Seminário de Educação Ambiental comemora conquistas e destaca novos desafios na cadeia produtiva pesqueira do Rio de Janeiro

“O projeto de Educação Ambiental abraçou a nossa causa e a nossa comunidade de pescadores, começando a acreditar em nós. Queremos facilitar a vida do pescador, eliminando o atravessador”, celebrou Cleusa dos Remédios Rocha, da Cooperativa de Trabalho Mulheres Pescadoras, Aquicultoras e Artesãs da Prainha (MUPAAP). A declaração foi feita durante 1º Encontro de subprojetos da Chamada para Fortalecimento Institucional e Cadeia produtiva do Projeto Educação Ambiental, realizado nos dias 26 e 27 de setembro, em Búzios, com o objetivo de acompanhar o andamento das iniciativas desenvolvidas por instituições de base das comunidades pesqueiras do litoral fluminense. 

Entre as temáticas abordadas, destacaram-se dúvidas e preocupações sobre as certificações exigidas para a regulamentação de atividades, como o Selo de Inspeção Estadual (SIE); desafios para superar a atuação de atravessadores; estratégias para expandir a comercialização, melhorar a comunicação e divulgar ações que agreguem valor ao trabalho; e a importância da governança e gestão nas cooperativas.  

Com o apoio aos subprojetos de Educação Ambiental, houve melhoria da infraestrutura das associações e investimentos em fontes alternativas de renda relacionadas à atividade pesqueira, como o beneficiamento de pescado. 

Como estão agora?  

Durante os debates, foram compartilhados os investimentos em infraestrutura, o aumento no número de associados e a ampliação da oferta de capacitação profissional. “Fizemos uma sala para os pescadores e outra para reuniões. Oferecemos cursos de artesanato e informática para a diretoria. Todos os avanços foram positivos, possibilitados pelo Projeto Educação Ambiental e pela parceria com a colônia”, destacou a presidente da Colônia de Pescadores Z-27, Rosemary Ferreira, responsável pelo Subprojeto Gelo Limpo, realizado na Praia da Barra do Furado, no município de Quissamã.  

A Associação de Pescadores e Pescadoras da Reserva Extrativista de Itaipu e Lagoa de Itaipu (APPREILI), localizada em Niterói, embora tenha sido criada recentemente com o apoio de subprojetos da Chamada de Projetos via Aglutinadoras, também comemorou os avanços atingidos, a partir do apoio do Projeto Educação Ambiental.   

“O número de associados aumentou para 80, fortalecendo o território pesqueiro de Itaipu e a sustentabilidade ambiental local, e 70% das vendas passaram a ser feitas diretamente ao consumidor, em praias e feiras de rua”, contou Valéria Penchel Araújo, coordenadora do Subprojeto Maré de União.   

Já a Associação de Caranguejeiros e Amigos dos Mangues de Magé (ACAMM) conquistou e reformulou sua sede e começou a participar de espaços de diálogo e tomada de decisão. A Associação também contribuiu no processo de construção do biodigestor no Quilombo do Feital, integra o conselho consultivo da APA, e, atualmente, ajuda os pescadores e catadores associados.

“Nosso maior objetivo é preservar a biodiversidade da Baía de Guanabara. Queremos concluir o projeto com uma sede autossustentável e investir mais no turismo de base comunitária”, ressaltou Jairo dos Santos, coordenador do Subprojeto Recanto dos Pescadores.  

Próximos desafios 

Apesar dos progressos, as lideranças ressaltaram a necessidade de mobilização para ampliar a comercialização de pescado, captar mais recursos e melhorar a logística e a viabilidade econômica, incluindo a desburocratização dos processos para a venda direta ao consumidor.  

“Graças ao projeto, vamos inaugurar a nossa sede, que terá uma câmara fria e uma máquina de gelo, possibilitando 100% de comercialização direta com o consumidor. No entanto, precisamos fortalecer a mobilização. De 26 integrantes, apenas oito estão ativos no projeto”, ressaltou o pescador José Carlos, mais conhecido como Botinha, da Associação dos Trabalhadores Associados do Mar de Boa Viagem (TAMBOA), de Niterói.  

A valorização cultural e a identidade histórica da pesca local também foram temas discutidos, pois impulsionam o turismo de base comunitária e despertam o interesse de jovens pescadores. A Associação de Barqueiros e Pescadores de Trindade (ABAT), que apoia o Coletivo de Mulheres de Trindade, tem uma trajetória de luta dedicada à proteção do território e das tradições pesqueiras de Trindade, no município de Paraty (RJ).  

Somos a primeira associação de mulheres aqui. Hoje temos um coletivo formado por 17 mulheres. Temos uma história de luta e nos orgulhamos que a mulher caiçara “bate de frente”.  Nosso desafio agora é finalizar a obra da unidade de beneficiamento”, revelou Paulina dos Santos do Coletivo de Mulheres, apoiado pela ABAT. Essa unidade representa o mercado tradicional caiçara e está vinculada ao Projeto Educação Ambiental, que também recebe recursos do Projeto Apoio a UCs, por meio da Área de Proteção Ambiental (APA) de Cairuçu.  

Arraial do Cabo, com forte tradição pesqueira, também teve voz no evento. Como transmitir essa herança para as novas gerações? Paula de Abreu Moraes, que apoia a Associação de Pescadores de Arraial do Cabo, comentou sobre a construção do quiosque para armazenamento e comercialização do pescado, “um projeto voltado à sustentabilidade financeira e à valorização do trabalho do pescador, além de incentivar a participação dos jovens”, explicou.  

A coordenadora do Subprojeto Mulheres em Ação, Margareth Julião, da Cooperativa de Mulheres Produtoras da Pesca Artesanal e de Plantas Nativas da Região dos Lagos, também destacou o desafio de expandir a associação, que engloba mulheres com mais de 60 anos. “Temos 23 cooperadas, mas apenas 10 estão ativas. Nossa maior dificuldade é atrair novas cooperadas”, pontuou, enfatizando a importância do cooperativismo para o crescimento da organização.  

Nas dinâmicas e rodas de conversas, foi ressaltada a importância de tornar o segmento da pesca artesanal mais inclusivo, promovendo a participação de pessoas afrodescendentes e o aumento da representatividade feminina. “Vivemos do artesanato e do turismo. Precisamos resgatar nossa cultura em Búzios, crescer como associação e expandir uma rota cultural, valorizando os direitos dos negros e quilombolas”, relataram Luciana Passos Rafael e Selma Carvalho da Associação Bonecas Negras de Armação dos Búzios.  

O Seminário de Educação Ambiental, que contou com a presença de representantes do FUNBIO, PRIO, IBAMA, além de protagonistas de oito associações, duas cooperativas, uma ONG e uma colônia de pescadores, incluiu apresentações, debates e dinâmicas interativas para discussão de problemáticas e seleção de prioridades. 

 

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