Se tem uma coisa em que o Turismo de Base Comunitária (TBC) se apoia é na inteligência coletiva. E isso mais uma vez ficou evidente no seminário que encerrou as iniciativas de TBC do Projeto Educação Ambiental, no último mês de maio. Ali, o que era para ser fechamento virou um novo começo: os sete subprojetos participantes saíram do encontro com a proposta de criar uma rede de colaboração e apoio entre si.
“Muitas questões são comuns a todos os territórios. Então juntos podemos dividir o que cada um já viveu, antecipar problemas, sugerir alternativas que já foram encontradas. Isso poupa tempo, poupa energia. E fortalece as comunidades”, diz Milena Manhães, que deu assistência técnica ao subprojeto Pescando Tradições e Compartilhando Saberes.
A própria iniciativa onde Milena atuou já não nasceu solitária: veio ao mundo aglutinando desejos e sonhos de cinco associações de pescadores artesanais que vivem no entorno da Lagoa de Araruama, na Região dos Lagos. “Trouxemos a ideia da gestão compartilhada antes mesmo de o projeto ser criado, e durante toda a sua execução”, conta ela.
Foi desta forma, em rede, que todas as associações deram passos à frente. Além das embarcações e dos equipamentos de turismo adquiridos de forma conjunta – como lanchas, coletes salva-vidas, máscaras de mergulho etc. –, o curso preparatório para condução de barcos também contemplou a turma toda, assim como os intercâmbios promovidos entre pescadores artesanais.
A quase 400 quilômetros dali, no município de Paraty, a construção coletiva também deu o tom no subprojeto Roteiro Caiçara. A começar por sua ideia principal: criar um percurso turístico que integrasse todas as comunidades caiçaras daquela região costeira. Somente de condutores ambientais formados, foram 80 pessoas. E pelas oficinas de empreendedorismo, manipulação de alimentos, marketing digital e outras voltadas ao TBC, somaram-se mais de 100 participantes.
“O projeto conseguiu conectar todo mundo: O roteiro está pronto. O site vai ao ar em breve. Montamos uma associação de condutores ambientais. E conseguimos nos aproximar dos órgãos públicos”, comemora Cauê Villela, líder comunitário e coordenador da iniciativa.
Ninguém solta a mão de ninguém
Com tantas vivências em teia, não é de se espantar que o seminário de encerramento das iniciativas de TBC tenha terminado com a construção de uma rede. Em dois dias de imersão, os sete subprojetos que antes atuavam dispersos pelo litoral fluminense decidiram que, a partir dali, seguiriam de mãos dadas.
“Com o seminário, além de perceber que as facilidades e dificuldades são muito parecidas nas diferentes regiões, a gente pôde conhecer o potencial de cada pessoa, cada comunidade. E nos perguntamos: por que em vez de estar isolado a gente não se junta para dar suporte um ao outro?”, diz Cauê.
E o papo não é fogo de palha: as lideranças saíram do encontro com grupos de trabalho formados e missões definidas para botar de pé. Enquanto algumas pessoas estão escrevendo um documento para consolidar os objetivos e a estrutura de funcionamento da rede, outras estão fazendo um levantamento com as iniciativas e a legislação voltadas para o TBC no Rio de Janeiro.
A ideia é que, aos poucos, este pequeno grande grupo vá trocando informações, experiências e vá empurrando coletivamente as demandas por leis e políticas públicas mais adequadas e eficientes para o Turismo de Base Comunitária. A princípio, nos municípios e territórios onde estão presentes. E no futuro, quem sabe, a rede se multiplique para ganhar todo o estado do Rio de Janeiro.
“O objetivo não é exatamente fortalecer o Turismo de Base Comunitária. E sim fortalecer as comunidades tradicionais do Rio por meio do TBC”, explica Milena. E Cauê complementa: “Esses projetos foram um grande trampolim para muitas coisas que ainda estão por vir”, ele garante. “Nós já nascemos em rede”.