Associação Bonecas Negras é pioneira na produção de artesanato com fibra de bananeira em Búzios

Com o apoio do Projeto Educação Ambiental, gerido pelo FUNBIO, essa ação é composta por mulheres nativas que trazem em suas histórias um legado de dedicação à pesca artesanal. 

Sempre há tempo de resgatar a memória e a cultura de um lugar. A Associação Bonecas Negras, com o apoio do Projeto Educação Ambiental, sob gestão do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO), promove iniciativas que fortalecem a cultura ancestral afrodescendente de Armação dos Búzios, na Região dos Lagos (RJ). Atualmente, a instituição é a única da região que desenvolve artesanato utilizando a fibra de bananeira, sob as mãos de mulheres nativas. 

“Cada mulher envolvida no projeto traz consigo uma história familiar ligada à pesca. Durante as capacitações, surgiram relatos incríveis e inspiradores. E, muitas delas, não enxergavam o artesanato como uma oportunidade de negócio”, destaca Luciana Passos, presidente da Associação. 

A história de Stefanie é um exemplo disso. “Procurei algo para sair de casa e conhecer pessoas. Nunca havia feito artesanato na vida. Minha mãe é uma artesã de mão cheia e pintora. Decidi participar para ver como era e acabei gostando! Pensei que iria trançar logo de cara, mas quando cheguei, descobri que precisaríamos desfibrar. Fui me empolgando e gostando da experiência, e nunca imaginei que seria selecionada para levar meu trabalho a uma feira em São Paulo”, conta ela. 

Desde o início do curso de formação, realizado entre março e dezembro de 2024, a Associação capacitou 28 mulheres nativas, das quais seis continuam ativas no projeto. “Muitas participantes abraçaram a oportunidade de aprender uma técnica inovadora para criar belíssimas cestas com fibras de bananeiras, sem imaginar que poderiam gerar renda com isso. O resultado foi um verdadeiro sucesso: atendemos a pedidos que superaram a venda de 10 peças para pousadas e lojas da região”, orgulha-se Luciana Passos. 

Salete, uma das participantes, compartilha sua experiência bem-sucedida nesse sentido: “Tenho 30 anos e sou totalmente buziana, nascida e criada aqui. Faz cinco meses que ingressei na Bonecas Negras. Eu era dona de casa e não tinha certeza se minha participação no projeto traria resultados, mas desde então consegui gerar uma renda a partir do zero. Agora, faço parte da Associação e estou me tornando uma microempresária. Tudo está fluindo bem. Estamos conseguindo construir nossa renda devagar, mas com firmeza. E é isso, sigo em frente!”. 

Técnica de produção  

De acordo com Luciana, o processo de produção é detalhista e delicado. “Começamos com o caule da bananeira, desfibrando-o em várias faixinhas e colocando-os para secar. Em seguida, dependemos do tempo, aguardamos o momento certo para iniciar o trançado do material. É um trabalho diferenciado, repleto de sutileza”, detalha ela. 

Atualmente, o principal objetivo da Associação é garantir uma produção constante para atender às demandas das pousadas locais, que frequentemente solicitam cestas de café da manhã e itens decorativos para os quartos. 

“Nos últimos dois meses, entre dezembro e janeiro, vendemos cerca de 50 cestas. Nossos próximos passos incluem estruturar nossa produção para acompanhar a demanda crescente. Além disso, estamos finalizando nosso site e investindo em diversas plataformas digitais para ampliar a comercialização dos nossos produtos”, conclui Luciana.