Rede Maricultura: como a integração de saberes impulsiona o empreendedorismo no litoral do Rio de Janeiro

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Quando Júlio César Avelar, oceanógrafo e consultor ambiental, começou a trabalhar no projeto “Cultivo Multitrófico” em 2023, ele já carregava mais de três décadas de experiência com a maricultura e a pesca. Mesmo assim, o efeito multiplicador do trabalho realizado, com a criação da Rede Maricultura, apontava uma nova fase para a atuação de Júlio e para os negócios dos moradores da Costa Verde fluminense. 

“A maior relevância se deu neste processo de articulação entre as instituições, que, apesar de ser um novo desafio, consolida o sucesso da integração dos projetos.” celebra, Júlio sobre a criação da Rede Maricultura.  

A capilaridade da iniciativa, que hoje conecta instituições públicas, pesquisadores, maricultores e gestores locais, é parte do projeto Pesquisa Marinha e Pesqueira, uma medida compensatória estabelecida pelo Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) Frade, de responsabilidade da empresa PRIO, conduzido pela Ministério Público Federal – MPF, com a gestão do FUNBIO — Fundo Brasileiro para a Biodiversidade. 

Sob a coordenação do Instituto de Pesquisas Marinhas, Arquitetura e Recursos Renováveis (IPEMAR), onde Júlio é consultor, o projeto alcançou em dezembro de 2024 seu objetivo principal: a instalação de um novo laboratório de larvicultura em Angra dos Reis.  

Larvicultura refere-se ao cultivo de larvas de vieiras em ambiente controlada, como tanques específicos voltados à reprodução e ao desenvolvimento desses moluscos para consumo. 

A previsão é que o laboratório amplie a produção de vieiras na região da Costa Verde e em breve seja capaz de produzir até 600 mil sementes de vieira por ano. “O impacto maior está na oferta de sementes produzidas aos pequenos produtores, o que garante a continuidade da cadeia produtiva.”, comemora Júlio. 

As sementes geradas no laboratório abastecem produtores associados à Associação de Maricultores da Baía da Ilha Grande (AMBIG), fortalecem a produção local e, como resultado, impulsionam a economia da região com geração de renda e oportunidades.  

A construção do laboratório partiu da adequação de um espaço que antes era usado para salga de sardinha. Júlio relembra que, apesar dos desafios, o apoio de especialistas foi essencial para garantir que os recursos fossem aplicados com eficácia na transição “O acompanhamento semanal de um consultor do FUNBIO também foi de extrema relevância para o bom desenvolvimento do projeto.”, relata. 

Educação ambiental e multiplicação do conhecimento 

Mais do que infraestrutura, Julio conta que a articulação territorial se espalhou para outras frentes de atuação que sustentam a Rede Maricultura. “Tivemos trocas de informações e conhecimentos e um reencontro de instituições e atores que atuam no setor, de diferentes gerações”. 

Segundo o consultor, durante a integração das comunidades locais foi possível observar novas oportunidades e necessidades de atuação. As capacitações promovidas pelos projetos de Educação Ambiental e a abertura do laboratório para visitação de estudantes universitários começaram como uma demanda interna, mas logo se expandiram. 

“Como desdobramento do projeto, teve essa questão de capacitar os analistas ambientais das prefeituras com relação ao licenciamento da maricultura, porque também há uma falta de conhecimento de como licenciar essa atividade.” explica Julio. 

No final de maio, a equipe do IPEMAR finalizou mais um curso de capacitação para analistas ambientais das prefeituras de Búzios, Cabo Frio. O evento contou ainda com a participação de servidores do ICMBio da Região dos Lagos e de estudantes da UERJ. 

Para os próximos anos, a expectativa é de que o laboratório sirva não apenas à produção de vieiras, mas também como centro de pesquisa, formação técnica, divulgação científica e turismo educativo.  

A trajetória do projeto é, acima de tudo, um exemplo de como o investimento bem direcionado, somado ao conhecimento técnico e à escuta comunitária, pode gerar transformações concretas e duradouras. E como a maricultura, assim como o próprio mar, se fortalecem pelas conexões que criam. 

Foto: Felipe Landuci