O dia 23 de novembro foi um dia de celebração na Reserva Extrativista Marinha do Arraial do Cabo (ICMBio) com o recebimento das chaves da primeira sede própria, quase 30 anos após a sua criação. O evento foi organizado pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO), gestor do Projeto Apoio a UCs, por meio do qual o imóvel foi adquirido e doado ao órgão gestor.
A casa com quase 600 m2, que será reformada, contará com área para receber representantes do comitê gestor, das entidades de pesca locais e alojamento para os voluntários que desejam contribuir com a unidade. A partir de agora, apenas a embarcação utilizada na fiscalização está em Cabo Frio. Os demais veículos da reserva estão na sede, o que contribuirá para agilizar a atividade. Além da vantagem em relação ao tempo de deslocamento, a localização, a área abrigada da Marina dos Pescadores, permitirá o uso inclusive em dias de mar agitado.
“Houve muitas gestões até aqui e a Reserva nunca teve um espaço próprio, sempre contou com apoio de terceiros, de outras instituições e aluguel de espaços que serviam como base”, conta Leandro Goulart, desde 2022 gestor-chefe da unidade, que abrange área de 50 mil hectares, ou 50 mil campos de futebol.
A entrega das chaves é parte dos eventos relacionados à conservação no litoral fluminense promovidos pelo FUNBIO, em Arraial do Cabo, capital nacional do mergulho. No dia seguinte à inauguração da sede, representantes das 15 iniciativas apoiadas pelos Projetos Educação Ambiental e Pesquisa Marinha e Pesqueira estarão reunidos num encontro que objetiva promover interação e colaboração. As iniciativas apresentaram suas propostas, compartilharam os resultados alcançados até o momento, além de tecerem uma rede de colaboração que poderá apoiá-los em iniciativas futuras.
Os projetos são medidas compensatórias estabelecidas pelo Termo de Ajustamento de Conduta de responsabilidade da empresa PRIO, conduzido pelo Ministério Público Federal – MPF/RJ.
RESEX: Capítulo Sustentável da História de Arraial do Cabo
A criação da RESEX Marinha do Arraial do Cabo objetiva a promoção da sustentabilidade da pesca artesanal aliada à conservação. Além de impactar a vida de mais de 2.400 famílias de pescadores artesanais, marisqueiros e maricultores, ela gera renda por meio do turismo de base comunitária. Na área de pesquisa científica marinha e pesqueira, os dados oficiais da reserva já municiaram mais de 200 estudos relacionados à preservação da fauna e flora da região.
Rica em vida marinha, a região reúne um verdadeiro oásis coralíneo, tartarugas marinhas, baleias, golfinhos, tubarões e arraias e grande variedade de peixes recifais. Dentre as espécies em extinção em área de reserva está o budião-azul (ou peixe papagaio), peixe herbívoro responsável pelo controle de algas para que não sufoquem o crescimento dos corais. Localizada em zona de transição entre as zonas tropical e subtropical, a região é favorecida pelo fenômeno da ressurgência, que é o afloramento de águas frias ricas em nutrientes que resulta em níveis maiores de produtividade primária, contribuindo com a alta produção pesqueira.
A prioridade da Unidade de Conservação é o ordenamento pesqueiro. O principal desafio é a pesca industrial de arrasto.Em relação à fiscalização de atividade pesqueira ilegal, que também são realizadas em parceria com a Polícia Federal, IBAMA e Guarda Marítima de Arraial do Cabo, a reserva já capitaneou a apreensão de mais de 100 toneladas de peixes só em 2023. Também desde o início do ano, com acesso ao sistema de monitoramento de embarcação pesqueira pelo Programa Brasileiro de rastreamento de embarcações pesqueiras por satélite – PREPS, o número de embarcações na região da reserva em situação ilegal caiu 80%.