Paraty e carregou a família inteira para participar não apenas de um, mas dos dois dias do evento em sua cidade. “Conhecemos roteiros e passeios para fazer que pouca gente sabe”, diz animado, se referindo a iniciativas de Turismo de Base Comunitária (TBC) apresentadas durante o encontro. 

É o caso da Associação de Moradores e Pescadores da Enseada das Estrelas, da Ilha Grande, que recentemente lançou seu próprio roteiro de TBC e aproveitou o festival para divulgar a empreitada. “A gente trabalha para que as pessoas conheçam aquilo que a gente é: a nossa cultura, os nossos valores e não somente belezas naturais, pois para mantê-las é preciso ter o povo ali para cuidar”, disse Jaisa dos Santos, da AMPEE, e uma das cofundadoras do roteiro de TBC “Enseada das Estrelas e Suas Raízes”. 

O protagonismo comunitário, aliás, foi um dos pontos fortes nas três edições do festival. Além dos roteiros de TBC, comunidades pesqueiras levaram seus artesanatos e quitutes para apresentar ao público. Mais do que isso, levaram também suas vozes e reivindicações para as rodas de conversa que aconteceram durante o evento, abrindo diálogo não só com os visitantes da feira, mas com pesquisadores e autoridades que circularam pelo evento. 

“A gente precisa investir em criar uma identidade e um selo para o peixe que vem da pesca artesanal”, defendeu Robson Possidônio, da Associação dos Barqueiros e Pescadores Tradicionais de Trindade (ABAT), durante a roda de conversa Sustentabilidade da Pesca. “Pescar é um ato de resistência e para ter a pesca artesanal a gente precisa primeiro do território”, completou, se referindo às inúmeras ameaças e pressões que as comunidades tradicionais sofrem historicamente. 

Fazendo eco com as falas de quem sempre viveu do oceano, o festival também trouxe para o mesmo espaço inúmeras iniciativas relacionadas às ciências do mar, encurtando as distâncias entre o conhecimento científico e o dia a dia das pessoas. Diretamente das águas, teve exposição de animais marinhos, maquetes interativas sobre técnicas pesqueiras tradicionais e muita troca com crianças, jovens, adultos e idosos, que se encantaram com o universo da pesca e da conservação. 

“Muitos viram e tocaram nesses animais pela primeira vez, o que é muito gratificante. É uma sensação de concretização do projeto trabalhar com a divulgação científica, pois é inspirador e recompensador observar a reação positiva das pessoas.”, destacou Luciano Fischer, coordenador dos Projetos Salvar, Costões Rochosos e Multipesca, do Instituto NUPEM/UFRJ – apoiado pelo projeto Pesquisa Marinha e Pesqueira.

Em 2026, a maioria dos projetos do TAC Frade entra na reta final de sua execução. O Festival da Pesca, portanto, também foi um momento de celebração e de despedidas – mas não de adeus. Afinal, a julgar pelas trocas e pela integração que o evento proporcionou, as redes entre ciência, pesca e sociedade civil saem de lá com os nós mais firmes. “A gente não tinha noção da força que a gente tem”, vibra Luciana Passos, liderança que participou da feira com suas colegas da Associação Bonecas Negras, de Búzios.

Para ter um gostinho de como foram as edições do festival, temos alguns vídeos que você pode assistir aqui