Filha de peixe peixinho é

Créditos: Juliano Januário

Não tem quem more na Ilha Grande, em Angra dos Reis (RJ), e não conheça a Brigada Mirim Ecológica (BMEIG). Com mais de 30 anos de história naquele território, a organização é daquelas que os pais sonham em ver os filhos participando. E foi assim mesmo com Silmara Ribeiro. Desde criança, o pai lhe cantava para que ela se tornasse uma brigadista – como são chamados os jovens que atuam nos projetos da instituição. A insistência foi grande, mas valeu a pena: hoje com 18 anos, Silmara não só faz parte da Brigada como se tornou a primeira mulher a ser contratada como monitora após atingir a maioridade..

“Eu estou muito, muito, muito feliz e realizada com o trabalho que tenho hoje”, diz ela, sem deixar dúvidas sobre a importância que a organização teve em sua caminhada. Com equipes espalhadas por 8 praias da Ilha Grande – Vila do Abraão, Abraãozinho, Sobrado, Bananal, Saco do Céu, Praia da Longa, Dois Rios e Palmas –, a Brigada Mirim nasceu em 1989, por iniciativa dos próprios moradores, incomodados com o crescimento desordenado e predatório do turismo local. Desde então, a BMEIG vem fisgando jovens de 14 a 17 anos para dedicarem 3 horas diárias a atividades socioambientais e educativas pela ilha.

Créditos: Juliano Januário
Créditos: Juliano Januário

Atualmente, são 32 jovens atendidos, sendo 17 meninos e 15 meninas. Os projetos são variados. Um deles incentiva a reciclagem de resíduos gerados por moradores e turistas nas praias e pousadas da Vila do Abraão. Outro já produziu mais de 30 mil mudas para reflorestamento das matas que margeiam a estrada para a praia de Dois Rios. Tem ainda os mutirões de limpeza nas praias, a sinalização de trilhas e a Fazenda Marinha, que envolve os jovens no cultivo de algas e moluscos na praia do Sobrado.

Esta última iniciativa, aliás, recebe apoio do Projeto Pesquisa Marinha e Pesqueira desde 2023, o que possibilitou a compra de embarcações novas, a contratação de um monitor técnico de maricultura, a realização de um curso de mergulho, entre outras ações que melhoraram as condições de trabalho dos brigadistas e aumentaram a capacidade produtiva do local. Silmara já passou dias e dias trabalhando na Fazenda Marinha, quando era brigadista. E lembra que aprendeu muito ali.

“Alga, para mim, era só uma coisa que ficava agarrada na pedra. Hoje eu sei que além da importância ambiental ela tem muitos usos possíveis, como na comida e até em cosméticos”, ensina ela. “Quando eu entrei na Brigada Mirim eu tinha a cabeça muito vazia, e com o decorrer do tempo aprendi muito, mudei minha visão sobre várias coisas, inclusive sobre a preservação do ambiente onde eu moro. Sabe aquele ‘meme’ da cabeça explodindo? Então, essa fui eu nos últimos anos”, conta rindo.

Créditos: Juliano Januário
Créditos: Juliano Januário

Hoje, Silmara não passa apenas três horas na Brigada Mirim. Como monitora, ela cumpre carga horária de gente grande. E como no ciclo das águas que vêm e vão, ela passa adiante os conhecimentos que foi acumulando ali mesmo ao longo dos anos. “Antes eu enchia a cabeça dos monitores. Agora os adolescentes que enchem a minha cabeça. Tudo é Silmara”, diz, achando graça.

Influenciada pela presença e pelo trabalho de outra mulher, a engenheira de aquicultura Cristiane Zanella – que coordena a parte técnica da Fazenda Marinha –, Silmara agora faz questão de alimentar a autoconfiança entre a juventude da Ilha Grande. “O que eu puder fazer para ensinar e inspirar os jovens eu vou fazer. Especialmente as meninas, que podem pensar: se a Silmara conseguiu chegar lá, talvez eu também consiga”.

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