SUBPROJETO:
TONINHAS DO ESPÍRITO SANTO

SUBPROJETO TONINHAS DO ESPÍRITO SANTO: HISTÓRIA NATURAL, ECOTOXICOLOGIA, GENÉTICA E ECOLOGIA TRÓFICA

Esse Subprojeto foi realizado por um consórcio de pesquisadores com longo histórico de atuação em pesquisa sobre a toninha na área da FMA I, mais especificamente na FMA Ia (Espírito Santo), reunindo profissionais de quatro instituições: Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Instituto Baleia Jubarte (IBJ) e Organização Consciência Ambiental (ORCA), sob a responsabilidade da Associação Cultural e de Pesquisa Noel Rosa, durante os quase quatros anos e meio de execução.

O PAN da Toninha reconheceu, entre outros aspectos, a desigualdade no conhecimento científico em relação à espécie em diferentes áreas da sua distribuição. Uma das áreas mais carentes em informação é a FMA I, uma das quatro áreas de manejo originalmente propostas para a espécie que abrange a costa do Espírito Santo e norte do Rio de Janeiro. Levando em consideração que a FMA I foi recentemente subdividida em FMA Ia (Espírito Santo) e FMA Ib (norte do Rio de Janeiro), com base em dados genéticos das toninhas, ficou evidente a escassez de informação sobre parâmetros populacionais da população de toninhas do Espírito Santo, em comparação às populações do norte do Rio de Janeiro e das FMAs II, III e IV.

Buscando preencher esta lacuna do conhecimento científico sobre a toninha no limite norte da sua distribuição, o estado do Espírito Santo, o Subprojeto buscou aumentar o conhecimento sobre parâmetros biológicos da espécie no estado, levando em conta o desenvolvimento de sete ações recomendadas no PAN da Toninha, por meio de análises ecotoxicológicas, genéticas, de ecologia trófica e de história natural.

A variabilidade genética, em si, é informação importante para a conservação porque ela é a matéria prima da seleção natural. Níveis moderados a elevados de variabilidade, geralmente, conferem maior probabilidade de persistência de uma população a médio e longo prazos. Em espécies ameaçadas, as populações foram reduzidas, tornando-se mais isoladas, o que contribui para a perda de variabilidade genética por deriva.

Além disso, o Subprojeto realizou a comparação dos níveis de poluentes em tecidos de toninha na região da Foz do Rio Doce ao longo da última década e buscou esclarecer o grau de diferenciação genética das toninhas do ES, em relação às toninhas da Região Sul do país (FMAs II a IV), visando reconhecer uma nova subespécie na região estudada. Para isso, foram analisadas amostras disponíveis nos bancos de tecido das instituições parceiras, além de novas amostras obtidas de toninhas encalhadas ou capturadas incidentalmente durante a pesquisa, coletados pelas instituições parceiras do Espírito Santo.

Como foi realizada a pesquisa?

· Coleta de informações sobre a idade de maturação da espécie na FMA Ia e a estrutura etária e sexual da parcela desta população capturada acidentalmente.

· Pesquisa sobre a existência de estruturação populacional genética em microescala geográfica na FMA I15, assim como os níveis de variabilidade genética dentro e entre populações e seus tamanhos populacionais efetivos.

· Levantamento de dados sobre a ecologia trófica da toninha, a partir da análise de isótopos estáveis 16 e sobre a magnitude das concentrações de poluentes mais frequentes na região, em tecidos e presas das toninhas.

· Análises realizadas em dois grupos de amostras de toninhas do Espírito Santo: a) amostras coletadas até 2015, ainda não analisadas e mantidas nos bancos de tecido das instituições (UERJ, UFES, IBJ e ORCA); b) amostras coletadas entre 2016 e 2018, pelas instituições parceiras que atuam no recolhimento de carcaças no Espírito Santo (IBJ, ORCA e UFES), e também amostras coletadas de carcaças recolhidas durante o monitoramento de praias, sob a responsabilidade do Instituto Baleia Jubarte (IBJ).

· Comparação dos dados de idade com os dados de determinação do estágio reprodutivo, obtidos pela análise das gônadas, para estimar a idade de primeira maturação das toninhas.

· Determinação dos níveis de contaminação das toninhas do Espírito Santo, oportunidade única de comparação dos níveis de contaminação na foz do Rio Doce ao longo do tempo, já que o projeto dispôs de uma série temporal longa.

· Determinação da dieta e das relações tróficas da toninha no Espírito Santo para auxiliar na determinação do fluxo de contaminantes ao longo da cadeia trófica, uma vez que a principal via de entrada de contaminantes em cetáceos é pela ingestão de presas, que acumulam os contaminantes ao longo da cadeia trófica. Por isso, neste Subprojeto, foram determinadas as concentrações de poluentes não só nas toninhas, mas em em suas presas preferenciais.

· Realização de estudo das relações tróficas associados às análises ecotoxicológicas de organismos marinhos para revelar informações importantes sobre a qualidade dos ecossistemas marinhos, assim como contribuir para a compreensão dos processos de bioacumulação e biomagnificação de micropoluentes.

· Aprofundamento do estudo da grande diferenciação genética entre as FMAs Ia e Ib e as demais (II, III e V) para esclarecer se esta divergência evolutiva, examinada com marcadores genéticos apropriados e contraposta a outras formas de evidência (morfológica, ecológica, de história de vida) justifica uma proposta de reconhecimento de uma nova subespécie na porção norte da distribuição.

Principais resultados

Apesar dos resultados revelarem uma diversidade genética maior do que a descrita anteriormente para o ES, as diversidades continuam sendo as mais baixas já relatadas para a espécie em toda a sua distribuição ao longo da costa. Portanto, não foi possível detectar uma estruturação populacional com esse conjunto de dados, o que impediu concluir se há ocorrência de diferenciação populacional em microescala na região.

Ampliando os conhecimentos sobre a toninha

Entre os meses de maio e outubro de 2021, a Associação Cultural e de Pesquisa Noel Rosa/ MAQUA-UERJ realizou o Subprojeto Toninhas da Baía da Ilha Grande, RJ: conhecendo e preservando o golfinho mais ameaçado do Brasil, com o objetivo de fazer um levantamento de dados sobre a ecologia e as ameaças sofridas pela toninha naquela região. É um Subprojeto que aconteceu como desdobramento do Subprojeto Toninhas do Espírito Santo, permitindo que mais pesquisas fossem realizadas, agora, em uma nova região.

As pesquisas realizadas na Baía da Ilha Grande forneceram importantes informações sobre os grupos de toninhas que ocorrem na região, contribuindo para a identificação de características ecológicas da espécie, como sua distribuição e o uso do habitat, buscando compreender a relação entre a presença da espécie e as características ambientais ali encontradas.

Mas por que na Ilha Grande, se a pesquisa era sobre as toninhas do Espírito Santo?

Porque, em 2002 o MAQUA-UERJ publicou um artigo, indicando a presença das toninhas em uma área onde se acreditava que ela não ocorria, a Baía da Ilha Grande, no sul do Rio de Janeiro. Em 2017, uma série de encalhes desses golfinhos, naquela região, resultou na intensificação do monitoramento do MAQUA, ampliando os esforços de pesquisa sobre a espécie na baía. Esse fato justificou que o Laboratório solicitasse e recebesse apoio do Projeto Conservação das Toninhas21, do TAC Frade, para dar continuidade a esse monitoramento na Ilha Grande, uma vez que se tratava da mesma espécie já estudada por eles no Espirito Santo.

Como foi realizada a pesquisa?

Para realizar a pesquisa, foram utilizadas embarcações motorizadas, que percorriam as regiões da Baía da Ilha Grande em diferentes períodos do dia. Também foram realizados sobrevoos com drones, em pontos pré-selecionados nas praias de Mambucaba e Tarituba, localizadas no município de Paraty-RJ, na Baía da Ilha Grande.

Quando encontravam as toninhas durante as expedições, os pesquisadores coletavam dados sobre sua posição geográfica, profundidade, tamanho de grupo e comportamento, com o objetivo de fazer o registro da espécie. Realizavam também foto-identificação, isto é, faziam fotografias, para registrar as marcas naturais que existem nas nadadeiras dorsais dos golfinhos, permitindo, desse modo, a sua identificação individual.

Durante seis meses de monitoramento por barcos, os pesquisadores percorreram um total de 1.436 km, mas só encontraram toninhas durante nove dias e apenas na região de Mambucaba, onde as águas alcançavam entre onze e treze metros de profundidade.

As principais atividades registradas, ao longo das saídas de barco, sobre o comportamento dos golfinhos, estão relacionadas ao seu deslocamento e à sua alimentação. Gravações acústicas

subaquáticas foram feitas e analisadas em laboratório, com o objetivo de registrar e identificar emissões sonoras das toninhas.

Também na região de Mambucaba, foram realizadas observações das toninhas utilizando drones. Grupos com 6 a 15 indivíduos foram registrados, sendo constatada a presença de filhotes em duas ocasiões. Além disso, foram identificadas como atividades comportamentais principais o deslocamento, a socialização e a alimentação dos golfinhos.

Houve ainda levantamento junto a educadores, que atuam desde a alfabetização até o ensino médio em trinta e quatro escolas públicas no entorno da Baía da Ilha Grande, com o objetivo de levantar as curiosidades sobre a toninha e orientar sobre a importância de sua conservação.

Outra atividade realizada, tanto pelas equipes embarcadas como pelos drones, foi o registro fotográfico das toninhas na Baía da Ilha Grande, com o objetivo de gerar material fotográfico para divulgação e familiarização da sociedade com essa espécie de golfinho tão ameaçada.

O Museu das Toninhas foi desenvolvido pela equipe do MAQUA-UERJ em parceria com as produtoras de criação de vídeos e realidades virtuais Tundra Studies e Vround. Outras instituições, também participaram e seus pesquisadores contribuíram com o conhecimento adquirido, ao longo de muitos anos, trabalhando com a espécie. Tal contribuição foi registrada em vídeos, que se encontram nas salas do Museu.

A realização do Museu das Toninhas aconteceu de forma totalmente virtual e superou as expectativas, alcançando um grande número de pessoas, entre as quais educadores das escolas públicas, seguidores das redes sociais, incluindo pessoas de diversos setores da sociedade.

O Museu foi lançado em um evento virtual, em formato de live, realizada nas redes sociais do MAQUA-UERJ, possibilitando que todos que acompanham o laboratório e as instituições parceiras, tivessem a oportunidade de conhecer essa espécie e se sensibilizar com os problemas que a toninha enfrenta em seu ambiente natural.

Principais resultados

Por meio da pesquisa e do monitoramento realizados, foi possível confirmar a presença da população de toninhas na Baía da Ilha Grande, e obter informações sobre o tamanho dos grupos, emissões sonoras, locais preferenciais de uso, entre outras.

As observações em barcos e o monitoramento de sobrevoos através de drones foram muito importantes para o aprofundamento dos conhecimentos sobre a população de toninhas da Baía

da Ilha Grande, bem como para a obtenção do material utilizado no desenvolvimento do Museu das Toninhas.

Os resultados do Subprojeto demonstraram que as toninhas ocorrem com frequência na região de Mambucaba, com registros da sua presença no outono, inverno e primavera. Esse é o primeiro trabalho que fez um registro consecutivo nessa região, constatando a presença de grupos com filhotes e a atividade de alimentação, que são indicativos de que a Baía da Ilha Grande é um habitat importante para essa espécie ameaçada de extinção.

Durante todos os dias analisados, entre os meses de junho e novembro de 2021, houve uma ocorrência expressiva de toninhas em torno da ilha de Araraquara e também na região da Ponta da Joatinga. Nesses dois locais, as gravações acústicas subaquáticas indicaram a presença desses golfinhos ao longo de dias seguidos, com um total de 38.118 detecções identificadas como sendo emissões sonoras de toninha. Essa área fica próxima à Mambucaba e já apresentou encalhes de toninhas em anos anteriores, de modo que essas constatações confirmam a presença recorrente dessa espécie naquela região.

Além da criação de produtos virtuais e da estratégia de marketing digital em redes sociais, com destaque para o Museu das Toninhas e para a home-page, foram elaborados materiais impressos, toninhas em feltro, óculos de realidade virtual e camisetas para distribuição e divulgação da toninha.

No levantamento realizado junto aos educadores das escolas públicas, surgiram várias perguntas sobre, por exemplo, os aspectos da biologia da toninha como alimentação, o ambiente em que ela vive, se existiam toninhas na região em que eles moram, entre outras. Todas as respostas foram abordadas no conteúdo do Museu das Toninhas e o contato com os educadores foi retomado no lançamento do museu.

Que desdobramentos e recomendações o Subprojeto apresentou?

Os dados obtidos durante a pesquisa, incluindo os mapas de sensibilidade ambiental, além de contribuírem para o entendimento das espécies de cetáceos que ocorrem na região estudada, podem subsidiar, tecnicamente, os órgãos responsáveis pela conservação da toninha e da biodiversidade marinha daquela região. Podem, também, fornecer informações para a elaboração de monografias de conclusão de cursos, mestrados e doutorados, enriquecendo a formação em cursos de graduação e programas de pós-graduação.

Outros estudos, mais longos e detalhados, são necessários para investigar como a área das toninhas na Baía da Ilha Grande é usada pela espécie. Por isso, o monitoramento contínuo desta população é muito importante para se conhecer, cada vez mais, as suas características ecológicas e, consequentemente, criar informação para auxiliar na conservação da toninha.

Espera-se, também, que o Museu das Toninhas possa ser utilizado como ferramenta para divulgação da espécie em escolas, palestras, redes sociais e em qualquer meio que promova a troca de conhecimentos com a sociedade, uma vez que ele estará disponível, para acesso, de forma permanente.

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