SUBPROJETO:
costões rochosos

SUBPROJETO COSTÕES ROCHOSOS: ECOLOGIA, IMPACTOS E CONSERVAÇÃO NAS REGIÕES DOS LAGOS E NORTE FLUMINENSE

O Subprojeto Costões Rochosos: Ecologia, Impactos e Conservação nas Regiões dos Lagos e Norte Fluminense, realizado pela Fundação Coordenação de Projetos, Pesquisas e Estudos Tecnológicos (COOPETEC), realizou pesquisa científica voltada aos ecossistemas de costão rochoso, de 2016 a 2021, em Macaé, Rio das Ostras e Armação dos Búzios, no estado do Rio de Janeiro1. Também denominada como Subprojeto Costões Rochosos2, a pesquisa integrou diversos especialistas de forma complementar e interdisciplinar, que realizaram estudos sobre biodiversidade, ecologia e impactos dos costões rochosos, um ecossistema ainda pouco estudado no Brasil.

A pesquisa, realizada nos costões rochosos das Regiões dos Lagos e Norte Fluminense, incluiu estudos sobre as suas características ambientais, a diversidade de organismos, a estrutura de comunidades, aspectos da ecologia trófica3 e da dinâmica reprodutiva de organismos específicos, a identificação de potenciais impactos antrópicos4, além de propor ações de manejo, conservação e elaborar material educativo e atividades de educação ambiental.

Por que fazer?

Nos costões rochosos são encontradas inúmeras poças de maré, com uma infinidade de formas, tamanhos e profundidades. Sujeitas à ação de ventos e das ondas, as poças são ambientes extremamente dinâmicos, com variações diárias no volume de água, exposição às ondas, padrão de drenagem e condições físico/químicas específicas. Esses fatores ambientais interagem sinergicamente5, e juntamente com fatores biológicos (composição de espécies e cobertura vegetal) e relações ecológicas (como predação6, herbivoria7 e competição8) são responsáveis pela configuração de uma identidade única de cada poça. Refletindo essas variações ambientais, a maior parte dos organismos que ocupa as poças possui adaptações que permitem suportar grandes mudanças nessas condições ambientais.

Essas características bióticas e abióticas marcantes das poças de maré as tornam ambientes extremamente interessantes para estudos ecológicos. O estudo dos organismos que habitam a zona entre marés é considerado de grande importância, visto que esses ocupam um hábitat de condições extremas e altamente dinâmicas, tanto de origem natural como antrópicas, sendo vulneráveis aos impactos ambientais, como poluição, mudanças climáticas e perda de hábitat.

Muitos organismos podem também servir como bioindicadores9 para monitorar mudanças na composição, abundância e estrutura das comunidades, possuindo grande importância para monitoramento e conservação dos ecossistemas costeiros. Estudos ecológicos em poças de maré são relevantes para a compreensão em larga escala deste ambiente tão singular. No Brasil, apesar do seu extenso litoral, os estudos estão restritos a poucas regiões, como o Espírito Santo. Estudos sobre as relações tróficas10 entre os principais grupos de organismos (peixes, invertebrados e macroalgas) de poças de maré de costões rochosos são inexistentes até o momento no Brasil, tornando a proposta deste Subprojeto pioneira.

O registro e o monitoramento dos níveis de impactos antrópicos são fundamentais para: (1) diagnosticar ameaças à biodiversidade ao nível regional e local; (2) explicar padrões na distribuição da biodiversidade da região; (3) contribuir para proteção dos ecossistemas de costões rochosos e (4) fomentar planos e ações de conservação e de educação ambiental.

Apesar da importância como polo turístico, pesqueiro, petrolífero e naval, as regiões dos Lagos e Norte Fluminense receberam pouca atenção para quantificar os impactos ambientais e seus efeitos nos costões rochosos. Atualmente, se desconhecem os tipos e níveis de impactos causados nos costões, em especial sobre seus efeitos na abundância, diversidade e estrutura das comunidades. A escassez de informações sobre os organismos que habitam os costões rochosos do Norte do estado do Rio de Janeiro, ecossistemas altamente suscetíveis aos impactos antrópicos, direciona a necessidade de estudos detalhados com abordagens multidisciplinares.

Este Subprojeto, portanto, pode ser considerado como pioneiro, por contemplar diferentes aspectos do ecossistema costeiro, com aplicação de novas metodologias que visaram ampliar o conhecimento e a produção técnico-científica relacionada aos costões rochosos da região norte do estado do Rio de Janeiro, além de contribuir para a formação de pessoal capacitado. Os resultados alcançados possuem grande potencial na indução de políticas públicas para conservação e sustentabilidade da biodiversidade nos ambientes costeiros e marinhos no estado do Rio de Janeiro.

Como foi realizado?

Todas as atividades realizadas na pesquisa estavam voltadas para alcançar os objetivos específicos do Subprojeto, realizado nas seguintes localidades:

Macaé: os costões rochosos são encontrados nas praias dos Cavaleiros e das Pedrinhas, além do entorno das ilhas e ilhotes do Arquipélago de Santana.

Rio das Ostras: grande parte dos costões rochosos do município encontra-se em duas Unidades de Conservação municipais: o Monumento Natural Costões Rochosos e Área de Relevante Interesse Ecológico de Itapebussus.

Armação dos Búzios: seus costões rochosos haviam sido pouco estudados até então e parte deles está inserida no Parque Estadual Costa do Sol. O Subprojeto atuou em áreas externas ao Parque.

Para desenvolver as atividades de pesquisa, participaram nove pesquisadores da UFRJ (NUPEM e Museu Nacional), além de 31 bolsistas, sendo 21 de iniciação científica, cinco de apoio técnico, três de pós-doutorado, dois de doutorado e um de mestrado.

Foi realizado um levantamento qualitativo prévio nos costões rochosos encontrados na área de estudo para selecionar as estações de coleta, por meio de uma amostragem sistemática para reconhecimento taxonômico, caracterização e delimitação das áreas estudadas. As amostragens foram feitas com coletas manuais de invertebrados, macroalgas e peixes nas poças de maré dos costões rochosos. Coleta de zooplâncton na zona costeira e poças de maré dos costões rochosos. Foram realizadas triagens de invertebrados e macroalgas com o auxílio de microscópios no Laboratório Integrado de Biologia de Vertebrados do NUPEM, além de um amplo registro fotográfico de espécies coletadas.

De acordo com o que foi previsto, um material educativo foi elaborado contendo informações sobre os resultados do Subprojeto, o qual foi utilizado nas atividades de educação ambiental para diferentes públicos (turistas, comunidade local, guardas ambientais, tomadores de decisão, etc.). O material tem como objetivo promover a conscientização sobre a importância da preservação desse ecossistema e de seus organismos para o equilíbrio ecológico, a manutenção dos ecossistemas e dos serviços ambientais.

A pesquisa ainda contemplou a elaboração de questionário de percepção ambiental sobre os costões rochosos, aplicado aos diferentes públicos nos municípios de Macaé, Rio das Ostras e Armação de Búzios. Os grupos de atores sociais entrevistados foram: atores sociais com atividades relacionadas ao turismo (por exemplo: ambulantes; funcionários do setor hoteleiro, comerciantes, responsáveis por atividades náuticas etc.); marisqueiros; moradores; pescadores e turistas.

Usando recursos dos Subprojetos Costões Rochosos e Multipesca20, foi realizado um projeto para construir e equipar o prédio do Laboratório Integrado de Biologia Marinha (LIBMAR) e, por meio da utilização de recursos remanescentes dos mesmos Subprojetos, foi realizada a construção do Museu de Biodiversidade do Instituto NUPEM/UFRJ (BioMuseu), com o objetivo de abrigar o Núcleo de Coleções Biológicas e um novo espaço expositivo de Educação Ambiental.

Principais resultados:

As informações coletadas pelo Subprojeto subsidiaram a elaboração de 11 trabalhos de conclusão de curso de graduação, três dissertações de mestrado e uma tese de doutorado. No total, foram apresentados 75 trabalhos em eventos científicos nacionais e internacionais, publicados 10 artigos em revistas nacionais e internacionais, e outros 32 manuscritos estão em finalização ou em elaboração. Foram publicados dois livros, e outros seis estão em finalização. Até o momento foram produzidos 24 vídeos, dos quais 20 já estão disponíveis para visualização, além 140 publicações em redes sociais.

Uma vertente importante do Subprojeto foram as atividades de extensão: cerca de 12 mil visitantes participaram dos 84 eventos de extensão organizados/apresentados pelo Subprojeto, que incluem exposições, cursos, feiras e oficinas, com destaque para quatro edições do evento anual “Dia Mundial dos Oceanos – O Mar Invadiu o NUPEM”.

A seguir, alguns dos resultados das pesquisas realizadas nos costões rochosos:

· Nos costões rochosos nos cinco pontos de amostragem estudados, foram registrados 100 táxons de macroalgas marinhas bentônicas.

· A abundância das macroalgas marinhas bentônicas por praias indica que as algas calcárias articuladas e coriáceas representam os grupos morfofuncionais mais abundantes.

· A presença de algas calcárias articuladas dominou em quase todas as praias, excetuando em Armação dos Búzios, onde aquelas pertencentes ao grupo Coriácea foram as mais abundantes; a taxa de biomassa deste último grupo manteve-se mediana em Areias Negras e foi decaindo nas demais praias.

· Foi elaborado guia para identificação de macroalgas com o objetivo de ser usado no campo, ou seja, nos costões rochosos. Este formato de catálogo simples permite a identificação dos filos (Chlorophyta, Ochrophyta ou Rhodophyta) e do gênero ou espécie da alga observada. As fotografias das macroalgas registradas nos costões rochosos amostrados compõem o catálogo “Macroalgas marinhas bentônicas dos costões rochosos da região dos lagos e norte fluminense”.

· No total, foram identificados 3.346 exemplares de Decapoda, totalizando 30 espécies de 14 famílias, incluindo as coletas complementares. A família com maior número de espécies foi Panopeidae (5 espécies). O Anomura Pachycheles laevidactylus (Ortmann, 1892), foi a espécie mais abundante (totalizando 1.166 exemplares), seguido pelos Brachyura Pachygrapsus transversus (Gibbes, 1850) (679 exemplares) e Epialtus brasiliensis (Dana, 1852) (605 exemplares).

 

· Exemplares de quatro das oito classes viventes de Mollusca foram registrados nos costões rochosos: Bivalvia, Gastropoda, Polyplacophora e Cephalopoda. No total, foram identificados 91 táxons de Mollusca, sendo 73 táxons da classe Gastropoda pertencentes a 11 ordens e 35 famílias, 17 táxons da classe Bivalvia pertencentes a 3 ordens e 8 famílias, e 1 táxon da Ordem Cephalopoda.

· No total, foram identificados 20 táxons de Echinodermata26, sendo 12 táxons da classe Ophiuroidea, quatro táxons da classe Echinoidea, dois táxons da classe Holothuroidea, dois da classe Asteroidea e um de Crinoidea.

· Em relação à abundância, biomassa e diversidade registrados nas coletas quantitativas, no total, foram encontradas 19 espécies nas coletas quantitativas. O estrato inferior apresentou os maiores valores médios de riqueza de espécies (3,6 espécies/quadrat), de abundância (20,15 exemplares/quadrat) e de biomassa (1,78 g/quadrat). O local com maior riqueza de espécies foi Búzios 1 (17 espécies), seguido por Arquipélago de Santana (14), Búzios 2 (13), Areias Negras e Cavaleiros (ambas com 10). O estrato que apresentou a maior riqueza de espécies foi o inferior (18 espécies), seguido do intermediário (17) e superior (8). A maior abundância média foi registrada em Areias Negras (19,1 exemplares/quadrat), enquanto que Cavaleiros e Búzios 2 apresentaram as menores abundâncias (cerca de 6 exemplares/quadrat). Em Areias Negras foi registrada a maior biomassa média (1,72g/quadrat), seguida de Cavaleiros (1,22g/quadrat), enquanto que a menor biomassa média foi registrada em Búzios 2 (0,45g/quadrat).

· As poças de maré dos costões rochosos de Rio das Ostras, Búzios e Arquipélago de Santana são locais que abrigam diversas espécies de zooplâncton, incluindo espécies bioindicadoras de ressurgência (Calanoides carinatus) (Dias & Araujo, 2006). Normalmente as espécies encontradas nas poças eram encontradas também no mar, apesar da densidade de ambas variarem, pois ora a poça apresenta maior densidade e ora o mar.

· No total, ao longo das quatro campanhas de coleta sazonal nas 10 poças de maré selecionadas, foram capturados 773 peixes de 20 táxons pertencentes à 14 famílias;

· Os resultados demonstram uma abundância de peixes residentes permanentes, evidenciando a importância deste hábitat para espécies que fazem uso das poças de maré por todo o ciclo de vida. Além disso, a abundância de indivíduos tanto adultos quanto juvenis destaca também o forte potencial que esse ambiente possui para a manutenção de espécies que o utilizam para abrigo, alimentação e como zona de berçário ou criação de juvenis.

· As amostras coletadas foram organizadas para tombamento e catalogadas nas coleções científicas no NUPEM e no Museu Nacional / UFRJ.

· Foram aplicados 600 questionários sobre a percepção ambiental dos costões rochosos nos três municípios. Os significados mais expressivos atribuídos aos costões rochosos estão atrelados à sua exuberante beleza natural. Uma tendência nas opiniões dos atores sociais é que a beleza singular do lugar lhe confere o status de ponto turístico. Adicionalmente, significados relacionados à sua importância cultural e econômica para as cidades pesquisadas também apareceram.

· Edição do vídeo Macroalgas Marinhas Bentônicas – Dia Mundial dos Oceanos 2020 – O Mar Invadiu o NUPEM. https://www.youtube.com/watch?v=0gnmP7vMPM4

· Edição do vídeo Costões Rochosos do Norte Fluminense – Lísia de Souza Gestinari (Entrevista Funbio). https://youtu.be/0XIvxXacWmM;

· Edição do vídeo Diga Não ao Lixo nas Praias e Costões – Dia Mundial dos Oceanos 2020 – O Mar Invadiu o NUPEM. https://www.youtube.com/watch?v=sZ0Gei_ro2E

· Edição do vídeo Vida Marinha do Arquipélago de Santana – Um Santuário Ecológico da Costa Norte Fluminense. https://www.youtube.com/watch?v=Wf8NK8Oj55A

· Criação do documentário Projeto Costões Rochosos. https://youtu.be/REkwhQFbbII

· Edição do vídeo Costões Rochosos do Norte Fluminense – Lísia de Souza Gestinari (Entrevista Funbio). https://youtu.be/0XIvxXacWmM

· Publicação da série Cadernos Didáticos do Nupem: Conhecendo a Biodiversidade dos Ecossistemas Costeiros do Norte do Rio de Janeiro.

· Atendimento a 80 crianças na atividade de extensão Oficina de Impactos Antrópicos nos Costões Rochosos.

· Realização do evento Dia Mundial dos Oceanos.

· Construção do Laboratório Integrado de Biologia Marinha (LIBMar) no NUPEM.

· Uma importante conclusão da pesquisa é que as maiores riquezas de espécies foram encontradas nas poças do Arquipélago de Santana, uma Área de Proteção Ambiental (APA-AS), ainda sem plano de manejo. Além do turismo e da pesca na região no entorno do Arquipélago de Santana, também foi observada a ancoragem de embarcações bem próximas da ilha. O Arquipélago se localiza nas proximidades de um dos principais portos de apoio da Bacia de Campos, uma grande bacia de produção de petróleo, responsável por cerca de 20% da produção de petróleo brasileira. Além do tráfego e ancoragem de navios, o derramamento de óleo também é um impacto que pode afetar negativamente a APA-AS. Além disso, uma espécie de garoupa, a Epinephelus marginatus (Lowe, 1834), espécie registrada no presente estudo em estágio juvenil e apenas no Arquipélago de Santana, é uma espécie que se encontra vulnerável (VU) no status de conservação regional (ICMBio Brasil) e no status de conservação global (IUCN). Isso ressalta a importância de considerar esse hábitat como prioridade no gerenciamento da preservação e conservação da biodiversidade.

galeria de fotos