CONSERVAÇÃO
DA TONINHA

Desconhecida para a maioria das pessoas, a toninha, também chamada de boto-cachimbo, golfinho rio da prata ou franciscana, cujo nome científico é Pontoporia blainvillei, é um pequeno golfinho que ocorre, exclusivamente no Sul do Oceano Atlântico, em uma área que vai do norte da Patagônia, na Argentina, passando pelo Uruguai, até o litoral do Espírito Santo, no Brasil. Esse golfinho se caracteriza por ter um focinho alongado, cor marrom acinzentado e nadadeiras triangulares. De hábitos costeiros, a toninha é encontrada em profundidades de, no máximo, 50 metros. Durante o inverno, frequentam áreas mais profundas, mas no verão não vão além de 8 km de distância da costa.

A toninha se diferencia de outras espécies de golfinhos por ser a única que vive na água salgada e nos estuários dos oceanos – uma área rasa e abrigada da foz de um rio, onde a água doce se mistura com a salgada do mar. As toninhas, assim como outros organismos são adaptados à essas condições.

A toninha pesa em média 45kg, variando de 120 a 170cm, sendo os machos menores que as fêmeas. Vive em pequenos grupos, de até seis indivíduos, e têm um comportamento discreto, se movendo de forma muito suave e lenta – e pode ser difícil de se avistar, a menos que as condições do mar estejam muito calmas. Elas não saltam e pouco se movimentam ao longo do litoral, vivendo em áreas restritas, como desembocaduras de rios e estuários, onde buscam alimento, além de encontrar ali, proteção contra espécies predadoras, como orcas e tubarões. As toninhas têm baixa taxa de reprodução, isto é, geram poucos filhotes durante a vida, isso acontece por que a primeira reprodução ocorre apenas após a fêmea atingir cerca de três anos de idade, e a gestação leva em torno de 11 meses, podendo o período de amamentação durar até 9 meses. Cada fêmea tem apenas um filhote por vez, que nasce entre os meses de outubro a dezembro. Estima-se que as fêmeas vivam em torno de 21 anos, enquanto os machos vivem, em média, 15 anos. 

No dia 1º de outubro se comemora o dia nacional da toninha, a data foi criada com o objetivo de divulgar a existência desse pequeno golfinho, ainda tão pouco conhecido do público, e chamar atenção para a relevância de sua conservação para o equilíbrio ecológico dos ambientes marinhos que ela habita. 

O que é o projeto?

O Projeto Conservação da Toninha tem por objetivo apoiar pesquisas sobre a ecologia da toninha e sua interação com as atividades pesqueiras na costa brasileira. Pesquisas são desenvolvidas com foco nas áreas específicas do litoral brasileiro: FMA I (trechos entre o norte do Rio de Janeiro e parte do Espírito Santo), FMA II (estados de SP, PR e SC) e FMA III (do RS até o Uruguai), abrangendo toda a área de distribuição destes cetáceos no litoral brasileiro. Todas as iniciativas estão de acordo com as metas estabelecidas no Plano de Ação Nacional (PAN) da Toninha.

Por meio de observação e mapeamento aéreo da espécie na costa do Rio de Janeiro e Espírito Santo, região onde a espécie sofre maiores impactos, o Projeto Conservação da Toninha, constatou que, no Espírito Santo, há a menor estimativa de população de toninhas do país, são apenas 595 indivíduos, nessa região entre Santa Cruz e Conceição da Barra. No litoral norte do Rio de Janeiro, foram estimados 1.280 indivíduos, sendo a segunda menor população de toninhas do país.

Por que conservar a Toninha?

A toninha está classificada como uma espécie “Vulnerável”, isto é, em situação de risco, na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Mundial para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), a lista mais completa sobre o estado de conservação das espécies biológicas do planeta. Essa situação de vulnerabilidade da espécie ocorre devido aos inúmeros impactos ambientais, como a ingestão de plásticos, a poluição das águas por resíduos químicos, e a redução das espécies de peixes e crustáceos que ela utiliza para se alimentar, além da captura incidental em redes de pesca.

No Brasil, a toninha está incluída na Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção e, por esse motivo, ações para a sua conservação são urgentes, para evitar a diminuição da população da toninha em sua área de ocorrência no Brasil e, assim, garantir o futuro da espécie e a manutenção de processos ecológicos dos quais ela participa. Classificadas como predadores, ocupam um lugar importante na cadeia alimentar marinha, alimentando-se de espécies de peixes e crustáceos com valor econômico e nutritivo também para o consumo humano. E é justamente por se alimentar de espécies importantes para a pesca que ela acaba sendo capturada acidentalmente durante vários tipos de pescarias.

Mas se ela se alimenta de espécies que têm valor econômico para a pesca, será que ela concorre com os pescadores, diminuindo a quantidade de peixes disponíveis?

Não, ao contrário! Quando a toninha captura suas presas, ela contribui para o processo de seleção natural porque, de uma forma geral, os animais mais capturados por elas são aqueles mais fracos ou até mesmo doentes que, ao servirem como alimento, deixam de se reproduzir e de transmitir essas características frágeis ou doenças para gerações futuras. Assim, as espécies das quais as toninhas se alimentam, tendem a ficar mais fortes, gerando descendentes mais saudáveis e com maior potencial de se reproduzir. Dessa maneira, ao invés de diminuir a quantidade de presas ao se alimentar delas, as toninhas tendem a contribuir para o fortalecimento dessas espécies. Esse processo é fundamental para o equilíbrio da biodiversidade marinha.

O Projeto Conservação da Toninha contribui de forma integrada para a conservação da espécie, buscando gerar conhecimentos que colaborem com políticas públicas e ações que viabilizem a sua conservação, sem prejuízos à pesca artesanal. A ideia é estabelecer diálogos entre pesquisadores e pescadores para que, juntos, definam práticas de pesca sustentáveis em conjunto com estratégias de conservação da espécie.

Conheça alguns resultados do Projeto:

– Foram realizados encontros e seminários com a presença de pesquisadores que atuam em várias regiões do país, gestores de órgãos ambientais e pescadores para discutir os resultados das pesquisas e elaborar medidas visando a conservação das toninhas.

– Houve uma aproximação entre pesquisadores e pescadores em busca de soluções para evitar a mortalidade de toninhas durante as pescarias.

– Para realizar as pesquisas, foram feitos monitoramentos aéreos e de barco, análises laboratoriais, utilização de drones para captura de imagens, que resultaram em bancos de fotografias e em produção de diversos vídeos sobre a toninha.

– O Projeto contou com inúmeras ações de comunicação, como publicações científicas, reportagens em diferentes mídias e postagens em redes sociais, todas com o objetivo de divulgar a toninha e a importância da sua conservação para a biodiversidade marinha.

Foi descoberta uma população de toninhas desconhecida dos pesquisadores na Baia da Ilha Grande, RJ.

– As pesquisas demonstraram que a mortalidade das toninhas no Espírito Santo e no Rio de Janeiro está acima do sustentável, o que segue levando estas populações ao declínio.

– Confirmou-se que as áreas que oferecem maior risco para a toninha no Espírito Santo e no Rio de Janeiro coincidem com a região de maior ocorrência da espécie nesses dois estados.

– Criado o primeiro Museu virtual das Toninhas: https://museudastoninhas.com.br/ 

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