SUBPROJETO:
pescados e pescarias

SUBPROJETO PESCADOS E PESCARIAS SUSTENTÁVEIS NOS MANGUEZAIS DE UMA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO: SUBSÍDIOS AO MANEJO

O Subprojeto Pescados e Pescarias Sustentáveis nos Manguezais de uma Unidade de Conservação: Subsídios ao Manejo, iniciado em 2021, é realizado pela Associação Amigos do Museu Nacional (SAMN) com o objetivo principal de gerar subsídios para medidas de manejo pesqueiro e para a melhoria da qualidade de vida dos pescadores artesanais da Área de Proteção Ambiental (APA) Guapi-Mirim, maior reduto de manguezal da Baía de Guanabara.

O Subprojeto vem realizando a avaliação do papel ecológico e social de dois tipos de pescado e de duas importantes pescarias artesanais, abordando o uso de uma espécie bioindicadora, além de fazer análises ecotoxicológicas e a avaliação da sustentabilidade da pesca na região, tendo por base critérios internacionais.

Por que fazer?

A Baía de Guanabara suporta a pescaria estuarina mais produtiva da região, sustentando um grande número de pescadores. Este habitat é diretamente afetado pela alta densidade populacional e pelo parque industrial em seu entorno, além de estar sob a influência de inúmeras instalações portuárias, estaleiros navais e refinarias de petróleo, sofrendo impactos por esgoto, agricultura e indústria. Como consequência, foram observados indícios de redução de riqueza específica, incluindo perdas ecológicas relevantes, fatores que limitam o número e a densidade de espécies, comprometendo a produtividade pesqueira e afetando a renda das comunidades locais.

Apesar de sua história de esgotamento ambiental, a Baía ainda exibe características de um estuário tropical típico, incluindo uma floresta de mangue relativamente preservada, alta produtividade e condições favoráveis para o crescimento e reprodução de espécies estuarinas. O manguezal da APA Guapi-Mirim3 desempenha papel fundamental para manutenção da biodiversidade e qualidade da água da Baía de Guanabara, uma vez que a APA abriga o último trecho de manguezal preservado da Baía de Guanabara. Esse ecossistema é fundamental para a manutenção do equilíbrio ecológico e das pescarias da região, sustentando comunidades tradicionais de pescadores.

Entretanto, a pesca local é pouco estudada. Isso é preocupante, considerando que há evidências de que mesmo a pesca de pequena escala tem impactos sobre a biodiversidade, biomassa e estrutura de ecossistemas. Entretanto, o manejo das pescarias artesanais é extremamente complexo, tendo em vista que pode gerar conflito com as necessidades básicas das populações locais que dependem dos recursos aquáticos como fonte de renda e subsistência.

O curral é uma das artes de pesca mais tradicionalmente usadas na região dos manguezais da APA Guapi-Mirim. É uma arte de pesca fixa, confeccionado com esteiras de bambu, tendo como fundação troncos de árvores dos manguezais ou de eucalipto, sendo a modalidade de pesca mais antiga praticada pelas comunidades locais. O presente Subprojeto tem como um de seus objetivos realizar o levantamento do conhecimento ecológico local dos pescadores (CEL), visando detectar possíveis mudanças temporais na composição e abundância das espécies capturadas por esta arte de pesca, assim como na cadeia produtiva desta pescaria.

Além disso, o monitoramento participativo proposto para o desembarque atual dos currais trará informações acerca do seu papel para o sustento das comunidades tradicionais de pescadores locais, bem como possíveis impactos negativos que esta pescaria pode trazer para as populações de peixes, subsidiando a elaboração de planos de manejo.

O bagre (Genidens genidens) está entre as espécies mais abundantes em ambientes estuarinos da costa brasileira e foi proposto como bioindicador para o monitoramento de impactos antrópicos4 na Baía de Guanabara. Desde então, estudos vêm sendo conduzidos para aumentar a compreensão de sua biologia na Baía de Guanabara, entretanto, lacunas no conhecimento sobre esta espécie ainda persistem. Informações obtidas nos estudos realizados no Subprojeto criarão bases para compreensão de como este peixe utiliza o manguezal, dado fundamental para o seu uso como bioindicador dos impactos antrópicos sofridos pela Baía de Guanabara, bem como para outros locais da costa em que a espécie ocorre.

Além de sua importância para o biomonitoramento, o Genidens genidens é, amplamente, consumido pela comunidade pesqueira do entorno da APA Guapi-Mirim. A carne do bagre é salgada e secada ao sol, sendo chamada então de “mulato-velho”, o qual é consumido assado ou na forma de bolinho de peixe. O Subprojeto pretende avaliar o grau de contaminação de sua carne por metais poluentes, tanto na forma processada (mulato-velho e bolinho de peixe), quanto no músculo de exemplares de diferentes classes de tamanho, obtidos de desembarques no interior da APA.

O siri, Callinectes danae, possui grande importância comercial e ecológica. É uma espécie que desempenha papel chave na regulação tanto da distribuição, quanto do número de presas. Na Baía de Guanabara, a espécie Callinectes danae constitui um recurso pesqueiro valioso para os pescadores artesanais. A captura com puçás é a pescaria mais importante economicamente voltada à exploração desta espécie, sendo bastante utilizada na região da APA de Guapi-Mirim, e constitui uma atividade de importância social para a comunidade do entorno da APA.

A avaliação do grau de contaminação da carne do siri capturado na APA Guapi-Mirim é necessária para que esta espécie seja considerada adequada ao consumo. Pretende-se avaliar a concentração de metais poluentes em espécimes de Callinectes danae capturados com puçá na APA, bem como na carne processada. Desta forma, serão obtidas informações sobre a segurança do consumo humano desta espécie. A classificação positiva em relação ao consumo ou sustentabilidade da pescaria tem um importante papel social, agregando preço e valor, aumentando a autoestima e a renda dos pescadores e demais membros dessa cadeia produtiva artesanal.

Assim sendo, os dados gerados por esse Subprojeto permitirão compreender de forma mais completa as duas mais importantes pescarias realizadas nos manguezais da Baía de Guanabara (puçá e curral); conhecer mais detalhadamente a biologia de uma espécie bioindicadora (Genidens genidens), propondo métodos não letais de amostragem, identificando a forma como ela utiliza o ecossistema manguezal e avaliar a contaminação e a segurança do consumo de duas espécies, in natura e processadas (G. genidens e C. danae), relevantes economicamente e utilizadas pelos pescadores e familiares. Além disso, permitirá avaliar se a pesca local de puçá, para C. danae, é sustentável e se enquadra nos critérios estabelecidos internacionalmente para uma recomendação favorável em relação ao consumo.

Estes dados irão contribuir com a adoção de medidas para a gestão sustentável destes recursos e o manejo ecossistêmico do habitat, passíveis de serem implantadas dentro da Unidade de Conservação, possibilitando a melhoria na qualidade de vida das comunidades tradicionais que habitam o entorno da APA Guapi-Mirim. Por sua vez, os resultados da avaliação da sustentabilidade do pescado e pescarias permanecerão como um legado do Subprojeto e poderão ser replicados em outros manguezais e Unidades de Conservação, ao longo de toda a costa brasileira, de modo a contribuir com a gestão pesqueira inclusiva, focada na pesca artesanal.

O público beneficiado e/ou envolvido pelo Subprojeto é composto por pescadores e pescadoras artesanais e demais seguimentos da cadeia produtiva da pesca na região, comunidade científica, estudantes de graduação e pós-graduação em biologia e áreas afins, gestores da APA Guapi-Mirim e de demais UCs, que comportem áreas de manguezal e a população em geral que consome pescado proveniente do Rio de Janeiro.

Como está sendo realizado?

As atividades desenvolvidas para atender aos objetivos específicos5 do Subprojeto são: realização de coletas e análises químicas da água e de estruturas calcificadas de peixes (otólitos e espinhos); análise da concentração de metais (As, Cr, Cd, Cu, Hg, Ni, Pb, Se, Sn, Ti, V e Zn) na carne de siri descarnada, no mulato-velho (bagre) e no bolinho de peixe (bagre) produzido pelas comunidades locais da APA Guapi-Mirim; avaliação crítica das atuais medidas de manejo existentes voltadas à estas pescarias; proposição de alternativas de manejo pesqueiro dos currais e puçás e das espécies estudadas; divulgação dos resultados em eventos acadêmicos; divulgação dos resultados para gestores e para a comunidade de pescadores; divulgação do projeto e dos resultados para a população através de mídias digitais. A metodologia utilizada aposta na transdisciplinaridade6, envolvendo abordagens de cunho ecológico, químico, social e econômico.

Resultados esperados

· Proposição de práticas mais conscientes, participativas e sustentáveis para o exercício da pesca de curral e puçá na APA Guapi-Mirim, bem como para a pescaria de C. danae e G. genidens, estimulando práticas menos predatórias e focadas na pesca de pequena escala. Essas sugestões serão encaminhadas e apresentadas ao Conselho Consultivo das Unidades de Conservação: Estação Ecológica (ESEC) Guanabara e APA Guapi-Mirim;

· Determinação de como G. genidens utiliza os manguezais no seu ciclo de vida, avaliando sua aplicabilidade como espécie bioindicadora de impactos antrópicos em estuários e manguezais da costa brasileira, propondo-se um protocolo de monitoramento que poderá ser aplicado após o término do Subprojeto;

· Resultados divulgados à comunidade científica através de apresentações em eventos científicos;

· Publicações de artigos científicos, monografias de graduação, dissertações de mestrado e teses de doutorado, para suprir lacunas de conhecimento e contribuir para a formação de alunos de biologia e áreas afins;

· Geração de subsídios para a implementação de melhores medidas de manejo para os recursos pesqueiros da Baía de Guanabara;

· Estímulo à implementação de políticas públicas voltadas tanto à preservação ambiental da região, como à valorização das atividades extrativistas das comunidades tradicionais;

· Divulgação de resultados apresentados em reuniões para gestores públicos e líderes das comunidades tradicionais de pescadores da APA de Guapi-Mirim, com o objetivo tanto de informá-los sobre o atual estado dos recursos pesqueiros avaliados, como também para orientá-los na busca por ações governamentais que visem a manutenção de seu estilo de vida;

· Divulgação dos resultados aos demais membros da comunidade de pescadores por meio de documentos digitais, elaborados de forma didática, encaminhados por redes sociais e/ou por e-mail;

· As informações geradas serão divulgadas também nas páginas do Instagram do Laboratório de Biologia e Tecnologia Pesqueira (IB/UFRJ)7 e do Grupo de Pesquisa HauserDavis (FioCruz)8, por meio de publicações estruturadas de forma lúdica e didática.

Principais resultados esperados:

Dentre os resultados gerados pelo Subprojeto, destaca-se a avaliação dos padrões de movimentação e uso do habitat que permitirá a elaboração de infográficos contendo informações sobre os aspectos da história de vida das espécies estudadas, incluindo mapas temáticos. Ao mesmo tempo, pretende-se estabelecer uma conexão direta e permanente entre os usuários (pescadores artesanais e esportivos), pesquisadores e gestores locais durante a execução das ações previstas, promovendo sempre que possível o engajamento dos mesmos, como na implementação de um programa de auto monitoramento de fácil utilização, que possa ser mantido mesmo depois do término do Subprojeto com efetiva participação dos pescadores colaboradores.

Conheça outros resultados esperados com a realização do Subprojeto:

· Fortalecimento de estudos científicos e de parcerias com atores locais;

· Aumento da visibilidade das UCs na mídia;

· Potencial de fortalecimento turístico das UCs;

· Ampliação da visibilidade das UCs no campo científico;

· Aumento da produção científica na área de manguezal;

· Fortalecimento das atividades pesqueiras e caranguejeiras;

· Aproximação entre os usuários do sistema manguezal para a pesca, comunidade científica e gestores das UCs;

· Apoio indireto aos pescadores locais com a troca de conhecimento tradicional e científico;

· Apoio indireto aos gestores locais com informações qualificadas para utilização em planos de manejo e outras medidas de gestão das unidades de conservação e da atividade pesqueira do robalo;

· Ampliação do conhecimento sobre reprodução das espécies alvo e estabelecimento de referencial biológico local para adoção de medidas de conservação e manejo;

· Ampliação do conhecimento sobre ecologia trófica das espécies e identificação das interações tróficas com outros elementos biológicos do sistema;

· Ampliação do conhecimento sobre movimentação das espécies alvo nas áreas de manguezais e regiões adjacentes às UCs;

· Aplicação de novas tecnologias nos estudos de movimentação/conectividade de espécies;

· Ampliação dos potenciais de geração de renda das UCs;

· Políticas públicas de apoio às iniciativas de turismo de base comunitária;

· Fortalecimento de parcerias com atores locais.

Os resultados deverão ser discutidos com as comunidades locais por meio de arenas de discussão. As informações obtidas com os pescadores locais serão usadas como referenciais de conhecimento local para discussões sobre os resultados.

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