Mais de 70% da superfície da Terra é coberta por água, 97% proveniente dos mares e oceanos. Tubarões e raias têm papel central no equilíbrio do ecossistema marinho, pois promovem o controle populacional, genético e sanitário por estarem no topo da cadeia alimentar. De acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Brasil abriga aproximadamente 145 espécies marinhas de elasmobrânquios, sendo 57 raias e 88 tubarões, dentre eles tubarão-cabeça-chata, tubarões-martelos e tubarão-baleia. Os tubarões e raias são ameaçados pela pesca irregular e pelo efeito de contaminantes da água, como medicamentos, plástico, metais e cosméticos. Ao protegê-los, contribuímos para a conservação do planeta. O 3º Seminário do Projeto Pesquisa Marinha e Pesqueira marcou o encerramento dos subprojetos do Componente Tubarões e Raias, reunindo profissionais dedicados à pesquisa e à proteção desse grupo.
Entre os dias 27 e 29 de fevereiro de 2024, representantes do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), da PRIO e dos projetos apoiados reuniram-se no Rio de Janeiro para apresentar os resultados e debater o Plano de Ação Nacional para Conservação de Espécies Ameaçadas de Extinção (PAN) de Tubarões e Raias. Os representantes dos quatro subprojetos que receberam recursos do projeto Pesquisa Marinha e Pesqueira apresentaram os resultados e conclusões de seus estudos que resultaram em coleta de material, análises, produções e divulgações acadêmicas, além de atividades de sensibilização da população.
“A partir do momento que você tem financiamento para estudar esse grupo e gerar melhores condições de políticas públicas de conservação e gestão, você beneficia todo o ecossistema marinho. Esse apoio permitiu que contratássemos agentes de campo da comunidade pesqueira, possibilitando que a universidade tivesse uma relação mais próxima com os pescadores que capturam as raias e tubarões. Além de capacitar mais pesquisadores no estudo de tubarões e raias, equipar laboratório e assim gerar muito mais conhecimento”, afirmou Marcelo Vianna, professor do Laboratório de Biologia e Tecnologia Pesqueira da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele apresentou os resultados do subprojeto Demografia, sensibilização e monitoramento pesqueiro de tubarões e raias: subsídios a conservação, que produziu um guia fotográfico de identificação de campo de tubarões e raias e diversos materiais de divulgação acadêmica, além de ações de sensibilização para desconstrução da imagem negativa dos tubarões, junto à população em geral.
Créditos: Thiago Camara/FUNBIO
Mariana Batha Alonso, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da UFRJ, apresentou o ECOSHARK – Ecologia e conservação de tubarões do Rio de Janeiro: compostos orgânicos emergentes e padrões de movimentação, que identificou uma agregação de tubarões gralha-preta na Baía da Ilha Grande, uma possível área de berçário, maternidade ou refúgio para fêmeas grávidas e a possibilidade de criação de um santuário dos tubarões na região. “O Brasil é o sétimo país em diversidade de espécies de tubarões. A educação ambiental é muito importante para sensibilizar a população para a conservação desse grupo. Precisamos traduzir os dados das pesquisas acadêmicas para que alcancem mais pessoas”, afirmou Mariana.
Rachel Ann Hauser-Davis, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), apresentou o subprojeto Efeitos de contaminantes persistentes e petrogênicos na saúde e resiliência de raias e tubarões e implicações para a conservação, que resultou em dados inéditos sobre o tema, como encontrar contaminação por diversos medicamentos como antidepressivos, além de metais tóxicos e outros contaminantes novos usados em equipamentos tecnológicos e transferência materna de contaminantes.
E Luciano Fischer, professor da UFRJ, Campus Macaé, apresentou o subprojeto SALVAR – Ciência para conservação de tubarões e raias do sudeste sul do Brasil, que realizou análise dos principais aspectos relacionados aos tubarões e raias ameaçadas de extinção da região, como identificação de populações, idade e crescimento, reprodução e avaliação das capturas incidentais. O estudo de Fischer identificou espécies, realizou estudos sobre contaminantes, reprodução, dieta e ingestão de plástico, com produções acadêmicas, formação de corpo cientifico, alunos e pós-graduandos, além de campanhas de sensibilização e de educação ambiental.
Créditos: Thiago Camara/FUNBIO
Com o apoio dos recursos do projeto Pesquisa Marinha e Pesqueira, os subprojetos chegaram à fase de encerramento, mas seus resultados seguirão reverberando em mais ações de conservação, pesquisa e mobilizações em prol desse grupo.
O projeto Pesquisa Marinha e Pesqueira é uma medida compensatória estabelecida pelo Termo de Ajustamento de Conduta de responsabilidade da empresa PRIO, conduzido pela Ministério Público Federal – MPF.