Ensino flutuante

Carinhosamente apelidado de Tubarão Azul por suas cores e formato, o navio Ciências do Mar III (CM-3) está completando exatamente um ano desde que começou a ganhar o alto mar. Sob gestão da Universidade Federal Fluminense (UFF) e servindo como um poderoso instrumento de formação para mais cinco instituições de ensino e pesquisa do Sudeste brasileiro, a embarcação já realizou 20 cruzeiros e recebeu quase mil estudantes até aqui. E é só o começo.

“Nosso laboratório de ensino flutuante é o único do gênero na região Sudeste visando o ensino, a extensão e a pesquisa. É o único com tantos equipamentos que propiciam um rol de pesquisas em diferentes áreas, como a oceanografia, a biologia, a geologia, a física e a química”, afirma o professor Marcus Rodrigues da Costa, da UFF.

Tantos atributos já transformaram o Ciências do Mar III em um marco na história dos cursos voltados para essas áreas. O navio faz parte de um projeto maior iniciado 17 anos atrás pelo governo brasileiro, quando o Ministério da Educação investiu na construção de quatro embarcações (Ciências do Mar I, II, III e IV) que, de Norte a Sul, cumpririam o mesmo papel nas diferentes regiões da costa nacional.

Desde 2020 atracado em Niterói, no Rio de Janeiro, o Tubarão Azul amargou uma pandemia no meio do caminho. Mas foi tempo suficiente para que seus três laboratórios fossem equipados com o que há de mais moderno no mundo das ciências do mar, através de recursos do Projeto Pesquisa Marinha e Pesqueira. Lupas, microscópios, ecossondas e até um veículo submarino remoto (ROV) que alcança 300 metros de profundidade têm tornado as experiências a bordo momentos inesquecíveis – para os estudantes e professores.

“O mais espetacular é poder usar uma série de equipamentos que facilitam muito o entendimento do que falamos em sala de aula”, diz o professor da UFF. E isso vai desde a coleta e análise de microrganismos ao avistamento de baleias, golfinhos e outros animais marinhos.

Na primeira expedição que percorreu a costa capixaba, em março deste ano, os alunos da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) assistiram emocionados a imagens em alta definição de um dormitório com oito tubarões captadas ao vivo pelo ROV. “Tudo isso é fantástico. Os estudantes ficam tão deslumbrados e instigados pelo novo que nos momentos de descanso ou à noite eles querem continuar aprendendo, experimentando, trocando”, conta Marcus.

Além da UFF e da UFES, o Ciências do Mar III também contempla as universidades Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Estadual Paulista (UNESP), Federal de São Paulo (UNIFESP) e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (IFES). Para dar conta de tantas demandas, o CM-3 tem um comitê gestor na UFF composto por quatro pesquisadores, além de um comitê regional com representantes de cada instituição parceira. É por meio deles que as agendas de uso vão sendo construídas coletivamente.

Durante o primeiro ano de navegação, o navio de 32 metros de comprimento já passou pelos litorais do Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e Paraná, arrebatando as mentes e corações de aproximadamente 350 estudantes de pós-graduação e 250 alunos de graduação, além de 150 crianças e adolescentes de escolas públicas que visitaram o navio atracado. 

“Isso é o que chamamos de atendimento qualificado”, diz Marcus, orgulhoso do que o Ciências do Mar III conquistou até aqui. “Tenho plena certeza de que estamos no caminho certo, propiciando novos conhecimentos para distintos níveis de escolaridade e capacitando futuros cientistas nas diversas áreas de conhecimento”.

“Temos uma embarcação de pesquisa de primeiro mundo. Agora a gente pode – e deve! – fazer pesquisa de ponta”, diz.

E ninguém tem dúvidas de que isso já está acontecendo.


Texto escrito por Bernardo Camara.

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