SUBPROJETO:
subsídios à conservação

SUBPROJETO DEMOGRAFIA, SENSIBILIZAÇÃO E MONITORAMENTO PESQUEIRO DE TUBARÕES E RAIAS: SUBSÍDIOS À CONSERVAÇÃO

O Subprojeto Demografia, Sensibilização e Monitoramento Pesqueiro de Tubarões e Raias: Subsídios à Conservação, sob a responsabilidade da Associação Amigos do Museu Nacional (SAMN) em parceria com o Laboratório Biologia e Tecnologia da Pesca (BioTecPesca) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), teve início em 2021 e atua em todo litoral sudeste do país, com ênfase no Rio de Janeiro.

O objetivo principal do Subprojeto é incrementar o conhecimento de espécies ameaçadas, ou com dados deficientes, em uma área globalmente reconhecida como hotspot1 de conservação para elasmobrânquios e que, por sua vez, também é o centro da indústria pesqueira nacional. A proposta visa, como base geral, abordar três frentes de atuação: no monitoramento de pontos estratégicos do sudeste, com ênfase no litoral do Rio de Janeiro, para caracterizar as pescarias, levantar informações sobre esforço e níveis de captura de espécies, ecológica e economicamente importantes; na sensibilização, por meio de ações de educação ambiental, eventos de divulgação e visitas junto ao Espaço de Ciência do AquaRio, pretende orientar pescadores, estudantes e sociedade, em geral, acerca dos problemas dos elasmobrânquios e, na produção de conhecimento bio/ecológico, produzindo parâmetros da história de vida para espécies ameaçadas e com dados deficientes do litoral do Rio de Janeiro e adjacências, com foco especial na produção de curvas de crescimento e demografia das raias Rhinobatidae, Myliobatiformes e tubarões Carcharhiniformes

Por que fazer?

Os elasmobrânquios são um dos grupos mais evolutivamente distintos e funcionalmente diversos entre os vertebrados, tipicamente caracterizados por baixa produtividade, taxas de crescimento lentas e maturidade sexual tardia. Essas características de história de vida levam a alta vulnerabilidade para a maioria das espécies e capacidade limitada de recuperação após a sobrepesca.

De acordo com a IUCN2, estima-se que um terço dos elasmobrânquios estão atualmente ameaçados. Esse cenário também se reflete na avaliação nacional realizada pelo ICMBio3, com aproximadamente um terço das espécies em categorias de ameaça e outros 40% do total sem informações para que possam ser avaliadas. Estes resultados incluem os elasmobrânquios entre um dos grupos de vertebrados mais ameaçados. Embora a pesca dirigida e a perda de habitat tenham sido identificadas como principais causas de declínios populacionais, a mortalidade causada pelo by catch (ou captura incidental) em pescarias mistas dirigidas a outras espécies também traz preocupação. Nestas pescarias, outras espécies com taxas de produtividade mais altas continuam a sustentar a pesca, enquanto os elasmobrânquios tendem a colapsar. Portanto, a pesca é sem dúvida o principal fator externo que ameaça os elasmobrânquios.

Além disso, existe uma grande lacuna sobre os dados estatísticos pesqueiros nacionais nos últimos anos, em função da descontinuidade de programas de monitoramento e pesquisa, bem como a baixa qualidade das informações disponíveis para elasmobrânquios, que historicamente têm sido agrupados em grandes categorias (nomeados apenas como cação). Por fim, elasmobrânquios (especialmente tubarões) possuem uma imagem negativa frente à sociedade, o que acaba tornando as agendas de conservação para o grupo um pouco mais desafiadoras do que para outros grupos, a exemplo das tartarugas, aves e mamíferos marinhos.

Tubarões e raias geralmente ocupam níveis tróficos4 superiores, ocorrem em quantidades relativamente menores do que aqueles dos níveis inferiores e, portanto, cumprem importante papel ecológico no controle populacional e qualidade genética das presas. Essas características conferem às populações de tubarões e raias baixo potencial de reposição em caso de mortalidades ocorridas por causas não naturais. Numerosos estudos demonstram que elasmobrânquios podem suportar apenas níveis moderados de mortalidades excedentes, ocasionadas por fatores não naturais, destacadamente a sobrepesca, e que populações exploradas acima destes limiares tendem a declinar em curto tempo.

Neste sentido, dados de captura e esforço de pesca, ou seja, níveis de abundância da espécie, são fundamentais para a construção do conhecimento que subsidia políticas públicas visando a conservação e o manejo das espécies, como as avaliações de tendências populacionais.

A lacuna de conhecimento é ainda mais crítica no que se refere à pesca artesanal que atua na plataforma continental já que, sendo de pequena escala, tem como uma das suas características os dados de desembarque pulverizados ao longo da costa, em pontos que não necessitam de muita infraestrutura para a atracação dos barcos de pesca.

Como alternativa a esta ausência de informações, o uso de análises demográficas se tornou popular a partir da década 90, pois elas fornecem estimativas de taxas de crescimento populacional, tempos geracionais, taxa reprodutiva e distribuições por idade. Considerar esses efeitos nas pescarias é consenso entre os cientistas pesqueiros, uma vez que a pesca age como uma forte força seletiva, causando problemas em algumas classes de idade que desestabilizam os estoques explorados e aumentam o risco de colapso das populações. Tais métodos são menos dependentes de séries históricas e de estatística pesqueira, sendo amplamente utilizados por organizações como IUCN, pois utilizam dados sobre a história de vida das eventuais ameaças.

Dado estes níveis de ameaça, uma possível alternativa para a conservação dos tubarões e raias é atuar junto aos diversos públicos da cadeia produtiva da pesca marinha. No que se refere especialmente aos tubarões, sabe-se que as diferentes mídias influenciam na percepção do público em relação a esses animais. A informação, bem divulgada, é de importância estratégica.

A possibilidade de se usar um Espaço de Ciência diferenciado, como o Aquário Marinho do Rio de Janeiro (AquaRio) e sua equipe de educadores ambientais, como veículo de sensibilização sobre a conservação dos oceanos, com ênfase nos elasmobrânquios, é uma importante contribuição. Nesse contexto, busca-se a criação de uma cultura de conservação de tubarões e raias, baseada em informações sobre a importância desses animais para o meio ambiente e alertando o público visitante sobre os impactos provocados pelo consumo dessas espécies.

O Subprojeto contribui em múltiplas ações com o Plano de Ação Nacional dos Tubarões (PAN Tubarões5) em seis dos oito objetivos definidos, são eles:

· aperfeiçoamento do processo de gestão pesqueira para minimizar os impactos sobre os elasmobrânquios marinhos ameaçados de extinção no Brasil;

· ampliação da representatividade de áreas marinhas protegidas, em número e extensão, e sua implementação em ambientes críticos ao ciclo de vida dos elasmobrânquios marinhos ameaçados de extinção no Brasil;

· redução da captura incidental e da mortalidade pós-captura das espécies de elasmobrânquios ameaçadas de extinção nas diversas modalidades de pesca;

· sensibilização da sociedade acerca da importância dos elasmobrânquios e de sua conservação para a integridade dos ecossistemas marinhos;

· aprimoramento dos processos de monitoramento, controle e vigilância da captura incidental dos elasmobrânquios marinhos ameaçados de extinção e seus produtos;

· ampliação e integração do conhecimento sobre as populações de elasmobrânquios marinhos ameaçados de extinção no Brasil, seus ambientes e seus processos ecológicos.

O público interessado ou beneficiado pelo Subprojeto são os seguintes grupos: comunidade científica; estudantes de graduação e pós-graduação em biologia, oceanografia, engenharia de pesca e afins; estudantes de graduação e pós-graduação em pedagogia, didática, educação para a ciência, divulgação científica, jornalismo e afins; pescadores, pescadoras e demais atores dos segmentos da cadeia produtiva da pesca; gestores públicos e corpo funcional de unidades de conservação; gestores públicos e corpo funcional responsáveis pelo ordenamento pesqueiro brasileiro; gestores públicos e corpo funcional responsáveis pela preservação/conservação da biota brasileira; população em geral que consome raias e cações no Rio de Janeiro; Organizações Não Governamentais; profissionais de meios de comunicação em massa; usuários de redes sociais; representantes e lideranças da sociedade civil.

Como está sendo realizado?

Para alcançar os objetivos específicos6 do Subprojeto, diversas ações vêm sendo desenvolvidas, começando pela compilação de dados históricos de veículos de imprensa,

campeonatos de pesca-submarina e etnobiologia; realização do monitoramento do desembarque pesqueiro participativo; identificação e biometria dos tubarões e raias desembarcadas e a caracterização das embarcações, petrechos e áreas de pesca, buscando identificar possíveis impactos na conservação, provenientes da pesca, com ênfase nas espécies ameaçadas de extinção e categorizados como Deficientes de Dados (DD).

Estão sendo realizadas análises demográficas, a partir dos parâmetros de crescimento e estrutura etária quando disponível, utilizando cenários de exploração para determinação do risco de extinção e vulnerabilidade, com ênfase nas espécies ameaçadas de extinção e categorizadas como DD.

Outras atividades realizadas no Subprojeto são entrevistas com pescadores sobre as mudanças históricas nas capturas, na composição e tamanhos; mapeamento participativo das áreas de pesca onde se capturam os elasmobrânquios ameaçados e DD; o monitoramento do desembarque em cinco portos, no RJ, ES e SP; realização de devolutivas para o setor produtivo além de fotografia e coleta de exemplares testemunho.

Está prevista a análise de 26 espécies com dados insuficientes (DD) dentro das diferentes frentes trabalhadas no monitoramento, idade e crescimento, demográfico e microquímica, a saber: Rhizoprionodon porosus, Pseudobatos percellens, Psammobatis extenta, Aetobatus narinari, Benthobatis kreffti, Atlantoraja platana, Rhinoptera bonasus, Galeus mincaronei, Carcharhinus brachyurus, Carcharhinus brevipinna, Apristurus profundorum, Mustelus norrisi, Heptranchias perlo, Isurus paucus, Lamna nasus, Megachasma pelagios, Pseudocarcharias kamoharai, Psammobatis lentiginosa, Hypanus berthalutzae, Dasyatis hypostigma, Pteroplatytrygon violacea, Narcine brasiliensis, Amblyraja frerichsi, Dactylobatus clarkii, Rajella sadowski e Cirrhigaleus asper. Para estas espécies também serão utilizadas técnicas de microquímica para validar áreas e períodos críticos para a conservação.

Estão ocorrendo visitas ao circuito do AquaRio, mediadas por educadores que fazem a orientação dos visitantes, dentre os quais, pescadores e seus familiares, alunos de escolas públicas e a sociedade em geral. Nessas ocasiões, ressalta-se a importância ecossistêmica desses grupos, com o objetivo de estimular a redução da captura comercial e amadora, bem como do consumo. Incentiva-se a devolução ao mar das espécies ameaçadas de extinção, e busca-se desfazer a imagem negativa que parte da sociedade tem sobre os tubarões e as raias. São aplicados questionários, pré e pós visitação ao circuito do AquaRio, os quais são analisados pela equipe posteriormente.

Resultados esperados:

· Boletim de estatística de desembarque, mensal por porto, petrecho e espécie, no término do monitoramento;

· Guia fotográfico de identificação de campo de tubarões e raias;

· Planilha por espécie com distribuição de tamanho desembarcado;

· Cartilhas referentes a oito espécies de tubarões e raias, ameaçadas ou DD, distribuídas pelas redes sociais do BioTecPesca, AquaRio e colaboradores;

· Análise da eficiência das visitas mediadas ao AquaRio como estratégia para sensibilizar os visitantes quanto à importância da conservação dos elasmobrânquios e diminuição do medo em relação a eles;

· Artigos científicos sobre padrões de movimentação e distribuição de elasmobrânquios; áreas prioritárias; entre outros temas estudados;

· Produção de pesquisas de iniciação cientifica, mestrado e doutorado.

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