Festival da Pesca – Feira de Projetos do Mar leva diversão para os cariocas enquanto educa sobre o mar 

Nos dias 20 e 21 de setembro, os sabores e saberes do mar inundaram a Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, na primeira edição do Festival da Pesca – Feira de Projetos do Mar. O evento, que reuniu mais de mil visitantes ao longo do fim de semana, superou as expectativas dos organizadores. Famílias, estudantes, pesquisadores e comunidades pesqueiras se divertiram enquanto celebravam o encontro entre ciência, cultura e tradição. 

A pesca artesanal e a biodiversidade marinha foram destaque nos 30 quiosques que materializaram iniciativas apoiadas com recursos do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) FRADE e geridos pelo Fundo Brasileiro para Biodiversidade (FUNBIO). Em clima de celebração, os quatro grandes projetos que integram o TAC Frade, Conservação da Toninha, Pesquisa Marinha e Pesqueira, Educação Ambiental e Apoio a UCs compartilharam importantes resultados dos últimos anos e encantaram o público exibindo as belezas do mar. 

“Muitos estão vendo e tocando nesses animais pela primeira vez, o que é muito gratificante. É uma sensação de concretização do projeto trabalhar com a divulgação científica, pois é inspirador e recompensador observar a reação positiva das pessoas.”, destacou Luciano Gomes Fischer, coordenador do Projeto Salvar, do Instituto NUPEM/UFRJ – apoiado pelo projeto Pesquisa Marinha e Pesqueira. Quem passou pela barraca do projeto encontrou tubarões e raias preservados em álcool, além de animais vivos, coletados no início do dia, como, por exemplo, ouriços-do-mar, pepinos-do-mar, que podiam ser tocados pelos participantes, o que instigou a curiosidade do público de todas as idades. 

Das atividades lúdicas para as crianças a rodas de conversa, passando por oficinas de artesanato e experiências gastronômicas, o festival mostrou que a Costa Fluminense é fonte de conhecimento e cultura. “Eu gostei muito, foi uma surpresa agradável, porque estávamos trabalhando em sala sobre animais marinhos e agora eu sei que tem tantos projetos.”, contou Karina Borisa, estudante de pedagogia, que levou seus alunos para vivenciar a feira.  

Luciano Gomes Fischer, coordenador do Projeto Salvar, do Instituto NUPEM/UFRJ – apoiado pelo projeto Pesquisa Marinha e Pesqueira. Foto: Joaquim Lima/FUNBIO

As mulheres que constroem seu lugar na pesca 

Além de aproximar a pesquisa da sociedade, o evento também foi um espaço de valorização das comunidades locais. “Essa associação foi formada para mulheres se libertarem, produzirem e ter a sua própria renda financeira, para não ficar só dependendo de marido ou só da pesca”, contou Daize Menezes, representante da Associação de Mulheres Pescadoras do Litoral do Rio de janeiro (AMUPESCAR), que produz artesanato sustentável a partir de insumos do mar da Baía de Guanabara e no festival serviu croquetes, empadas e quibes, todos feitos de pescados. 

Nesse contexto, o presidente da Associação de Pescadores e Pescadoras Artesanais da Resex de Itaipu e Lagoa de Itaipu (APPREILI), Jairo Augusto da Silva, reforçou o papel do festival como motor de mudança social ao mostrar “tanto a questão do fortalecimento institucional como a cadeia produtiva, na gastronomia, nos produtos da sociobiodiversidade”. Para ele, os recursos do TAC foram essenciais para impulsionar o engajamento de jovens e mulheres nas atividades pesqueiras, quebrando paradigmas e oferecendo oportunidade de que essas populações superem os processos de gentrificação impulsionados pelo turismo desregulado.

Dos tubarões à toninha: a diversidade da vida marinha 

Danielle Monteiro e Liane Dias do projeto Toninhas do Sul, do ECOMEGA, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (FURG). Foto: Joaquim Lima/FUNBIO

As barracas e atividades interativas na Quinta da Boa Vista buscaram trazer de forma lúdica os desafios enfrentados por algumas espécies marinhas. Com a produção de toninhas de pelúcia, as iniciativas apoiadas pelo projeto Conservação da Toninha, abordaram a realidade dessa espécie de golfinho ameaçada de extinção pela pesca não intencional. 

Para as pesquisadoras Camila Domit e Danielle Monteiro, participantes do projeto de Conservação da Toninha, a feira tem um papel fundamental para impulsionar o diálogo e “encontrar soluções com as comunidades pesqueiras para reduzir a mortalidade das toninhas nas redes de pesca”, explica Danielle, representante da iniciativa Toninhas do Sul, do ECOMEGA, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (FURG). 

Camila, pesquisadora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e representante da iniciativa Toninha na área de manejo 2, reforça que “dialogar com as pessoas que estão no dia a dia tomando decisões” é essencial para que o conhecimento atravesse os “muros das universidades e traga resultados para preservação da espécie.” 

Já para os tubarões, Luciano Gomes Fischer, coordenador do Projeto Salvar, destacou que o festival foi justamente esse espaço para “desmistificar que são perigosos”. Assim, uma arcada se transformou em “boca de tubarão” para a brincadeira conhecida popularmente como “boca de palhaço”, se tornando um dos pontos altos para os pequenos visitantes. 

Luciano ressaltou que, ao longo da execução do projeto, os recursos do TAC foram tão bem aproveitados que foi possível ampliar os resultados, construindo um laboratório de quase 300 metros e um museu para abrigar as coleções biológicas da universidade, “uma área que não existia na UFRJ em Macaé”, complementa. Hoje, a estrutura já recebe mil crianças por mês e oferece um espaço de referência para ciência, educação e conservação. Segundo ele: “o projeto começou a crescer mesmo depois do projeto do TAC”, celebra.
 

As histórias ao redor de FRADE  

Cátia Antônia da Silva, professora do departamento de geografia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Foto: Joaquim Lima/FUNBIO

Para Emerson Nepomuceno, Analista Ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), o evento foi uma oportunidade única de “dar uma devolutiva para a sociedade” em relação ao compromisso assinado há mais de dez anos, por meio do Termo de Ajustamento de Conduta do Campo de Frade. “Eu acho que isso tudo potencializa uma gestão mais bem qualificada da pesca e ambiental aqui no Rio de Janeiro. Então, o TAC é um apoio fundamental e tem sido utilizado de forma muito importante para a gente fortalecer essas redes da nossa região”, declarou Emerson.
 

Para Rafael Pereira, presidente da Associação de Caranguejeiros e Amigos do Mangue de Magé (ACAMM) apresentar os resultados do trabalho é “levar ao público uma história de superação”. Ele reforça que graças ao projeto as mulheres da associação têm novas oportunidades de renda e podem compartilhar os conhecimentos ancestrais do território.

“ Houve uma evolução da cozinha das caranguejeiras. Muitas das vezes elas ficaram com seus conhecimentos dentro do território. A associação proporcionou para elas uma segunda renda na sua casa, além do esposo que pesca. É uma cadeia produtiva dentro do ciclo familiar. Hoje esse evento está podendo demonstrar isso” 

O Festival terá mais duas edições em 18 e 19 de outubro em Armação dos Búzios e 29 e 30 de novembro em Paraty e se consolida como espaço de educação ambiental para crianças e jovens, a partir da curiosidade e consciência sobre a importância de proteger o mar.  


A realização dos projetos Apoio a UCs, Conservação da Toninha, Educação Ambiental e Pesquisa Marinha e Pesqueira é uma medida compensatória estabelecida pelo Termo de Ajustamento de Conduta de responsabilidade da empresa PRIO, conduzido pelo Ministério Público Federal – MPF.

Fotos: Joaquim Lima/FUNBIO