Subprojeto:
Mulheres Nativas Ativas na pesca 1

SUBPROJETO MULHERES ATIVAS: PESCA, BENEFICIAMENTO E VENDA DE PRODUTOS DA COOPERATIVA DE MULHERES NATIVAS

Este Subprojeto é uma iniciativa de apoio emergencial, no contexto da pandemia da Covid-19, desenvolvido pela Mulheres Nativas – Cooperativa de Mulheres Produtoras da Pesca Artesanal e de Plantas Nativas da Região dos Lagos – no período de fevereiro a agosto de 2021. Foi criado com o objetivo de gerar oportunidades de renda e capacitação, estruturando as atividades produtivas de pesca da Cooperativa de Arraial do Cabo/RJ, para a melhoria da qualidade de vida das cooperadas, profissionais e toda comunidade envolvida.

Para atingir seu principal objetivo, foi necessário gerar renda, fortalecer e ampliar a estrutura produtiva da Cooperativa, garantir para as cooperadas e profissionais da Cooperativa Mulheres Nativas infraestrutura sanitária adequada de trabalho frente à pandemia da Covid-19, estimular a profissionalização do negócio da pesca artesanal feminina em Arraial do Cabo e aperfeiçoar as ferramentas de gestão da Cooperativa.

Por que continuar o Subprojeto?

A Cooperativa de Mulheres Nativas é um espaço feminino de deliberação democrática e de economia solidária.

A falta de reconhecimento do trabalho desenvolvido pelas mulheres na pesca artesanal e a necessidade de complementação da renda familiar levaram estas mulheres a se associarem, criando a Cooperativa em 2014, com um grupo de quatro mulheres impulsionadas pelos aprendizados do projeto Mulheres Mil, do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), Polo Arraial do Cabo e do curso de Processamento de Pescado, da Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro (FIPERJ).

Desde então, as cooperadas têm na pesca e no beneficiamento do pescado suas principais atividades econômicas e de subsistência familiar. Atualmente, a Cooperativa conta com a adesão de 23 mulheres. Destas, aproximadamente 10 praticam a pesca em mar e as demais se dedicam ao processamento do pescado, para produção e comercialização de alimentos. A Cooperativa possui equipamentos suficientes para processamento de mais de 200 kg de pescado por semana.

O trabalho de valorização da cultura e do saber popular do grupo rendeu, em 2019, a premiação de uma receita tradicional da culinária dos pescadores e pescadoras de Arraial do Cabo, elaborado por uma das cooperadas, num concurso internacional, da campanha Mulheres com Direitos4 realizada pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (ONU).

A baixa do turismo na cidade, causada pela pandemia da Covid-19 e a vulnerabilidade de parte das cooperadas próximas à terceira idade aumentaram os desafios dessas mulheres ativas para se manterem. Sem possibilidade de pescar com segurança sanitária, a Cooperativa permaneceu fechada e as suas máquinas e equipamentos foram desligados por cerca de cinco meses, por falta de recursos.

Orientadas por princípios de cooperação e cooperativismo, as mulheres buscaram transformar a realidade por meio do engajamento na construção coletiva de um novo modo de vida, trabalho e convívio alternativos.

A autogestão está presente em suas ações e é constante a busca por estratégias e mecanismos financeiros, para a manutenção da Cooperativa, por meio de recursos oriundos de editais públicos.

Além das atividades específicas da linha de produção econômica, a Cooperativa Mulheres Nativas busca atuar nas redes de cooperação e desenvolver parcerias, no sentido de ampliar a participação feminina nos movimentos sociais, em instituições e conselhos, bem como atuar ativamente no controle social sobre os usos dos royalties, para fortalecer a organização social do segmento pesqueiro artesanal. Por isso, participam, ativamente, de espaços representativos e deliberativos5, além disso, a maioria das cooperadas está registrada na Colônia de Pescadores Z5 de Arraial do Cabo/RJ.

Todas essas práticas de participação capacitam e fortalecem os vínculos estabelecidos entre elas e com os atores externos, como colônia de pescadores, poder público, nos vários níveis, projetos de educação ambiental, universidades, consultorias, ONGs.

Além disso, a cidade tem o turismo como vetor econômico, porém conserva como atividade tradicional a pesca artesanal, praticada em sua maioria por homens, com várias técnicas dentre as quais se destaca a pesca de cerco6, atividade típica herdada da população indígena nativa, praticada até hoje na Praia Grande, Prainha e Praia do Pontal.

Em sua maioria, as mulheres da região só se dedicavam aos trabalhos domésticos, porém sempre cultivaram forte ligação com o mar e com a pesca, pois, para muitas famílias, esta é a atividade principal, responsável pela estruturação dos modos de vida e do trabalho predominantes no município. E a Cooperativa de Mulheres Nativas busca meios para consolidar o papel da mulher, enquanto pescadora em Arraial do Cabo e dar continuidade às ações da Cooperativa que estavam em andamento antes da pandemia.

Portanto, a realização do Subprojeto Mulheres Ativas: pesca, beneficiamento e venda de produtos da Cooperativa de Mulheres Nativas contribui para a geração de trabalho e renda, agregação de valor ao produto beneficiado proveniente do pescado, valorização e reconhecimento da atividade pesqueira feminina como uma atividade importante para a economia e a manutenção dos saberes locais.

Como foi realizado o Subprojeto?

Para fortalecer e ampliar a estrutura produtiva da Cooperativa, foi necessário intensificar as atividades de pesca, com o objetivo de comercializar, semanalmente, 18 kg de peixe beneficiado – desde a produção dos filés, até a preparação de conservas e pratos prontos. Também foi preciso criar material para divulgação dos produtos; realizar venda virtual e presencial na sede da Cooperativa; definir o valor e a forma de arrecadação das fontes de recursos, advindas da venda do pescado e dos produtos beneficiados; instituir o Fundo de Reserva e de Capital de Giro, bem como criar regras para o uso desses recursos e a sua administração.

Para garantir a infraestrutura sanitária adequada de prevenção à Covid-19, para a retomada do trabalho na Cooperativa, foi realizado planejamento com as seguintes metas: reorganização do espaço para abrigar o escritório e as três ilhas de beneficiamento; aquisição do Equipamento de Proteção Coletiva (EPC) e mudança espacial para garantir distanciamento social seguro, higienização pessoal e material, desinfecção do ambiente para o trabalho presencial de até 15 pessoas; aquisição de mesas, cadeiras e ventiladores; criação de áreas de acesso e avaliação de risco, gerando distâncias adequadas aos equipamentos e regras especificas para pesca; contratação de uma enfermeira para as atividades de testagem e acompanhamento da saúde das cooperadas; realização de testes da Covid 19; realização de treinamento virtual, visando a adoção, no trabalho, dos protocolos sanitários, a utilização do Equipamento de Proteção Individual (EPI) e do Equipamento de Proteção Coletivo (EPC), além de contratação de seguro de vida e trabalho para as cooperativadas.

Com o objetivo de estimular a profissionalização da pesca artesanal feminina foram tomadas as seguintes providências: definição, junto com as alunas, da metodologia dos momentos de capacitação; capacitação de cooperadas na gestão do negócio (Pesca, Beneficiamento, Vendas) e letramento digital, e ainda, oito encontros virtuais para elaborar a 1ª versão do Regimento Interno da Cooperativa.

Principais resultados

· Expansão das vendas do file de peixe in natura e de outros nove produtos: nugget de peixe, almôndegas de peixe, fishburguer, quibe de peixe, escondidinho de camarão, escondidinho de lula, lasanha de lula, lasanha de camarão, empada de camarão.

· Elaboração e fotografia do cardápio para apresentar e divulgar os 10 produtos.

· Criação de material de divulgação dos produtos da Cooperativa: cartões de visita, rótulo para identificação dos produtos, cartaz para o ponto de vendas e banner.

· Promoção de 47 ações de divulgação nas redes sociais.

· Montagem de duas estações de trabalho para beneficiamento do pescado.

· Criação de estoques para a comercialização dos produtos in natura e processados/pratos prontos.

· Montagem de um escritório e aquisição de bens como notebook, impressora, material de escritório, celular e impressora de nota digital.

· Produção de 679 pacotes de produtos de frutos do mar. Cada pacote com média de 500 gr. Uma média de 300 kg de produtos.

· Arrecadação de R$ 10.535,50 (bruto) e R$ 8.362,46 (líquido) de Capital de Giro, com a comercialização de 788 produtos gerados pela pesca e seu beneficiamento.

· Realização de treinamento para utilização dos EPI e EPC, onde as cooperadas ficaram cientes da necessidade do uso desses equipamentos, bem como da higienização pessoal e do ambiente de trabalho.

· Realização de um curso com nove aulas virtuais de letramento digital (Meet Dropbox, Google Drive + básico pacote Office-Excel). Quatro cooperadas concluíram o curso;

· Realização de trabalhos de gestão de negócio, executados pelas cooperadas como trainees, acompanhando as atividades executadas pelos profissionais da área de gestão. Elas foram orientadas quanto à criação e preenchimento de planilhas de controle (plano de ação, controle de pesca, do beneficiamento, das vendas e do financeiro).

· Elaboração, com a participação das cooperadas, de um Regimento Interno.

As perspectivas, a curto prazo, são: construção da sede – a doação do terreno pela prefeitura segue em tramite- e obtenção de meios, junto ao município, para que as escolas possam comprar os alimentos de frutos do mar, produzidos pela Cooperativa. O planejamento estratégico realizado durante o Subprojeto permitiu identificar quais os passos necessários para atingir essas duas metas.

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