A última quinta-feira de novembro começou com muita troca e reflexão para seis iniciativas apoiadas pela Chamada de Projetos 26/2024 voltada ao Fortalecimento Institucional – fase 2 do TAC Frade. Representantes dos projetos Autonomia de Pedro, Formação de Jovens para Pesca, Nosso peixe, Fortalecimento da maricultura, Marés de Pacobaíba e Economia do mar estiveram na sede do FUNBIO para fortalecer o compromisso coletivo com a troca de experiências.
As organizações reunidas no evento apresentaram o andamento e conquistas de projetos espalhados por toda costa do estado do Rio. Da Região dos Lagos ao Norte Fluminense, passando pela Costa Verde e chegando até Copacabana, onde resiste a histórica Z13, última colônia de pescadores ainda ativa na capital.
É por lá que o projeto Jovens Pela Pesca promete trazer renovação para pesca artesanal por meio da formação de jovens moradores das comunidades da região. “A capacitação se sustenta em saberes tradicionais, técnicas de navegação, educação ambiental, costura de rede e práticas de bordo. Nós queremos que esse jovem olhe para pesca como uma opção de futuro”, diz Mirta Dandara, representante do Núcleo Canoas que apoia juridicamente a colônia Z 13.
Está é a segunda turma do projeto, que agora prevê a disponibilização de um barco-escola, onde os jovens terão a oportunidade de colocar em prática todo conhecimento aprendido com os mestres. “Nosso grande desafio, além de incentivar esse jovem para pesca, é mantê-lo interessado e engajado no curso”, declara Mirta.
Para engajá-los, ela conta que foi necessário estratégias personalizadas e escuta atenta para entender as motivações e dificuldades de cada aluno. Agora, com a chegada do tão esperado barco, prevista para fevereiro, a expectativa é que esses jovens vivenciem o contato com o mar de forma integral, aumentando o interesse pelo ofício da pesca artesanal.
Diversidade de trajetórias, desafios compartilhados
Mais do que acompanhar o andamento do trabalho, o encontro com os gestores e representantes das iniciativas que fazem parte do TAC-Frade nasceu de uma demanda dos próprios participantes, que solicitaram um “encontro de meio de caminho” para identificar sinergias e navegar juntos pelos desafios comuns dos projetos, ainda durante a execução das atividades, e não apenas ano término, como já era realizado.
Durante as apresentações, ficou evidente que as iniciativas muitas vezes são marcadas pelos mesmos obstáculos, sobretudo a burocracia, a necessidade de formalização e o esforço de mobilização comunitária. “Esses desafios são comuns a todas as comunidades que trabalham com a pesca artesanal”, argumentou José Luciano, do projeto Nosso Peixe da Colônia Z5, em Arraial do Cabo.
O projeto, que já instalou três câmaras frias, pretende organizar a cadeia produtiva do pescado da Colônia, com a compra de um caminhão frigorífico, instalação de placas solares para tornar a produção de gelo mais acessível e a implantação de mais duas câmaras frias. O desafio é duplo: vencer a dependência exclusiva dos atravessadores e engajar pescadores acostumados ao retorno financeiro imediato. “O papel das lideranças muitas vezes está na mediação de conflitos. Por isso, colocamos na capacitação do projeto um módulo sobre o tema, justamente pensando nisso”, argumenta Felipe Duval, oceanógrafo e consultor FUNBIO, ao elogiar a habilidade de mediação de conflitos desenvolvida pelos pescadores.
Outra iniciativa que trilha um caminho similar, é a Marés de Pacobaíba, em Magé, que recentemente conseguiu finalizar os trâmites da compra do seu primeiro caminhão frigorífico. Agora, o projeto se prepara para a fase de comercialização, que precisa da a ampliação de parcerias estratégica e apresenta desafios burocráticos. “Entrar no PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) de Magé foi um marco, ainda que cercado por exigências sanitárias difíceis de aplicar à realidade artesanal.”, conta Michel Theophilo da Associação Livre dos Pescadores Artesanais de Guia de Pacobaíba (ALPAGP).
Entre avanços e travessias, o momento de perguntas transformou-se rapidamente em construção conjunta. As conquistas de um grupo inspiravam decisões de seus pares e as dúvidas ecoavam nas preocupações de outros. Sugestões de trocas, ofertas de serviços, aprendizados e até convites para parcerias indicaram o surgimento espontâneo e ainda informal de uma rede de apoio.
Capacitação para promover autonomia
“É um projeto que traz um olhar de autonomia e sustentabilidade pensando nas futuras gerações”, resume Philipe Lima , engenheiro florestal do projeto Autonomia de Pedro, localizado Colônia Z 22 em Rio as Ostras.
O projeto trabalha para otimizar a operação de um entreposto de pesca subutilizado desde 2001, além de estruturar fábrica de gelo, manutenção de embarcações, plano de resíduos e ações de educação ambiental. As ações miram na autonomia pesqueira, o fortalecimento das futuras gerações e o cuidado com o meio ambiente. “É essa cadeia de ações que vai resultar em um bem para o meio ambiente”, argumenta Abraão Ney presidente da Z 22.
Pensando nos caminhos que levam ao empoderamento dos pescadores, a ONG Clima Ecológica destacou o trabalho de reestruturação institucional de quatro associações de pesca por meio do projeto Economia do Mar na Baía de Guanabara II. Revisão de estatutos, formação com a Marinha, oficinas de boas práticas e cursos que vão da construção naval ao conserto de motores, figuram entre as iniciativas da ONG. Mas é a frente que prepara pescadores para acessar editais públicos a que mais contribui para autonomia estabilidade profissional
“Desafio é o processo de articulação, trabalhar agendas e necessidades dos parceiros, adequar o seu projeto à realidade local, temos que fazer ginástica. Estamos sempre aprendendo, o saber das caiçaras enriquece a gente também. As nossas travessias são enriquecidas pelo saber tradicional”. – Elano XX, presidente da ONG Clima Ecológica.
A troca franca sobre desafios e trabalho conjunto trouxe aprendizados práticos para futuras chamadas de projetos. As falas, inquietações e conquistas revelaram que, embora cada projeto siga sua própria corrente, todos compartilham marés semelhantes e podem se fortalecer mutuamente. Afinal, ninguém navega sozinho.
Imagem: divulgação FUNBIO
A realização dos projetos Apoio a UCs, Conservação da Toninha, Educação Ambiental e Pesquisa Marinha e Pesqueira é uma medida compensatória estabelecida pelo Termo de Ajustamento de Conduta de responsabilidade da empresa PRIO, conduzido pelo Ministério Público Federal – MPF.