Seminário de tecnologias ambientais integra comunidades pesqueiras por meio de soluções sustentáveis para a rotina da pesca artesanal

Os oito projetos presentes no 6º Seminário de Educação Ambiental – Chamada Tecnologias Ambientais, provaram que “tecnologia” não mora só em laboratórios. As iniciativas, apoiadas na penúltima chamada do projeto de Educação Ambiental do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) Frade, apresentaram soluções tecnológicas para o reaproveitamento dos descartes da pesca, saneamento básico, compostagem e por fim, na rota que leva o peixe até ao consumidor. 

O evento aconteceu na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro e marca a proximidade do fim do prazo para a execução das ideias propostas. Com os resultados já impactando as comunidades, foi possível perceber que a boa aplicação de tecnologias ambientais à rotina de pescadoras e pescadores transformam comunidades inteiras. 

O projeto “Rota Integrada da Pesca Artesanal” reduziu a figura do atravessador e elevou o valor do pescado, por meio da compra de uma máquina de gelo para associação e o uso de Inteligência Artificial na rotina administrativa da instituição. O gelo, somado ao curso de Boas Práticas de Manejo de Pescado, oferecido pela FIPERJ, resultou em um aumento de 85% do valor de venda do pescado, saindo de em média R$ 6,00 para R$ 15,00. 

“Aconteceu uma coisa muito interessante que foi a união das colônias de pescadores. Agora eles têm um conselho gestor com essas comunidades unidas”, celebra Francisco da Rocha, Chico Pescador, presidente da A Associação dos Pescadores Artesanais e Amigos da Praia de Pitória (APAAPP). Hoje, dispondo também de um caminhão frigorífico, a associação fornece peixe para restaurantes da cidade do Rio de Janeiro que consomem até 300kg de peixe por semana. 

Saneamento básico, uma dor comum das comunidades pesqueiras 

Da Costa Verde passando pela Baixada Fluminense até a Região dos Lagos as histórias se cruzam. Não à toa, dois projetos desenvolveram em seu trabalho soluções para levar saneamento básico às comunidades pesqueiras. O que deveria ser um direito básico, implícito no próprio nome, é um desafio comum às comunidades que vivem à beira dos mangues.  

Biodigestores, fossas de bananeira e a instalação de caixas d’água, materializam soluções de baixo custo e alto impacto, facilitando a replicabilidade pela comunidade. “Isso foi uma conquista muito grande para gente”, se emociona Roberta Cruz, coordenadora do projeto “Água de Hoje e Amanhã” (AOB) que levou água encanada para 32 famílias da comunidade do Chavão, a 55km de Cabo Frio. 

A luta por necessidades tão básicas fez os moradores ampliarem o olhar sobre o potencial de mobilização comunitária. O diálogo com a prefeitura, que começou por necessidade de adaptação da ideia inicial do projeto, substituindo a instalação de biodigestores por fossas, facilitando a integração com o sistema da prefeitura, abriu caminho para que novas reivindicações ganhassem coro junto ao poder público. 

Roberta conta que os desafios relacionados ao abastecimento de água nos 34 reservatórios de 5mil litros instalados pelo projeto provocaram “o poder público para pressionar a concessionária de água para colocar os ramais de distribuição na comunidade”. 

O projeto Vozes do Mangue, em Magé na Baixada Fluminense, também luta para melhorar a qualidade de vida dos seus moradores por meio da ampliação de saneamento básico. Por lá, o destaque são os biodigestores de folha de bananeira, ideia da Lucimar Machado, coordenadora do projeto, que fez sua própria fossa e ensinou outros comunitários a replicarem a estrutura. 

“A gente percebe que aquilo que conquistamos através desse projeto, fortalece a nossa comunidade e o nosso trabalho enquanto liderança comunitária”, explica, Valdirene Couto, conhecida como Val Quilombola, presidente da Associação Projeto de Luta e Defesa Pela Vida. 

Além das fossas, outras tecnologias integraram o projeto, calhas adaptáveis para captação de água da chuva, triturador para reaproveitamento integral do pescado e painéis solares, também farão parte da nova rotina de pesca dos moradores. 

O sol ilumina também a noite das comunidades

Sem dúvidas, o uso de painéis de energia solar foi o grande protagonista. Seja para levar energia para famílias que não tinham acesso a rede elétrica ou para garantir autonomia e segurança na pesca em alto mar, a tecnologia materializou soluções para cinco projetos presentes. 

Além de “Vozes do Mangue”, “Pescando o Sol”, em São Francisco de Itabapoana (RJ), “Sustentamar”, em Arraial do Cabo, “Energia Caiçara Sustentável”, em Paraty e “Energia Limpa e Sustentabilidade”, na Ilha do Governador, também transformaram a vida dos moradores de suas comunidades. A coincidência permitiu que as iniciativas trocassem aprendizados entre si, resolvendo problemas de contratação e orçamento.  

“O que era o maior problema foi o que saiu melhor que o esperado”, contou Márcio Luís, presidente da Colônia Z-10, idealizadora do “Energia Limpa e Sustentável”. A fala veio junto ao agradecimento a Lucimar, do projeto Vozes do Mangue, que compartilhou um contato de um fornecedor confiável que fez os painéis solares por um preço justo, o que vinha sendo um desafio para o projeto. 

Já a iniciativa Energia Caiçara, instalou 45 painéis solares e irá garantir segurança energética para as comunidades de Ponta Negra, Caieira (Paraty-Mirim) e Trindade. Antes vulneráveis à intensidade das chuvas, agora 70 famílias tem uma segunda fonte de energia quando chove forte. Na comunidade de Caieira, em Paraty-Mirim, o benefício é ainda maior. Dessas, cerca de 10 famílias que não tinham acesso a nenhum tipo de energia elétrica finalmente terão meios para conservar alimentos em casa e planejar as viagens à cidade para repor mantimentos.   

Para além dos números, a reação da comunidade às inovações “faz a gente voltar a acreditar”, ressalta Cauê Vilella. Um morador de Ponta Negra não escondeu a emoção ao ver os painéis chegando e teve sua reação registrada em um vídeo, exibido no evento: “Meu bisavô e meu avô iam gostar muito de ver isso, é uma benção”, concluiu.

Foto: divulgação FUNBIO