Ano novo, casas novas

Costa Verde, Rio de Janeiro

O ano de 2026 mal começou e as boas novas já se anunciam para pelo menos duas unidades de conservação de uso sustentável no Rio de Janeiro. Com recursos do Projeto Apoio a UCs, a Área de Proteção Ambiental (APA) Cairuçu, em Paraty, se prepara para iniciar a construção de um Centro Cultural indígena. Enquanto isso, a Reserva Extrativista Marinha de Arraial do Cabo dá o pontapé em uma grande reforma em sua sede, também adquirida por meio do projeto. 

Com mais de quarenta anos de existência, 33 mil hectares no continente e 63 ilhas dentro de suas bordas, a APA Cairuçu tem os povos tradicionais como parte de seu DNA.  O decreto de criação da UC, de 1983, já trazia como objetivo “assegurar a proteção do ambiente natural (…) e as comunidades caiçaras integradas nesse ecossistema”. Anos depois, comunidades quilombolas e terras indígenas também foram reconhecidas pelo Estado brasileiro naquele mesmo território. E é justamente na Terra Indígena Parati-Mirim, do povo Guarani Mbya, que será erguido o Centro Cultural da Aldeia Itaxim. 

Concebido em diálogo permanente com a comunidade, o espaço nasce para fortalecer as práticas tradicionais e abrigar atividades coletivas, eventos, oficinas e reuniões. Tudo isso alinhado com as metas do Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) da terra indígena e com os objetivos do Plano de Manejo da APA – como o desenvolvimento comunitário e o ordenamento das atividades de uso público.

“Consideramos uma prioridade a atenção às comunidades tradicionais que vivem no território da APA Cairuçu”, diz Flávio Paim, analista ambiental no Núcleo de Gestão Integrada ICMBio Paraty. “E uma das metas do PGTA da Terra Indígena Parati-Mirim era justamente a construção de um centro cultural, um espaço multiuso que vai servir para encontros indígenas, rituais e também para receber visitantes nas ações ligadas ao turismo de base comunitária (TBC)”. 

O projeto arquitetônico já está pronto, e foi desenvolvido a partir de uma escuta atenta aos desejos da comunidade: a arquiteta convocada para a missão é filha de uma indigenista da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) que trabalha há décadas naquele território. “Ela cresceu visitando a aldeia com a mãe, então já tinha uma familiaridade e conseguiu desenvolver um projeto com os sonhos da comunidade”, diz Paim. A próxima etapa é contratar uma empresa para executar as obras, que devem ficar prontas ainda em 2026. 

Sede readequada

O ano também começa com obras em outra unidade de conservação. Neste caso, será na sede da Reserva Extrativista Marinha de Arraial do Cabo. A casa, que foi adquirida com recursos do Projeto Apoio a UCs e entregue ao ICMBio em novembro de 2023, já está em uso desde então pelos servidores do órgão e pelas comunidades que fazem parte da Resex. Mas agora, chegou a hora de adaptar o imóvel para que ele atenda às demandas da unidade. 

“A gente já sabia que qualquer imóvel comprado teria de ser adaptado. Hoje ele tem um perfil residencial, com salas, quartos, cozinha e até piscina – o que não é uma necessidade nossa. Então a reforma vem para adequar o espaço ao trabalho que desenvolvemos”, explica Leandro Goulart, gestor-chefe da Resex pelo ICMBio. 

Mesmo com as características atuais, a sede já mudou a história da UC. Criada em 1997, é a primeira vez que a unidade tem um imóvel próprio, espaçoso e confortável para abrigar as atividades e demandas da Resex. Enquanto a reforma não vinha, o uso do local já estava a pleno vapor. “Sempre tivemos espaços muito ruins e até insalubres para trabalhar. Então sentimos uma mudança muito grande com a nova sede: foi um salto na gestão”, diz Goulart. 

Segundo ele, desde que receberam as chaves do imóvel o local virou uma referência não só para os servidores mas também para os beneficiários da Resex, que se apropriaram rapidamente do espaço. “As associações que fazem parte do conselho deliberativo da UC já estão usando a sede para fazer reuniões específicas deles, até mesmo sem a participação do ICMBio. Então aqui já virou um espaço que as comunidades estão reconhecendo como delas também. Afinal, esta não é a sede do ICMBio e sim da Resex, que tem cogestão entre o poder público e a comunidade”, diz Leandro Goulart. 

Prevista para começar em breve e durar em torno de 270 dias, a reforma vai garantir novas salas de reunião, um auditório para cerca de 50 pessoas, mais espaço para o estacionamento dos veículos e a construção de um centro de visitantes. As expectativas estão nas alturas. “Com as mudanças, a ideia é que a gente consiga cada vez mais comunicar a importância da Resex e consolidar sua presença na região”, afirma o gestor-chefe da unidade.