SUBPROJETO:
MULTISAR ECO-NUTRI CAIS AB

SUBPROJETO A CONTRIBUIÇÃO DE ESPÉCIES SUBEXPLOTADAS NA MANUTENÇÃO DA BIODIVERSIDADE MARINHA E SUA TRANSFORMAÇÃO EM RECURSO PESQUEIRO SUSTENTÁVEL: UMA ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR EM ECO-NUTRIÇÃO

Entre as diversas modalidades de pesca há o chamado descarte na produção, que se refere às espécies da fauna que acompanham a capturada na pesca e não são utilizadas comercialmente. A falta de aproveitamento adequado destas espécies faz com que haja sobreexploração daquelas que já possuem valor comercial, levando a um desequilíbrio ambiental e, até mesmo, à sua extinção. Uma das formas de equalizar este quadro seria conferir valor nutricional às espécies do descarte, levando à agregação de valor, inserção e aumento de demanda no mercado consumidor.

O Subprojeto A Contribuição de Espécies Subexplotadas na Manutenção da Biodiversidade Marinha e sua Transformação em Recurso Pesqueiro Sustentável: uma Abordagem Interdisciplinar em Eco-Nutrição, também chamado de Econutrição, realizado pelo Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (UFRJ), de 2016 a 2020 teve como principal objetivo caracterizar espécies de pescado da fauna acompanhante, por meio de uma abordagem interdisciplinar de ecologia, nutrição e saúde, visando contribuir para a ampliação de valor e para sua inserção no mercado consumidor.

Por que fazer?

A captura de camarão-rosa oceânico e do camarão sete-barbas é apontada como uma das principais vias de captura de fauna acompanhante de grande variedade de espécies. De uma maneira geral a captura de camarão possui uma razão de 9.3 kg de descarte para 1 kg de camarão capturado.1 Alguns estudos2 apontam que apenas 10% do descarte brasileiro têm sido aproveitados de alguma forma, outros afirmam que a captura de fauna acompanhante representa aproximadamente 57,9 % da captura marinha no país.

A avaliação do descarte de pescado é de grande relevância para fomentar a elaboração de políticas públicas, não só visando o uso dos recursos descartados em benefício dos pescadores, mas também dos consumidores. Sob a ótica da sustentabilidade, soluções que minimizem o impacto da captura de fauna acompanhante devem ser priorizadas. Uma das alternativas seria a criação de novos mercados comerciais para o descarte, e para isso, é necessário o comprometimento dos diferentes setores envolvidos com a pesca, tais como órgãos governamentais, reguladores do setor, pescadores e acadêmicos, para propor medidas corretivas para o descarte de pescado.

Há duas alternativas sugeridas para a resolução da questão da pesca acompanhante: a primeira envolve a modernização das técnicas de captura com a finalidade de redução das capturas acidentais e a segunda sugere a utilização das espécies da fauna acompanhante na alimentação humana e, até mesmo, o desenvolvimento de produtos à base de pescado para o mercado consumidor. Assim, estas espécies ao invés de retornadas ao mar poderiam ser aproveitadas na alimentação, reduzindo o esforço de pesca das espécies de valor econômico que se encontram sobrexplotadas, devido à captura excessiva, por décadas.

A produção e o consumo de alimentos produzidos, a partir das espécies pouco exploradas comercialmente, constitui uma alternativa para dar um destino nobre a elas, tanto do ponto de vista ambiental, devido ao aproveitamento do pescado, como do econômico e do social, devido à elaboração de produtos com valor agregado, gerando renda e rentabilidade para as indústrias e para os pescadores artesanais envolvidos com a transformação dessa matéria prima.

A perda da biodiversidade e as alterações ambientais são, normalmente, percebidas como problemas de segurança alimentar, especialmente, no que tange à oferta e acesso a alimentos. Para se atingir a totalidade de Segurança Alimentar e Nutricional4 da população, esforços devem ser realizados, envolvendo diversos campos de conhecimento.

A proposta deste Subprojeto segue a abordagem da Segurança Alimentar e Nutricional e enfatizou a contribuição das ciências nutricionais no desenvolvimento regional e na sustentabilidade da prática pesqueira, dentro do conceito da Eco-Nutrição.

A partir da informação nutricional e funcional da fauna acompanhante, pode ser definida recomendação dietética de forma a incentivar o consumo de espécies subexplotadas com embasamento científico. Como tais espécies possuem preço inferior às espécies sobrexplotadas, acredita-se que o consumo de pescado possa ser incentivado, principalmente para a parcela da população com baixa renda, a qual de acordo com dados do IBGE, não possui como prática o consumo de pescado. Além dos benefícios econômicos e ambientais oriundos do aproveitamento do descarte, é possível mencionar o positivo impacto do consumo de pescado na saúde humana.

O consumo de pescado tem sido consideravelmente promovido no Brasil com base em suas propriedades nutricionais e funcionais, que incluem o consumo de ácido graxo Omega-3, reconhecido pelos cientistas nutricionais pelo seu efeito anti-inflamatório e cardioprotetor.

Porém, sabe-se também que apesar de seu valor nutricional, o consumo de peixe pode expor os consumidores a compostos tóxicos, sendo considerado uma das principais rotas de contaminação de Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs). Assim, se pelo olhar nutricional o valor do pescado e seu conteúdo proteico é considerado de excelente qualidade e de fácil digestão, a perspectiva toxicológica também possui grande relevância visto que compostos halogenados8 são lipofílicos, isto é, de afinidade química com gorduras, e por esse motivo tendem a se acumular na cadeia de alimentos marítimos, representando uma significante fonte de exposição humana a estes poluentes. A contaminação de peixes por POPs é um aspecto importante já que estes compostos podem levar a problemas de saúde, tais como câncer e interferências hormonais.

Dessa maneira, o estudo da presença de compostos contaminantes nas espécies subexplotadas de pescado é também parte relevante do Subprojeto. A contribuição de espécies subexplotadas na manutenção da biodiversidade marinha e sua transformação em recurso pesqueiro sustentável: uma abordagem interdisciplinar em Eco-Nutrição.

Como foi realizado?

As atividades foram previstas de modo a contemplar os objetivos específicos do Subprojeto e atingir os resultados esperados.

Apesar de o laboratório de Radioisótopos possuir os equipamentos necessários, foi necessário a construção e adequação de protocolos de extração, identificação e determinação dos ácidos graxos e aquisição de materiais consumíveis e permanentes. Também foram realizadas obras e melhoramento e adequação da sala de extração, com a adaptação da estrutura geral da sala (reforma do piso e pintura das paredes, instalação de bancada, melhoria da instalação elétrica e instalação de um exaustor). Aquisição e instalação de equipamento (equipamento UPLC-MS/MS) para análise de micronutrientes/vitaminas.

Para o estudo das espécies acompanhantes subexploradas, foram coletadas e preparadas amostras que representassem toda a área geográfica das baías em estudo, de forma a fornecer dados significativos para a discussão do impacto de poluentes na saúde e no ambiente. As coletas dos exemplares de cinco espécies de pescado da Baía de Guanabara e da região da Baía de Ilha Grande – (bagre, espada, ubarana, savelha, sardinha boca-torta) foram realizadas em parceria com o Laboratório de Biologia e Tecnologia Pesqueira/UFRJ.

Foram realizadas coletas de cerca de 200 kg de pescado da costa do Rio de Janeiro; triagem e preparo de 50 amostras compostos das duas baías; produção de extratos para composição das informações nutricionais e determinação de poluentes no pescado.

Análises laboratoriais foram realizadas a fim de avaliar o nível de contaminação de espécies subexplotadas por micropoluentes nas Baía de Guanabara e Baía de Ilha Grande.

Foram caracterizados compostos halogenados, com a identificação de compostos naturais e ainda compostos antropogênicos nunca relatados para a região; determinação e quantificação de aminas biogênicas nas amostras de pescado.

Análises estatísticas contribuíram para avaliar as possíveis relações entre a contaminação, as espécies e o nível trófico12. Determinação da composição centesimal do pescado (percentuais de umidade, proteínas, cinzas, lipídeos, carboidratos) e o cálculo do valor energético fornecido por cada espécie; determinação e quantificação do conteúdo de ácidos graxos, vitamina D e minerais presente nas espécies estudadas. Quantificação de metais pesados e de poluentes orgânicos persistentes.

Eventos e orientação de alunos em nível de graduação e pós-graduação atuantes no Subprojeto, foram meios para a difusão de conhecimento gerado e formação de pesquisadores.

Principais resultados:

· A pesquisa registrou que o pescado da Baía de Ilha Grande apresentou maiores concentrações de ácido graxos do tipo ômega-3. Destacam-se três espécies que apresentaram maiores concentrações desses ácidos graxos, ubarana (Σ n-3 = 25,4%), sardinha boca-torta (Σ n-3 = 32,8%) e savelha (Σ n-3 = 16,9%) oriundas da Ilha Grande.

· Os conteúdos de vitamina D3 se revelaram maiores para peixes de hábitos alimentares que incorporam na dieta peixes e outros moluscos: bagre, espada e ubarana. Por outro lado, se pode notar que essas mesmas espécies da Baia de Ilha Grande apresentam conteúdos maiores de vitamina D3 em relação a Baia de Guanabara.

· A maioria das espécies apresentou um Índice de Aminas Biogênicas13 (IAB) de boa qualidade de carne, sendo as espécies espada e sardinha boca-torta foram as espécies com IAB mais elevados. No caso do peixe espada da baia de Guanabara só dois pools dos cinco analisados apresentaram valores altos de tiramina, podendo ser devidos a falta de refrigeração. No caso da sardinha boca-torta da Baía de Guanabara, o IAB foi alto inferindo uma qualidade de carne degradada. As variações entre os pools foram muito marcadas, isso pode estar relacionado a problemas de controle de temperatura durante a pesca ou durante a preparação das amostras. A maior contribuição de tiramina e histamina na baia de Guanabara foi a espécie sardinha boca-torta, enquanto na Baia de Ilha Grande a maior contribuição de tiramina acontece nas espécies espada e sardinha boca-torta.

· Foram realizadas orientações para dez alunos de graduação e pós-graduação e o aperfeiçoamento de três doutores (pós-doutorado).

· Produção audiovisual para divulgação do Subprojeto para o público em geral, disponibilizados no Youtube do Laboratório de Radioisótopos. Os vídeos acumulam mais de 200 visualizações.

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