Turismo de base comunitária com foco no 3º encontro do projeto de educação ambiental

Créditos: Funbio

“Quando se fala em Paraty, as pessoas pensam no Centro Histórico e no passeio de escuna, mas agora estamos mostrando a parte mais linda de Paraty, que é no entorno, e isso estamos trazendo à tona com ajuda do Projeto”, conta Cauê Villela, Coordenador do Roteiro Integrado de Turismo de Base Comunitária na Península da Juatinga realizado pelo Instituto Amigos da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (IA-RBMA), em sua apresentação no 3º Encontro do Projeto Educação Ambiental. De 21 a 23 de maio, no Rio de Janeiro, cerca de 50 pessoas debateram um assunto em comum: a marca encerrando Turismo de Base Comunitária (TBC), que tem como objetivo fortalecer as atividades dos moradores, que prestam serviços para os visitantes, tais como: guia, passeios, venda de artesanato, hospedagem e alimentação, respeitando o meio ambiente e o cotidiano local.

Cauê ainda lembra da aposta que foi abraçar tantas comunidades: “O primeiro desafio foi conquistar, no nosso território, um olhar de dentro para fora e não de fora para dentro, queríamos que as ações partissem das comunidades, montamos o projeto junto com as 11 comunidades e um dos grandes desafios foi a ausência de formalidade jurídica para contratar serviços locais, barqueiro não emite nota, por exemplo. Mas, a formação profissionalizante de condutores ambientais deu muito certo, hoje as pessoas estão trabalhando e exercendo a função que antes não era possível”, comemora Cauê.  

Representantes do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO), da PRIO, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), da Câmara Técnica e das instituições apoiadas reuniram-se para conhecer os resultados, reflexões e conquistas de sete iniciativas de TBC do estado do Rio de Janeiro.  

A programação teve dinâmicas para estimular a troca de conhecimentos e experiências e apoiar a continuidade das ações em âmbito local e regional. Os representantes das sete iniciativas, que receberam recursos do Projeto Educação Ambiental, apresentaram os resultados dos 18 meses em que tiveram investimentos para trazer melhorias e novidades para suas cidades. Foram realizadas muitas trocas nos três dias de encontro, iniciando com retrospectiva, depois com as ações realizadas e, por fim, como os representantes pensam em manter o que já conquistaram e continuar o legado deixado nas regiões por onde os projetos passaram. Como por exemplo, a contribuição que ficará em Ilha Grande, será a emancipação das mulheres do Saco do Céu, quatro roteiros estruturados de turismo e um lindo livro sobre os mestres dos saberes, O projeto foi protagonizado por mulheres e o Saco do Céu é uma comunidade de pescadores e marisqueiras, tivemos um grupo de 25 mulheres ativas no projeto que fizeram a diferença. O desafio foi superar o machismo, nem sempre foi fácil, pois foi preciso combater o machismo de dentro de casa. Mas, esse desafio virou vitória, e ainda conquistamos quatro roteiros estruturados de turismo e vamos lançar o livro Narradores das Estrelas, que é um estudo de pesquisa que fizemos sobre o mapeamento dos mestres dos saberes, temos muito orgulho desta realização”, explica Amanda Hadama representante da iniciativa do Turismo de Base Comunitária Enseada das Estrelas e suas Raízes, da Associação dos Moradores e Pescadores da Enseada das Estrelas (AMPEE).

Créditos: Funbio
Créditos: Funbio

Juliana Coutinho, da inciativa da Floresta ao Mar: Saberes da Canoa Caiçara, do Instituto 5 Elementos, conta que um dos desafios do projeto foi gerir conflitos de quatro comunidades com pensamentos diferentes “Foi bem desafiador, até por estarmos lidando com seres humanos, mas essa troca de experiências entre as comunidades acabou sendo o diferencial, pois foi um desdobramento incrível, muito positivo, além da troca de ideias. Outro ponto forte foi conseguir valorizar os mestres locais e oficinas de turismo”, finaliza Juliana.  

Para Helan Nogueira, do subprojeto Pescatur – Turismo de Base Comunitária e Cidadania nos municípios e bairros costeiros da Baía de Guanabara, da Trama Ecológica, o Centro de informática, em Tubiacanga, na Ilha do Governador, e a permanência dos moradores da região foram dois pontos fortes da iniciativa. “Quando os jovens não encontram oportunidades em sua comunidade, eles vão para outras cidades tentar melhorar de vida, agora com as oficinas e as melhorias conquistadas em Magé, conseguimos manter muitos talentos aqui”. Já Milena Manhães, consultora da iniciativa   Pescando Tradições e Compartilhando Saberes, da Associação dos Pescadores Artesanais e Amigos da Praia de Pitória (APAAPP), em São Pedro da Aldeia,  acredita que a grande conquista do projeto é o reconhecimento e visibilidade para as comunidades, trazendo a relação de pertencimento aos moradores, além das oficinas  e o intercâmbio internacional realizados no local: “Recebemos 40 pescadores de cinco estados diferentes que vieram conhecer o nosso TBC e uma escola americana também veio conhecer o nosso projeto. E uma vivência em turismo da Confederação de Comércio de Cultura dos Países de Língua Portuguesa.” 

Trabalho de formiguinha foi o que Lucimara Cruz, da Atafona em Movimento, do Instituto Agroecologia e Meio Ambiente (IAMA), resumiu a trajetória do período em que incluiu as ações comunitárias em São João da Barra. “Fazer a divulgação do projeto pelas mídias sociais foi um dos desafios, a importância do marketing digital ajudou nas vendas em até 80%, então percebemos que precisávamos montar conteúdo, gravar vídeos para aumentar a divulgação do nosso projeto. Oportunidades como essa são únicas e nos ajudaram a enxergar onde podemos chegar”, afirma Lucimar.   

Eraldo Cunha, da iniciativa TBC é com a gente, da Associação da Reserva Extrativista do Arraial do Cabo (Aremac), finalizou sua experiência de forma bastante positiva: “Sou só um pescador que almeja criar possibilidades de crescimento para Arraial do Cabo, e conseguimos muitas vitórias como cinco novos roteiros inéditos narrando a real história da nossa região com guias capacitados”.  

Com o apoio dos recursos do Educação Ambiental, os projetos chegaram à fase final, mas seus resultados seguirão repercutindo em mais ações de capacitação, educação, cultura, turismo e em busca de novas legislações para os pescadores e moradores locais.  

A realização do Projeto Educação Ambiental é uma medida compensatória estabelecida pelo termo de Ajustamento de Conduta de responsabilidade da empresa PRIO, conduzido pelo Ministério Público Federal – MPF/RJ. 

 

 

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