Projeto ensina pescadores a construírem suas próprias embarcações de fibra de vidro

Créditos: Thiago Câmara/Funbio

Em breve mais uma embarcação estará pronta para ganhar o mar. Feitos pelos próprios pescadores três barcos e quatro canoas já podem navegar pela costa fluminense e até na Bahia, a partir da iniciativa “Compartilhar é construir: Tradição e modernização na pesca artesanal” realizada pela Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas e Povos e Comunidades Tradicionais Extrativistas Costeiros e Marinho (CONFREM) com apoio do Projeto Educação Ambiental sob gestão do  Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO).

Nos dias 6 e 7 de maio, encerra, em Itaguaí, a sétima oficina de construção de embarcações. Participam da última turma os pescadores da Associação dos Barqueiros e Pequenos Pescadores de Trindade (ABAT), de Paraty, que vão levar de volta para casa o produto produzido ao longo dos seis dias de curso. A proposta da oficina é ensinar todo o processo para a construção de embarcações feitas com fibra de vidro, de modo a gerar uma nova alternativa de renda, a partir da fabricação, manutenção e realização de adaptações que os alunos considerarem necessárias nas embarcações de suas comunidades e arredores, promovendo mais autonomia para os pescadores artesanais. Ao final da formação de cada oficina de construção de canoa ou barco, a instituição representativa da comunidade pesqueira participante ganha a embarcação que construiu. Essa será a última das sete oficinas já realizadas desde setembro de 2023, beneficiando 41 pessoas diretamente.

A partir dessa ação, duas instituições apoiadas pelo FUNBIO, CONFREM e ABAT, se encontraram para troca de conhecimento. A ABAT também recebe recursos do Educação Ambiental para a iniciativa “Boas Práticas no Mercado Comunitário Caiçara de Trindade” com o objetivo de ampliar a capacidade da pesca artesanal, que é parte da identidade caiçara, além de desenvolver a potencialidade de comercialização desses produtos. A pesca artesanal depende do conhecimento ancestral que os pescadores detêm sobre o ambiente e os recursos naturais marinhos. A força de trabalho envolve familiares, parentes e vizinhos, em tarefas realizadas em grupo, o que contribui para a manutenção da união e coesão das comunidades.

Créditos: Thiago Câmara/Funbio
Créditos: Thiago Câmara/Funbio

“Esse projeto visa o coletivo da pesca. Uma comunidade pesqueira vem aqui e constrói uma canoa dessa por aproximadamente 30 mil reais. Se você for comprar essa mesma canoa no mercado, vai pagar perto entre 80 e 100 mil reais. Tem toda uma importância. Porque é feita pelos comunitários e não tem mão de obra, encargos, taxas, impostos e nem lucro de ninguém. Tudo feito para uso da comunidade mesmo”, explica Flávio Lontro, coordenador-geral da CONFREM.

Lucimar Machado, 48 anos, Presidente da Associação de Pescadores Lutando pela vida, em Magé, participou de uma das oficinas e sabe como a autonomia pode fazer a diferença na vida dela e de tantas outras mulheres.

“Eu e mais seis mulheres fomos convidadas a participar do projeto com a missão de em uma semana aprender a construir um barco e nós conseguimos em quatro dias. A experiência é enriquecedora. A minha filha também participou e foi muito importante como mulher e mãe, vê-la aprendendo algo novo e se apaixonando por aquela atividade. Minha filha chegou a dizer: “Mãe eu já sei o que eu quero ser na vida. Eu quero construir barcos”.  Fiquei muito feliz em ouvir isso. A oportunidade que o projeto tem nos ofertado é de extrema relevância para nos ajudar a fazer o dinheiro chegar na ponta como nos pescadores e catadores de lixo, e tem sido muito importante pra gente, pois estamos conhecendo outras formas de trabalhar dentro da área que a gente já atua. Uma experiência que nós nunca vamos esquecer. Queremos construir um espaço para continuar aprendendo e a construir nossos próprios barcos.”, conta Lucimar.

Flávio diz que as oficinas realizadas deixam um legado para a comunidade pesqueira do litoral do Rio de Janeiro. “Se amanhã acabar o projeto, por exemplo. as formas da canoa e do barco estão à disposição das comunidades que quiserem vir construir outros. Não estão à venda”, explica ele.

 

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