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SUBPROJETO BIOACUMULAÇÃO E EXPOSIÇÃO A HIDROCARBONETOS PETROGÊNICOS E CONTAMINANTES ORGÂNICOS EM PESCADO: ESTUDO DE CASO DA SARDINHA-VERDADEIRA (SARDINELLA BRASILIENSIS) NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - PETROSARDINHA

O Subprojeto Bioacumulação e Exposição a Hidrocarbonetos Petrogênicos e Contaminantes Orgânicos em Pescado: Estudo de Caso da Sardinha-Verdadeira (Sardinella brasiliensis) no Estado do Rio de Janeiro, também denominado como PetroSardinha, foi executado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) entre fevereiro de 2017 a abril de 2020.

Tendo em vista que a sardinha-verdadeira, em função do seu hábito alimentar, ocorrência na zona costeira e ampla capacidade migratória, é uma espécie que pode ser afetada pela contaminação das águas marinhas por hidrocarbonetos e compostos organoclorados, este Subprojeto teve como objetivos centrais avaliar a qualidade da sardinha-verdadeira para consumo humano no concernente à bioacumulação de contaminantes orgânicos, bem como avaliar o grau de exposição das sardinhas à contaminação da água por HPAs. Tais objetivos buscaram identificar os efeitos diretos (exploração, produção, refino, distribuição) e/ou indiretos (consumo) que a indústria do petróleo pode ter sobre a qualidade ambiental e os recursos pesqueiros na costa do Brasil, mas também busca identificar os efeitos ambientais associados com outras atividades econômicas que são responsáveis pelo aporte de organoclorados para os oceanos.

O PetroSardinha foi realizado em parceria com o Subprojeto Multisar – uma abordagem multidisciplinar sobre a sardinha-verdadeira (Sardinella brasiliensis), com grande parte do suporte logístico, material e mobilização para a etapa de amostragem já estabelecido para execução do Multisar.

A área de atuação foi a mesma área de pesca da sardinha-verdadeira, compreendida entre o Sul do estado de Santa Catarina e o Norte do estado do Rio de Janeiro.

Por que fazer?

A maior parte dos aglomerados populacionais no mundo situa-se próxima ao litoral e assim os ambientes costeiros são diretamente afetados pelas atividades humanas. Isso se dá pelo lançamento de rejeitos diversos e pela movimentação e transformação de materiais e energia relacionados ao desenvolvimento urbano e industrial e a demanda por bens e serviços pela sociedade moderna.

O atual padrão de desenvolvimento econômico mundial tem como um dos pilares o uso de combustíveis fósseis para suprir a demanda de energia. Nesse cenário, as atividades da cadeia produtiva ligadas à indústria do petróleo merecem destaque como vetores potenciais de alterações ambientais. A contaminação direta de ambientes marinhos pode acontecer durante exploração, produção, transporte, refino e consumo de petróleo e derivados, seja de forma constante ou devido a acidentes diversos.

Dentre os hidrocarbonetos encontrados no petróleo, os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA) causam maior preocupação, isso se deve ao fato dos HPAs serem contaminantes ubíquos4 em ambientes aquáticos, derivados de fontes petrogênicas (óleo bruto e derivados) e pirolíticas (queima de combustíveis fósseis e madeira, entre outros materiais). Além da sua ampla ocorrência, os HPAs são contaminantes de preocupação ambiental e podem representar um risco à saúde humana devido à sua persistência, tendência a se acumular no organismo e causar mutação genética e câncer.

A identificação da origem e a avaliação dos efeitos ambientais da contaminação por hidrocarbonetos requerem ações integradas de diferentes áreas de conhecimento. Uma das abordagens é a análise química para quantificar compostos específicos que permitam avaliar o nível e a distribuição de contaminantes em diferentes matrizes, como em água, sedimento e tecidos biológicos. Através de um conjunto de marcadores adequados, é possível obter informações sobre o tipo e origem dos hidrocarbonetos, a época da sua introdução e o seu grau de intemperização5, assim como o potencial de ocorrência de efeitos tóxicos sobre a biota em determinada área contaminada.

A sardinha-verdadeira (Sardinella brasiliensis) é de grande importância na pesca comercial no Brasil. Trata-se de uma espécie de hábito costeiro e que se distribui ao longo da costa sudeste e sul, que engloba a região mais populosa e com maior desenvolvimento econômico no país.

Devido ao seu hábito alimentar planctônico à sua grande capacidade migratória e à sua posição intermediária na cadeia trófica, a sardinha-verdadeira pode desempenhar uma via importante de biomagnificação6 para animais de níveis tróficos superiores. A bioacumulação pode representar um risco à saúde humana, uma vez que a sardinha-verdadeira é uma fonte importante de proteína para a população em geral. A identificação de metabólitos de HPAs revela a exposição da sardinha-verdadeira à contaminação ambiental e é um indicador precoce de riscos potenciais ao equilíbrio populacional dessas espécies.

Como foi realizado?

A pesquisa do Subprojeto PetroSardinha se baseou em análises químicas da sardinha-verdadeira para identificar a presença e a origem de hidrocarbonetos antrópicos e alguns de seus produtos de metabolização, assim como a presença de compostos organoclorados8 derivados de outras atividades não relacionadas com a indústria do petróleo.

Através do estudo em tecidos musculares da sardinha-verdadeira, a pesquisa avaliou o papel dessa espécie como rota para bioacumulação e biomagnificação de hidrocarbonetos e contaminantes organoclorados, como também estabeleceu a qualidade da sardinha para consumo humano. Realizando análise de suas vísceras e bile, buscou indicações precoces da exposição das sardinhas a hidrocarbonetos antrópicos.

Principais resultados:

· Apresentação de resumo e painéis em um congresso científico nacional e em um congresso internacional

· Publicação de 3 artigos em revistas científicas (2 internacionais e 1 nacional), envolvendo desenvolvimentos metodológicos na análise de contaminantes orgânicos em biota, para avaliar o potencial de bioacumulação desses compostos para a sardinha-verdadeira, e para estimar o risco à saúde humana do consumo do pescado.

· Produção de material voltado para a divulgação científica junto à sociedade.

· A associação das informações geradas pelos dois projetos – Multisar e PetroSardinha – contribuiu para o uso sustentável dos recursos, ao avançar na compreensão dos fatores antrópicos sobre a qualidade e a saúde da sardinha-verdadeira e as potenciais interações da ação antrópica com fatores naturais e ecológicos, determinantes da dinâmica populacional dessa espécie.

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